quarta-feira, 25 de maio de 2011

O habilidoso do Oliveira Domingos

Se o ridículo matasse o advogado de Santarém Oliveira Domingos já seria um cadáver há muito tempo. A acção que resolveu interpor em tribunal contra O MIRANTE e os seus jornalistas é um atentado à liberdade de informar (ver página 27 desta edição). Estão agora explicadas as asneiras de Rui Barreiro na relação com O MIRANTE ao recusar o pagamento das dívidas que a autarquia tinha para com o nosso jornal. Acabou por pagar em tribunal mas é fácil verificar agora que quem se rodeia de advogados desta estirpe, e já é fraca roupa, depressa fica um farrapo.
Trago aqui o assunto porque este caso trouxe pela primeira vez dois inspectores da Polícia Judiciária aos nossos computadores da redacção. O advogado queixoso conseguiu que a justiça se mexesse de forma a que não fizéssemos desaparecer dos computadores os textos em que ele se sentia ofendido. O nosso pecado foi termos escrito que o dito advogado, prestador de serviços à Câmara de Santarém, tinha exigido quase meio milhão de euros. E pecado ainda maior foi termos dado a palavra ao presidente da câmara que resolveu tratá-lo como eu também acho que ele merecia.
O que me espanta nesta história é saber que ainda há gente do lado desta gente, habituada a ganhar a vida graças aos políticos amigos, e que vem clamar por justiça por publicarmos uma fotografia sem a devida autorização. Como é que é possível um tipo ter a profissão de advogado, trabalhar para uma autarquia em processos que são públicos e notórios, e depois pedir em tribunal a condenação de um jornal e dos seus jornalistas por publicarmos a sua foto sem lhe pedirmos autorização? O ridículo ainda maior é vivermos num país que tem uma justiça que permite este tipo de oportunismo. Advogados fracos, habituados a viverem de expedientes, como parece ser o caso deste Oliveira Domingos, que tem a advocacia como profissão, não faltarão por aí. Mas a justiça portuguesa, que devia ser o pilar da democracia, a referência do país com mais de oito séculos, pode ficar refém de um advogado que acha que pode incomodar tudo e todos só porque pensa que domina o sistema?
Os nomes que eu gostaria de chamar a este Oliveira Domingos estão todos nos livros de Eça de Queirós que retratam esta gente como mais nenhum escritor retratou até agora. São uns pobres coitados que vivem da miséria de não haver hoje quem lhes faça a barba nos jornais como nos tempos do Eça e do Ramalho Ortigão.
Infelizmente até Moita Flores, escritor-político de renome, habitual cronista da nossa praça, resolveu não ligar importância ao advogado. Pelo que se percebeu vai pagar multa por ter faltado às convocatórias do tribunal. O que prova também que a política em Santarém  já não é o que era dantes quando Moita Flores cá chegou com a tesão toda.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Por nada deste mundo

