quinta-feira, 25 de maio de 2023

A “porra” da política e a incompetência

Que ministra é esta que vai à Chamusca e em vez de pegar o boi pelos cornos, mostrando trabalho feito, faz uma festa às ovelhas do rebanho sabendo que são mansas por natureza? Aparentemente Paulo Queimado não tem feito o trabalho de casa relativamente aos problemas na Ponte da Chamusca.

As declarações mais ou menos divertidas e indignadas da ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, de visita à Chamusca para inaugurar a Semana da Ascensão, são a prova da incompetência dos políticos que governam o concelho da Chamusca e da sua pouca ou nenhuma capacidade para gerir (ver notícia pag.27). “Façam, porra”, disse a ministra desabafando sobre o drama que a circulação na Ponte da Chamusca causa em termos sociais e económicos a quem vive nesta região e precisa de chegar a horas ao emprego, ao hospital, ao tribunal e, resumindo, de fazer render o dia de trabalho. “Façam, porra” é uma frase forte que causa impacto. Os autarcas devem ter chorado de comoção. Mas vamos ao que interessa: uma ministra não se senta com muita regularidade com os seus colegas de Governo onde está incluído o seu chefe, que é primeiro-ministro? Não é ela que tem que levar o recado e, olhos nos olhos, dizer aos seus camaradas ministros, “façam, porra”? Não é só levar para a Chamusca a merda do lixo perigoso que mais ninguém quer e tudo aquilo que não sabemos e que entope a ponte, causa mau ambiente e empobrece o território? Que ministra é esta que vai à Chamusca e em vez de pegar o boi pelos cornos, mostrando trabalho feito, faz uma festa às ovelhas do rebanho sabendo que são mansas por natureza?

Ministra e presidente da Câmara da Chamusca são do mesmo partido do Governo. Não era normal que falassem do assunto em privado e que cuidassem de se entender e reivindicar aquilo que é do interesse superior das populações? Aparentemente Paulo Queimado não tem feito o trabalho de casa relativamente aos problemas na Ponte da Chamusca e teve que convidar a ministra da Coesão Territorial para a inauguração de uma festa para ouvir um desabafo que mais parece de um político da oposição. É preciso muita pouca vergonha para tanto teatro e tão fraca encenação. JAE.

quinta-feira, 18 de maio de 2023

Roubar em tempo de pobreza sem ser confundido com os gatunos

Quando os pobres mais precisam de ajuda é quando certos organismos dos governos compram mais fardas e contratam mais gente para as vestir de forma a poderem roubar sem serem confundidos com os gatunos.

“Entre o pecado e o limiar/da pureza passa um fio/de espada, invisível, para/melhor ser visto.” Recebi este pequeno poema incluído numa dedicatória de um  livro do poeta Vergílio Alberto Vieira (Oratória do Vento). Já me aproveitei dele duas vezes para dois textos diferentes que me pediram para outras tantas publicações. 

Sou amigo do poeta de Amares há cerca de quatro décadas mas a nossa amizade nunca foi tão alimentada como nos últimos anos. Tivemos amigos comuns que já morreram, ainda temos amigos comuns que nos convidam para antologias, ou para colaborações em revistas cuja memória se perde na barafunda da vida; temos ainda alguns amigos comuns que vamos reencontrando por aí muitas vezes em intervalos de dezenas de anos. Foi o que aconteceu, recentemente, na terra do poeta no lançamento da sua foto-biografia com o título de “Meu teatro de papel”.

A actual vida política portuguesa é um nojo desde Durão Barroso e José Sócrates, só para falar de dois ex-primeiros-ministros que acho que foram para a política para enriquecer. A classe política acomodou-se, nivelou tudo por baixo, e quem nasceu mais alto do que a média dos portugueses ou anda baixinho na vida pública ou leva a cabeça cortada, caso não aceite andar por aí de pernas para o ar como anda a maioria dos políticos e dos seus assessores. O debate à volta do novo aeroporto, provocado pela constituição de uma Comissão que vai andar por aí a badalar o assunto só para encher chouriços, serve que nem ginjas aos políticos para, um dia destes, optarem por uma solução de recurso que nos vai deixar a chuchar no dedo. Depois de uma geringonça, com uma maioria absoluta para governar, António Costa teve algures no tempo um AVC político e anda por aí a governar como um doente crónico, sempre de cama, sem saber para que lado se há-de virar.

Esta semana, excepcionalmente, dois artigos de opinião de O MIRANTE tiveram cerca de 100 mil visualizações no online, o que demonstra bem o alcance do jornal junto dos leitores que vivem fora da região. O MIRANTE trabalha em 23 concelhos que têm uma população de cerca de meio milhão de habitantes, mas o número de leitores únicos na edição online ultrapassa em muito os quatro milhões. E no papel também há muitos anos que lideramos à frente de todos os jornais ditos de circulação nacional.

