quarta-feira, 2 de julho de 2008
A terra e as suas gentes
Gosto da cidade de Vila Franca de Xira por ser a mais cosmopolita das cidades ribatejanas. Um dia da passada semana almocei, sozinho, no restaurante do senhor Pedro Miguel Gil e esqueci-me durante quase duas horas que vivia um dia normal de trabalho. Comi que nem um lorde e associei-me, em espírito, a um grupo de franceses que comiam e bebiam perto de mim como se estivessem sentados à mesa do rei. No final da refeição ainda roubei alguns desabafos de vida ao senhor Pedro Miguel Gil que, goste-se ou não da sua personalidade, é uma figura que com o seu trabalho e dedicação à Residencial Flora vale por muitos coletes encarnados.
Há muito tempo que não comia gamboa assada à sobremesa. Se bem me lembro foi na outra reencarnação. Gosto de gozar comigo próprio nestas alturas em que percebo que há mais mundo que os habituais dez metros quadrados da minha sala de trabalho onde passo as melhores horas do dia.
Meia hora depois de perceber como estamos todos guardados para o mesmo, nas palavras com setenta e cinco anos de idade do chefe Pedro Miguel Gil, estava a falar com o senhor Bernardes, da Predial – Xira, outra figura da cidade que tem sempre uma história para contar, um conselho para dar, uma sugestão para uma reportagem, um elogio para os jornalistas da redacção de O MIRANTE. Mais meia hora de conversa a ouvir a voz da experiência e do trabalho e estava tudo explicado: estes homens pertencem a outro mundo; quando morrerem também vão para debaixo dos torrões os usos e os bons costumes de uma geração que vai deixar saudades.
A cidade, às quatro e meia da tarde de um dia de Junho, não dorme a sesta nem se esconde à sombra dos toldos das lojas. Fervilha de gente e, para mim, que deixo sempre o carro estacionado à entrada da cidade, nem as filas de automóveis me prejudicam a visão de uma terra que marca a diferença a poucos quilómetros de Lisboa com uma qualidade de vida que eu gosto.
Desta vez fui acabar a digestão do almoço sentando-me numa esplanada na Praça Afonso de Albuquerque, também para ver cair a tarde à sombra do pelourinho. Mas a cidade tem muitos cafés e esplanadas onde marca a diferença em relação a outras cidades da região.
Esta semana a cidade de Vila Franca vive a festa do Colete Encarnado. Vou passar por lá como faço todos os anos para respirar o ambiente e sentir-me mais perto das raízes. Sei que a festa divide muita gente e cria rivalidades. Tenho a grande vantagem de não morar no concelho e de poder sentir sem ponta de ciúme o orgulho de ser ribatejano, na Chamusca, Azambuja, Benavente ou Vila Franca de Xira.
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