quinta-feira, 27 de julho de 2023

“Estácio de Sá, o herói desconhecido” vai ser título de uma biografia editada por O MIRANTE

Estácio de Sá, o escalabitano que fundou a cidade do Rio de Janeiro, vai ter uma biografia editada por O MIRANTE, que deverá ser uma boa razão para falarmos da relação entre Brasil e Portugal, incluindo Santarém e a figura de Pedro Alvares Cabral, o descobridor do Brasil que está sepultado na Igreja da Graça.

Tenho uma história para contar da minha primeira viagem a Nova York; o meu medo de não me entender com os americanos foi perdido quando percebi que em NY porta sim, porta sim, ou se falava português ou espanhol. O que mais encontrei foram brasileiros.

Estou com um livro em mãos que é uma biografia de Estácio de Sá, o fundador da cidade do Rio de Janeiro. A minha amiga Beth, que está a organizar uma parte do lançamento do livro, já leu o texto duas vezes, e fez os comentários esperados de quem sabe, pela experiência e vivência, de que forma o Brasil, neste terceiro mandato de Lula da Silva, está a tentar fazer vingar mais uma pequena revolução. Transcrevo uma parte da última missiva da minha amiga: “A figura do colonizador como herói, proposta pelo livro, não se adequa a nova orientação historiográfica. Embora seja legítimo o reconhecimento da importância das grandes navegações que a partir do século 16 mudaram o mapa do mundo, é legítimo também reconhecer a voz dos invadidos e explorados, indígenas e negros, no caso do Brasil. Acredito que um seminário sobre o tema com as interpretações e depoimentos de representantes portugueses, indígenas e afro-brasileiros, seja uma oportunidade para avançarmos e atualizarmos os entendimentos sobre a história oficial da fundação da cidade e o papel de Estácio de Sá nas batalhas pela ocupação do espaço (:) Enfim, acho que temos uma boa oportunidade de discussão tanto aqui, como em Portugal. Vivemos um bom momento para reinterpretações históricas”.

No dia em que recebi este e-mail marquei uma reunião no Porto com um professor universitário, especialista na Obra do poeta brasileiro Gregório de Matos, um poeta seiscentista, talvez o mais maldito da poesia em língua portuguesa, que viveu em Portugal, onde fez a sua formação e ainda trabalhou como juiz. O objectivo é contribuir para a publicação em Portugal de uma biografia do poeta, do qual também sou leitor e admirador quase fanático. No entanto, reconhece o meu interlocutor, com quem me vou reunir já depois da publicação desta crónica, a edição do seu trabalho, que é considerado a primeira edição critica do autor seiscentista, “jamais vai encontrar muitos leitores dos dois lados do Atlântico, porque se trata de um autor quase desconhecido, e o barroco continua a ser um período literário marginalizado” (Gregório de Matos nasceu em 1636 e morreu em 1696).
Depois de me familiarizar com a história de vida e da obra poética de Gregório de Matos, já lá vão uns bons anos, o Brasil para mim deixou de ter segredos, e a possibilidade de ajudar nas “reinterpretações históricas” vai ser certamente tão desafiante como mergulhar nas praias do Nordeste ou do Rio Grande do Sul no período de Verão.
Quero convidar os leitores desta coluna a associarem-se ao evento que será o lançamento da biografia de Estácio de Sá, o fundador do Rio de Janeiro, e já agora a darem uma vista de olhos aos poemas de Gregório de Matos que andam por aí nas páginas da Internet. Daqui a um tempo, espero que não seja muito, talvez “A Musa Praguejadora”, a sua biografia romanceada da autoria da grande e reconhecida escritora Ana Miranda, apareça em livro numa livraria perto de si.