Nem por isso o Governo sabe que existimos; não há campanhas de publicidade para os jornais, nem sequer sobre saúde pública quando mais de metade da população não tem médico de família. Vamos tendo a ajuda ao Porte Pago e é um pau. Mas está escrito nas estrelas que até isso um dia destes vai acabar; basta que um Arons de Carvalho do PS se levante mal disposto com os jornalistas e a imprensa local e regional leva um último chuto no cu.

O 13 de Maio deste ano em Fátima foi-me relatado como o ano em que se roubaram mais carteiras. Uma vizinha contou que só levou uma carteirinha debaixo do braço, com dinheiro e cartões, e ficou sem ela enquanto segurava na vela e se comovia em lágrimas na altura em que o som da oração mais ecoava no recinto do Santuário. Na cidade onde vivo os fiscais do estacionamento aumentaram para o dobro. O aumento dos pequenos roubos em ajuntamentos e em carros, durante a noite, está sempre ligado ao aumento da pobreza, da falta de rendimento familiar, e é nestas alturas, precisamente, que as autoridades de farda, a mando dos dirigentes e políticos, também saem mais para a rua para engrossarem os orçamentos depauperados das instituições do Estado. Quando os pobres mais precisam de ajuda é quando certos organismos dos governos compram mais fardas, e contratam mais gente para as vestir, de forma a poderem roubar sem serem confundidos com os gatunos. JAE.

quinta-feira, 11 de maio de 2023

O novo aeroporto internacional será em Santarém ou Benavente

O novo aeroporto internacional de Lisboa será em Benavente ou em Santarém. São as únicas opções que servem o país e os interesses dos portugueses. O MIRANTE toma opção por Santarém mas a garrafa de champanhe que compraremos para festejar a decisão do aeroporto em Santarém será a mesma com que festejaremos a decisão do aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete.


O MIRANTE trabalha e é líder da informação nos dois concelhos do país onde deverá ser construído o novo aeroporto internacional de Lisboa.  Benavente e Santarém são as únicas opções que servem o país e os interesses dos portugueses. Para além disso são os dois únicos territórios onde é possível reunir a maioria das condições exigidas para um aeroporto que respeite o ambiente, possa crescer sem limitações e cumprir os desígnios de uma grande região metropolitana e de um país que, embora se faça de carro de norte a sul em menos de 9 horas, não é dos mais pequenos da Europa, mas é um território onde cabe uma das mais pequenas regiões do Brasil, só para dar um exemplo de um outro país irmão com quem a maioria dos portugueses se identifica.

Vai por aí um burburinho, que também já alimentei e alimento, garantindo que o lóbi do ex-ministro Pedro Nuno Santos jamais ficará pelo caminho. Dizem e justificam que a força do socialista e dos seus amigos fará com que a lógica se torne numa batata e que outra solução surgirá pelo pretexto mais mesquinho que houver ao cimo da terra; e é quase certo que o Estado vai voltar a pagar a despesa de adiamento do futuro aeroporto, e os aviões vão continuar a sobrevoar o casario dos bairros de Lisboa, quem sabe até ao dia em que morram pessoas e sejamos notícia no mundo pelas piores razões.

Em Benavente ou em Santarém seremos a redacção mais perto do novo aeroporto se os interesses dos políticos não se sobrepuserem aos interesses do país. Nada de novo. Falo do assunto para deixar claro que tomamos partido por Santarém por acharmos que o país tem mais a ganhar. Mas se os políticos continuarem a saga de fazer gemer o dinheiro dos contribuintes até ao tutano, a garrafa de champanhe que compraremos para festejar a decisão do aeroporto em Santarém será a mesma com que festejaremos a decisão do aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete.

Os jornalistas e os jornais devem ser imparciais a escrever, mas nós existimos para defender o nosso território. Por isso não se admirem que estejamos aqui a tomar posição por um aeroporto internacional em Santarém com investimento privado, em vez de optarmos por Benavente, que terá custos exorbitantes, terá que incluir mais uma ponte sobre o Tejo, e tem restrições ambientais que não são de somenos importância. Terá ainda um problema que salta à vista e que encarece e dificulta ainda mais o projecto: enquanto em Santarém as obras estarão prontas em quatro anos, em Benavente, no mínimo demoram o dobro. E é aqui que a porca torce o rabo; se a escolha recair em Benavente é mais que certo que o Governo vai sugerir uma solução intermédia que custará milhões, e que de provisório é muito possível que passe a definitiva, e que, como todos sabemos, vai aumentar o número de aviões no céu de Lisboa, redobrar a poluição sonora e aumentar os riscos de acidentes.