Sempre que escrevo esta crónica lembro-me que sou lido por meia dúzia de pessoas que conheço bem e por quem tenho estima e admiração, por escreverem melhor do que eu e serem muito mais exigentes do que eu sou antes de darem um texto por terminado.
Um dia, há muitos anos, li da pena de um jornalista brasileiro que entre dois pontos finais usar uma só vírgula é um atentado à pontuação de uma frase. Pois é o que mais vejo por aí nos livros e nos jornais. Hoje, ontem, no dia em que alinhavo esta crónica, passei as mãos pelas novidades literárias e encontrei a poesia reunida de um daqueles poetas da moda e encontrei num só poema, que nem enchia uma página, cinco “mas”. Lembrei-me logo de um outro jornalista famoso que na sua autobiografia romanceada a certa altura pede desculpa aos leitores por usar um “mas” no início de uma frase.
Cheguei aqui para deixar claro que em muitos dos meus textos sinto que não apuro a linguagem como gostava. Não sou curto e grosso, ou sensível e delicado, conforme os casos, na forma como trato o português, umas vezes por preguiça outras vezes por falta de tempo (se tenho falta de tempo foi porque preguicei já que o dia tem 24 horas que dão para tudo e mais umas botas se não nos faltar a vontade de trabalhar; mas estes pensamentos não devem ser partilhados com os leitores por nada deste mundo).
Felizmente não sou muito lido. Só assim se explica que, até agora, tenha recebido apenas elogios para além de alguns comentários manhosos que acabam por morrer na caixa do correio do jornal às mãos de quem tem a missão de cheirar o azedo dos textos anónimos.
Metade desta crónica fica no computador por razões de decoro. Nos últimos tempos alguns de nós têm dormido com programas de gestão editorial, comercial e de facturação. Estamos a querer acompanhar os melhores na gestão de O MIRANTE para podermos ter dias mais fáceis no futuro.
Sempre que entra alguém novo na equipa e não se adapta apetece-me gritar-lhe aos ouvidos o que nós já passamos para chegarmos até aqui.
O que fica no computador é o orgulho ferido por continuarmos a trabalhar num país que é só Lisboa e um pouco da linha de Sintra; num país de gente mentirosa e maltrapilha que saiu cedo das cidades e aldeias do interior e agora tem vergonha do lugar onde nasceu. São esses que lixam isto tudo. Vieram do povo mas depressa se esqueceram das suas raízes e parecem lorpas encantadas a facilitarem a vida aos sucateiros e banqueiros que são mais ou menos os homens que mandam nisto tudo.
O que nos safa é a capacidade de trabalho e de adaptação. Sabemos trabalhar e se não temos possibilidades de comer lagosta compramos carapaus. Não há um único camelo na vida pública que se arrisque a atravessar o deserto na nossa companhia; somos muito mais resistentes que esses quadrúpedes do deserto nossos irmãos no infortúnio de vivermos no meio das tempestades de areia.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Uma crónica sem importância

A notícia que na passada semana fez manchete na edição Lezíria de O MIRANTE que dava conta que Moita Flores não vai pagar cerca de dois milhões de euros a construtores civis que fizeram obra em Santarém sem projecto nem concursos é o melhor exemplo da irresponsabilidade da gestão de Rui Barreiro e dos socialistas escalabitanos.
Passaram oito dias e ninguém tugiu nem mugiu. Esperava-se uma reacção política ou, no mínimo, uma reacção dos empresários que fizeram a obra. Silêncio absoluto. A ideia que deixam é que querem que este assunto saia da agenda noticiosa o mais rápido possível. Quanto menos se falar do assunto melhor. As notícias duram dois dias e eles, os políticos e os empresários da construção civil, precisam de continuar as suas reais vidas.
Rui Barreiro anda a dar as últimas, lá, naquele lugar dourado, onde o puseram. As asneiras que fez enquanto presidiu a Câmara de Santarém já não têm solução. Moita Flores só agora lhe vai descobrindo a careca porque falta-lhe dinheiro até para pagar aos pequenos fornecedores da autarquia. Santarém precisa de ir à bruxa ou a bruxa precisa de vir a Santarém. Sem bruxas pelo meio eu acho que o melhor de Santarém vai Tejo abaixo e só ficam as encostas.
Quem se der ao trabalho de ler a reportagem de O MIRANTE sobre a tomada de posse do novo presidente da Escola Superior de Gestão de Santarém ficará com uma ideia da personalidade incompetente e do estilo arrogante do anterior presidente que deixou a direcção da Escola depois de perceber que perdia as eleições caso concorresse.
As críticas que Jorge Faria foi fazer na cerimónia da tomada de posse do novo presidente visaram O MIRANTE e, acima de tudo, o actual presidente do IPS, Jorge Justino.
Jorge Faria aproveitou o último tempo de antena que tinha na Escola para dirigir recados ao professor Jorge Justino que, no final, lhe respondeu à letra.
Mas não é por ter sido crítico ou ressabiado que trago a esta crónica o discurso de Jorge Faria e o que ele resolveu dizer na despedida de um cargo que exerceu mal e de forma incompetente. O que me leva a falar do caso foi a forma como ele ouviu, sentado na sua cadeira, a resposta por parte do presidente do Politécnico quando este teve a oportunidade de responder a algumas das suas afirmações. Qual labrego na sua melhor forma, Faria escarrapachou-se na cadeira onde estava sentado e, enquanto Jorge Justino falava e lhe dirigia a palavra, Faria esticava-se e abanava-se na cadeira numa atitude de enfado e de aparente falta de respeito que não lembrava ao diabo.
Podia haver na sala quem ainda tivesse algum respeito por Faria; mas a generalidade dos presentes demonstrava, e demonstrou ainda mais no final da cerimónia, uma alegria e uma satisfação com a mudança que só faltaram foguetes para darem um maior alarido à alegria da mudança na direcção da Escola Superior de Gestão de Santarém.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Os donos do CNEMA e a arte de gerir com o dinheiro do povo