Comecei e acabo com NY porque a última vez que lá estive levava dois filhos atrelados que se recusaram a ir comigo visitar o MoMA. De verdade estávamos com bilhete marcado para Orlando, e era lá que as diversões nos esperavam. Mas ter ido a NY e não ter visitado o MoMA ainda hoje é motivo de conversa, porque o tempo vai passando e os gostos e as opções também vão mudando. Não há muito tempo acreditava que ia viver o resto da vida numa cidade do Rio Grande do Sul onde parece que o mundo começa e acaba; hoje tenho mais dúvidas; as ilhas dos Açores, por exemplo, ficam a uma hora de viagem de Lisboa e as temperaturas durante o Inverno podem considerar-se bastante boas. JAE  

quinta-feira, 20 de julho de 2023

Os jornalistas e os patrões dos jornalistas

Quando a imprensa tinha poder viajei, conheci e fiz amizade com pessoas que me abriram os olhos; soube que se temos uma caneta para escrever e trabalhamos num meio com visibilidade todos nos respeitam; se só temos a caneta para escrever e não temos onde publicar regularmente, e possamos ser lidos, é como se não existíssemos na profissão.


O jornalismo é actualmente uma actividade em extinção acelerada e a culpa é da revolução que as redes sociais impuseram e da facilidade com que os oportunistas usam a ferramenta para fazerem filhos em mulheres alheias. Explico melhor: hoje posso ler todos os dias os principais jornais do mundo sem gastar um cêntimo e directamente do meu telemóvel. Tenho amigos que me fazem tremer de emoção quando passo um dia em que não abro o El País ou a Folha de São Paulo ou o Liberation, ou os jornais portugueses, sem excepção, porque tudo o que se passa à minha volta me interessa.

Não perco tempo nas redes sociais a ler aquilo que sei que faz as delícias da maioria, e por isso estou protegido contra as notícias falsas e o jornalismo como caixa de ressonância de interesses criminosos ou antidemocráticos.

Nada me livra, no entanto, da leitura de textos desinteressantes e pobres de conteúdo. É disso mesmo que quero escrever aqui. Os jornais perderam fontes de financiamento, e sem publicidade não há independência editorial. Os jornais comprados por grupos económicos que vivem de actividades que dependem de favorecimentos governamentais, jamais serão capazes de seguir uma linha editorial que escrutine sem olhar a nomes e a siglas.

Tudo o que se sabe sobre negócios e comunicação social já foi escrito e filmado. Desde que me fiz jornalista, há 35 anos, que sei tudo isto, que entretanto acumulei com a experiência de cidadão atento e participativo.

Quando a imprensa tinha poder viajei, conheci e fiz amizade com pessoas que me abriram os olhos; percebi a importância de delegar responsabilidades, mas nunca perder o norte; soube que se temos uma caneta para escrever e trabalhamos num meio com visibilidade, todos nos respeitam; se só temos a caneta para escrever e não temos onde publicar regularmente, e possamos ser lidos, é como se não existíssemos na profissão.

Claro que esta realidade não é só no meio editorial; mas nesta profissão a realidade é mais cruel. Se o jornalista não tem leitores não consegue provar a utilidade do seu trabalho, logo deixa de ser preciso na empresa que lhe dá emprego. Se a empresa editorial não tem força para facturar em razão da sua importância no mercado, e vive dos favores do dinheiro fácil de outras empresas, o jornal vai à falência, a missão de escrutinar o poder deixa de ser importante, o cidadão percebe, ou não, que a melhor cidadania começa num artigo de jornal e acaba numa discussão no bar da colectividade, ou numa roda de amigos, ou em qualquer outro fórum a que esteja associado.

Os patrões da comunicação social em Portugal desapareceram de cena. Os congressos dos jornalistas e dos patrões dos jornalistas passaram à história. Os meus anos de aprendizagem ainda não acabaram, mas posso escrever com toda a certeza que já não vai ser no meu tempo que os jornais recuperam a sua importância, e as televisões percebem que não vale tudo para atrair audiências. Certamente que a coisa ainda vai piorar para depois voltar outra vez aos tempos da boa aventurança. Nessa altura já cá não estarei, assim como a maioria dos homens da minha geração, mas deixaremos o nosso trabalho, o nosso exemplo, e também as asneiras que cometemos que vão servir de exemplo para quem sabe que, na vida, as lições nunca são perfeitas, há sempre coisas que temos de aprender à nossa custa. JAE.

