quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Ter a fama e o proveito

Há pessoas que não me conhecem e falam de mim como se fossem íntimas mandando recados que me fazem sorrir. Há outras que reencontro por aí e, muitas vezes, não dou a atenção que merecem porque tenho o arroz ao lume ou estou cansado para mais do que dois dedos de conversa. Precisava do dobro do tempo para fazer tudo o que gosto e me dá prazer no exercício da profissão. Escrever crónicas é fácil. Ir para a rua em reportagem e desencantar boas histórias é que não é para todos. E eu sou daqueles que começa a ter o cu pesado e falta de paciência. Tirar uma entrevista do gravador é castigo maior que comer cebola cozida; chegar a casa às nove da noite e fazer serão a cavar com a mesma enxada é castigo maior que dor de dentes.
Os casos de tribunal já não me tiram o sono. Habituei-me a ser presa fácil dos políticos que se servem dos tribunais para amedrontarem. Recentemente fui condenado em tribunal pela primeira vez; senti-me tão injustiçado que foi com orgulho que vi o meu nome escarrapachado nos jornais. A justiça já não me assusta tanto; a classe política já não me desilude; o país italianizou-se, como eu, aliás, sempre previ, e daqui para a frente vai ser ainda pior. Quem anda nesta vida ou tem coração ou o melhor é arrumar as botas.
Temos a fama e o proveito de editarmos  um jornal que figura entre os dez maiores de circulação nacional. Montámos uma máquina para vinte e três concelhos que nos dá mais visibilidade que os outros jornais conseguem com a sua presença em todo o território nacional. O governo boicotou; nós demos a volta por cima; a crise fez diminuir o investimento publicitário: nós abrimos o passo e estamos a cumprir os objectivos.
Dificilmente resistiremos a um acto terrorista da justiça ou de algum político influente que aposte tudo na nossa insolvência. Por sabermos que o sistema apodreceu não podemos ser ingénuos.
Como sempre, e até que haja mundo, o que não nos mata deixa-nos mais fortes. JAE

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Manuel Subtil

Na sexta-feira andei pelas ruas de Tomar de charrete ao lado do presidente da câmara, Carlos Carrão. Conheci o Senhor Vítor Rodrigues, que era o condutor da charrete e um dos empresários que vai desenvolver o negócio, e tomei boa nota da doença que atingiu um jornalista que vive e trabalha em Tomar chamado Manuel Subtil.
Conheci-o há cerca de 20 anos. Há duas ou três situações em que trabalhei ao seu lado que me deram boas indicações sobre o homem tanto quanto sobre o profissional. Sempre que o vejo a trabalhar digo para comigo: este tipo podia trabalhar no nosso jornal. Já não há muita gente que vista assim a camisola. Entretanto soube que tinha adoecido. Na sexta-feira, quando cheguei ao portão da Mata dos Sete Montes, estava ele a começar o seu trabalho. Foi o primeiro a disparar a máquina para registar o acontecimento. Só mais tarde chegaram os homens do gabinete de comunicação da câmara e das rádios locais.
A situação do “Cidade de Tomar”, para o qual trabalha, não é a melhor financeiramente. Segundo consta a empresa editora está em lay-off. Mas o Manuel Subtil não liga a isso. Mesmo diminuído, por causa do problema de saúde, diz com um sorriso que parar é morrer e que o trabalho limpa a alma. Nesse dia a esposa estava por perto. Enquanto ele trabalhava conversamos um pouco sobre a maldita doença que o escolheu. Parece que não é daquelas que se consegue atrasar com medicamentos. Mas não adiantamos muito mais. O Subtil estava ali por perto a trabalhar e mesmo diminuído fisicamente saltava de um lado para o outro. Não ia acompanhar-nos na viagem de charrete pela cidade mas decerto que ia continuar a trabalhar nessa manhã noutros assuntos da agenda.
 Se há pessoas boas no mundo uma delas é o Manuel Subtil. Não é preciso ser seu amigo para gostar dele; ouvi-o centenas de vezes contar os saltos que dava para poder trabalhar, de noite e de dia, para o jornal e para a rádio; para se multiplicar e poder estar em vários lugares ao mesmo tempo.  Manuel Subtil é o verdadeiro jornalista repórter que todos gostávamos de ter na nossa equipa. JAE

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

A prostituição e a política

O concelho de Vila Franca de Xira é entre todos os que conheço o que tem mais publicidade selvagem por metro quadrado. É uma situação lamentável que piora em ano de eleições com os candidatos e os partidos políticos a contribuírem para um tipo de poluição terceiro mundista que não só agride o cidadão como se presta a negócios pouco claros, para além de ser factor de risco no trânsito que nunca é contabilizado e põe em perigo vidas e bens.
A poucos dias das eleições autárquicas vale a pena recordar que a Comissão Nacional de Eleições (CNE ) proíbe desde 25 de Junho, “propaganda política feita directa ou indirectamente através dos meios de publicidade comercial em jornais ou outros meios de comunicação social, conforme resulta do disposto no artigo 46.º da Lei Orgânica nº 1/2001, de 14 de Agosto”. Diz a lei que “o legislador teve em vista impedir que através da compra de espaços ou serviços por parte das forças políticas se viesse a introduzir um factor de desigualdade entre elas, derivado das suas disponibilidades financeiras”.
Como é fácil observar esta limitação não contempla a publicidade exterior, a publicidade entregue por correio, ou de mão em mão, ou a depositada directamente na caixa do correio, ou debaixo da porta, ou gritada através de aparelhagem sonora em carros próprios ou alugados. Vale tudo para fazer chegar a mensagem política; menos publicidade em jornais e televisões.
O mundo mudou nos últimos anos, mudou radicalmente em certos aspectos; neste continua velho como nos tempos da outra Senhora.
Desde 2005 que O MIRANTE não faz a cobertura do período oficial de campanha eleitoral por considerarmos que a legislação nos obriga a cumprir directivas de 1975 que tornam impossível o nosso trabalho. Assim vamos continuar até que os políticos resolvam o problema. Com legislação tão apertada ficamos admirados como as televisões e os jornais de divulgação nacional conseguem cumprir a lei. De verdade quem tem a obrigação de fiscalizar faz como no caso da prostituição; é proibida a prática da prostituição em Portugal mas todos os dias se publicam páginas inteiras de anúncios a oferecer trabalho nesta área. E toda a gente fecha os olhos. Ora aqui está uma boa associação entre a actividade política e outros trabalhos também considerados de grande utilidade para a democracia.
Nota: a realidade da publicidade selvagem no concelho de Vila Franca de Xira serviu para a introdução do tema principal deste texto. Não me cansarei de alertar para este negócio que considero “sujo” e que suja as ruas e as estradas da nossa vida.
JAE