Somos um país de trolhas e de badamecos a confiar no que José Sócrates achava do pagamento das dívidas do Estado (para mim basta este exemplo para classificar a classe política que se acha acima da lei). Mesmo assim sou daqueles que não desiste de trabalhar e de contribuir para uma sociedade mais justa e solidária. Neste caso não é até que a voz me doa, mas até que tenha papel para escrever, o que vai sendo cada vez mais raro e difícil nos tempos que correm; e neste capítulo a culpa não é dos políticos, mas alguns deles são os mais beneficiados. JAE.

quinta-feira, 4 de maio de 2023

Ir para a cama com a República e dormir como um monarca

Tinha 18 anos no dia 25 de Abril de 1974 e era muito mais politizado que a grande maioria dos jovens de hoje, mas paguei caro esses anos duros; e o meu 25 de Abril só aconteceu quatro anos depois da revolução.

Devo os meus 15 minutos de fama na televisão ao jornalista e escritor Armando Baptista-Bastos, autor de “O Secreto Adeus” e de muitos outros romances e livros de crónicas e entrevistas que li na altura certa, de forma rendida, e ainda hoje leio e releio. Apesar da entrevista ter sido extensa o jornalista que na altura tinha um programa na SIC não me fez a célebre pergunta: “onde é que estavas no 25 de Abril”, talvez porque nessa altura ainda não a tinha incluído na sua agenda.

Baptista-Bastos não perguntou, mas quero responder a mim próprio, embora fora de data, já que nesta coluna mando eu e quem, às vezes, me corrige as gralhas e a pontuação e até muda o sentido de algumas frases.

No dia 25 de Abril de 1974 estava a trabalhar atrás de um balcão desde os 11 anos e o meu pai era quem mais facturava na vila da Chamusca a vender vinho, cervejas, pregos e peixe frito. Nesse dia, a meio da tarde, junto ao mercado municipal, ouvi o presidente da câmara, António J. Lopes da Costa, saudar algumas pessoas e dizer-lhes com toda a serenidade e convicção que o que se estava a passar não era para levar a sério; que devíamos continuar a nossa vida sem sobressaltos. Nesse dia o filho mais velho de uma família pobre mas bem conhecida na terra, estava por perto a ouvir a conversa e a rir-se como eu, já que todos sabíamos que tinha chegado a hora. Ele tinha uma história bem diferente da minha, mas não deixa de ser até mais interessante; como era de uma família que na altura tinha que estender a mão à caridade, o presidente da câmara obrigava-o a cortar o cabelo quando já lhe caía pelas costas. Não sei contar toda a história porque ele era mais velho que eu, de poucas conversas, e o tempo vai apagando as memórias e a noção de alguns interesses da juventude.

Tinha 18 anos nessa altura e era mais politizado que muitos jovens de hoje. Já contei isso noutras crónicas. A cervejaria do meu pai era um dos locais de encontro do José Júlio, Carlos “Cochicho”, Gonçalo Cabaço, do senhor Moreira, entre outros, a maioria tipográficos de “A Persistente”, que era o grande ninho de víboras da Chamusca no que toca a opositores do antigo regime. O meu 25 de Abril só aconteceu quatro anos depois quando me libertei do balcão e consegui fugir de casa, embora com uma mão à frente e outra atrás.

Neste último dia 25 de Abril ouvi Lula da Silva na televisão e depois desliguei o aparelho. Editei um texto de um colaborador do jornal e durante toda a tarde estive a trabalhar num texto que saiu na edição online e por lá vai morrer como tudo na vida. A seguir ao almoço reli um livro de John Milton, “Aeropagística - Discurso Sobre a Liberdade de Expressão”, que foi escrito em meados do ano de 1600 e que amanhã mesmo vou oferecer a um jovem que trabalha comigo. Curiosamente o livro tem uma dedicatória de Jónatas Machado, o ilustre prefaciador, que é professor universitário e um dos mais respeitados constitucionalistas do nosso tempo. Não me lembro de lhe ter agradecido o envio do livro e estou a tentar perceber se fiz má figura e se ainda vou a tempo de me redimir. O livro tem cem páginas, mas uma dimensão que não passa pela cabeça da maioria dos políticos da nossa praça. E foi escrito em 1644 como desafio à censura parlamentar inglesa. Devia ser de leitura obrigatória para todos os políticos que se candidatam a cargos públicos.

O dia foi tão grande que ainda consegui ir dar um mergulho na piscina e gozar meia hora de sauna e banho turco. Ao cair da noite fui ao cinema e no regresso a casa comi uma sandes mista e um sumo de laranja num lugar especial. Dantes era um prego e uma cerveja, mas agora estou a mudar de hábitos para não dar por mim a ver sempre as mesmas caras e a fazer os mesmos caminhos fora de horas. Em casa, já depois da meia-noite, fui logo para a cama com a velha República, mas já nada é como dantes; assim que a cabeça caiu na almofada dormi que nem um monarca falido de barriga cheia e vida descansada. JAE.