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Lisboa está a 11 horas de comboio de Madrid e os políticos continuam a assobiar

É mais fácil Salazar ressuscitar do que fecharem o aeroporto Humberto Delgado. Todas as soluções para o novo aeroporto que defendem, a médio ou a longo prazo, o fecho da Portela, são formas encapotadas de defender grandes investimentos em soluções aeroportuárias megalómanas.


No dia em que escrevo esta crónica, pela noite dentro, também ajudarei a fechar mais uma edição de O MIRANTE. Em tempo de férias todos somos poucos para pormos a escrita em dia. Esta terça-feira também fica marcada por mais uma reunião da Comissão Técnica Independente (CTI), que estuda a localização do novo aeroporto de Lisboa, em cujos estudos o Governo se apoia para tomar uma decisão final (não está fora de causa António Costa sair do Governo, e passar a batata quente para outro primeiro-ministro que, a confiar nas sondagens, continuará a ser socialista e adiar a decisão por mais umas dezenas de anos).

O que me trouxe aqui foi a ferrovia; quando se fala de aeroportos em Portugal, alguns países da Europa estão a proibir voos domésticos entre cidades que ficam a menos de duas horas e meia de distância uma da outra. É um grande aviso à navegação… o que países bem mais evoluídos que o nosso estão a transmitir. Lisboa é um funil, um esgoto em muitas partes da cidade baixa, os turistas aumentam para números estratosféricos, que tornam impossível o aluguer de uma casa, com as condições mínimas, por menos de 1.500 euros, mesmo nas cidades da área metropolitana.  Lisboa já não tem casas para outras famílias que não sejam aquelas em que todos trabalham como motoristas de táxi ou de TVDE, distribuidores de comida e lojistas, que se sujeitam a viver em quartos sobrelotados, ao nível daquilo que se passa nos países mais pobres do mundo.

Mesmo assim, com toda esta balbúrdia, com as casas a preços proibitivos, o trânsito num verdadeiro caos, os preços de estacionamento caríssimos e a EMEL a facturar multas com o triplo dos funcionários, ninguém sai da cidade, ou quem sai ainda não faz engrossar as estatísticas.

Volto à ferrovia. Portugal é um atraso de vida naquela que é a solução para o futuro da mobilidade em todo o mundo. Madrid, a 500 quilómetros de Lisboa, está a mais de 11 horas de comboio. Entre Lisboa e Porto as coisas ainda resultam, mas são sempre mais de quatro horas de viagem. No resto do nosso território o comboio é uma miragem. Só para darmos um bom exemplo, dos muitos que há por essa Europa fora, a viagem entre Paris e Lyon, cidades separadas por 466 quilómetros, demora duas horas e seis minutos de comboio. A ferrovia em França, Espanha e Itália, comparada com a de Portugal, é como comparar o vinho tinto do Ribatejo com a cerveja preta da Sagres. O mais estranho é vivermos em paz com os políticos que adiam o aeroporto há meio século, não investem um chavelho na ferrovia, deixam-nos a um dia de viagem da principal cidade da vizinha Espanha e ainda se dão ao luxo de serem vedetas de televisão nos casos e casinhos que fazem a delícia da manada de elefantes que somos todos nós.

Não fui à última apresentação da CTI e já jurei que não dou mais para este peditório. Para mim o aeroporto de Lisboa só acaba quando Nossa Senhora de Fátima voltar a fazer milagres.

É mais fácil Salazar ressuscitar do que fecharem o aeroporto Humberto Delgado. Todas as soluções para o novo aeroporto que defendem, a médio ou a longo prazo, o fecho da Portela, são formas encapotadas de defender grandes investimentos em soluções aeroportuárias megalómanas para ficarem às moscas. No final, se a decisão for dos políticos já conhecidos do PS e do PSD, o que nos espera é mais do mesmo: quem manda no país são aqueles que viajam e querem o aeroporto no melhor lugar do mundo, que é mesmo ali onde está e vai ficar com toda a certeza. JAE.

quinta-feira, 6 de julho de 2023

A Maçonaria, os políticos carecas e a ladroagem

Neste período de Verão é normal haver fome de notícias nos jornais com redacção em Lisboa. Na véspera do fecho desta edição uma das nossas notícias, trabalhada no jornal ECO, era uma citação da notícia do jornal Observador que, por sua vez, tinha citado o nosso jornal como fonte. O mesmo com o Expresso, sobre uma notícia que envolve o deputado João Moura, do PSD, que ficou aziado por lhe termos descoberto a careca.

Uma tropa política que veio a seguir à geração de Jorge Lacão e Miguel Relvas, só para citar dois históricos do PS e do PSD da região, começou a aderir maciçamente à Maçonaria trocando os interesses de cidadania e de luta pela justiça e igualdade pelos negócios e negociatas. A Maçonaria também perdeu prestígio com a criação de lojas menos representativas dos ideais maçónicos; dizem que hoje há mais lojas maçónicas do que gente boa e descomprometida na política.

Participei em duas reuniões da Maçonaria ao longo da minha vida e pude confirmar o que acabo de escrever; conheci gente influente da política e do mundo das artes que se disponibilizaram para ajudar sempre que fosse preciso. Nunca precisei até hoje. Dois deles já morreram. Mas não sou maçónico nem nunca me convidaram para aderir. Falo do assunto porque acho que o grande crescimento dos partidos de extrema direita e extrema esquerda em Portugal se fica a dever ao facto do PS e do PSD, partidos que dividem o poder em Portugal, estarem cheios de dirigentes, deputados e presidente disto e daquilo, que fazem negócios enquanto fazem política ou, melhor dizendo, vendem a alma ao Diabo enquanto discursam no Parlamento, ou na tribuna maçónica, contra a corrupção.

Há muitos exemplos na região ribatejana, mas não vou citar nomes. Deixo aqui o recado aos que exibem nas redes sociais a sua vida política, mas também mostram os barcos, os cavalos, as mansões e os campos de golfe quando se distraem e caem que nem ratos naquilo que muitas vezes faz com que a ladroagem seja apanhada com a boca na botija: a vaidade que leva ao exibicionismo.

Não é com artigos de opinião que se faz jornalismo. O MIRANTE tem sido um exemplo, passe a imodéstia. A equipa é sempre pequena para a grande missão de acompanhar os principais assuntos de uma grande região. Mas a verdade é que em termos regionais somos dos poucos que levam a água ao moinho sem termos que encher chouriços com artigos sobre o sexo dos anjos. Neste período de Verão é normal haver fome de notícias nos jornais com redacção em Lisboa. Na véspera do fecho desta edição uma das nossas notícias, trabalhada no jornal ECO, era uma citação da notícia do jornal Observador que, por sua vez, tinha citado o nosso jornal como fonte. O mesmo com o Expresso, sobre uma notícia que envolve o deputado João Moura, do PSD, que ficou aziado por lhe termos descoberto a careca relativamente à sua vidinha no seio do grupo parlamentar do PSD. João Moura recusou-se a fazer o contraditório da notícia de O MIRANTE, mas quando o Expresso o contactou já foi solícito, o que só o diminui como político. Mas João Moura é daqueles que não engana ninguém e que, por mais que fique careca de saber que os seus inimigos não são os jornalistas, terá sempre por perto quem lhe faça implantes capilares a bom preço.

Esta semana regressamos ao tribunal para nos voltarmos a defender de um organismo público cujos dirigentes acham que nos podem vencer pelo medo, e pelas retaliações, como o corte de relações e a nossa inclusão no índex dos jornais a abater. Veremos o que nos vai acontecer em mais esta demanda. Certamente que ainda não é desta vez que vamos precisar da solidariedade dos amigos da Maçonaria, daqueles que ainda fazem da militância maçónica uma luta contra "a economia selvagem e a especulação desenfreada" e cujos códigos de conduta incluem "a defesa da cidadania, liberdade, igualdade, tolerância e solidariedade". JAE.