Os donos do CNEMA são gente muito importante e respeitada junto da classe política portuguesa nomeadamente no seio dos governantes. Só assim se explica o segredo que deve estar por trás do perdão de dívida que custou ao país quase três milhões de euros e que foi notícia muito recentemente em O MIRANTE.
Os donos do CNEMA, que são ao mesmo tempo líderes da CAP, a maior e mais influente associação de agricultores, têm sobre os políticos um poder de influência que não está ao alcance de qualquer associação de caridade ou de solidariedade das milhares que existem em Portugal e que, nas ruas, nos mercados, nos postos de gasolina e onde há circulação de pessoas, estendem a mão para nos sacarem um euro de forma a ajudarmos os meninos vítimas de cancro ou de SIDA.
Cada vez que compramos um porta-chaves para ajudar as instituições que tomam conta de crianças abandonadas, ou compramos uma rifa para ajudar os bombeiros, ou contribuímos para o peditório em nome de alguém que precisa urgentemente de uma assistência médica no estrangeiro, estamos a contribuir para a edificação de uma sociedade mais solidária, para minorarmos o sofrimento daqueles que o Estado despreza como se vivêssemos os tempos da pobreza e da indignidade salazarenta.
Se um perdão de dívida de quase três milhões de euros a uma empresa, como é o caso do CNEMA, não é motivo de notícia nem de indignação por parte dos cidadãos organizados; se toda a gente aceitar como normal que os donos do CNEMA equilibrem as contas das suas empresas com o dinheiro público, bem merecemos que daqui para a frente, com a pobreza que se adivinha, nos obriguem a depositar em nome do Estado, como condição para continuarmos a sermos livres, os anéis de ouro dos nossos avós.
Não vejo razão para grandes admirações se, daqui a um tempo, algum do dinheiro que ainda temos no banco não possa ser requisitado pelo Governo para ajudarmos a pagar a má gestão do CNEMA e os prejuízos com a contratação de artistas para animarem a denominada Feira do Ribatejo.
De vez em quando entro numa igreja e sem olhar para o rosto de sofrimento dos santos pergunto-lhes dirigindo-me ao Deus que tudo abarca; vedes todas estas injustiças como verdadeiros Santos ou a vossa cara de sofrimento é para disfarçardes o medo que tendes dos visitantes que não entram para rezar mas para cobiçarem o outro e a prata dos altares? Quem vos esculpiu assim tão martirizados e sangrentos já estava a pensar na hipótese de um dia o ouro das igrejas poder ser necessário para que os empresários amigos dos governos possam pagar as dívidas dos CNEMAS que existem por este país fora ?
João Machado e Luís Mira são, de certo, os grandes obreiros desta negociata com o Governo. Eles merecem que os seus nomes não sejam esquecidos. Quem sabe um dia destes, num 10 de Junho, um qualquer Presidente da República se lembre deles para uma medalha por tudo o que têm feito pela agricultura portuguesa, pelos interesses dos agricultores e pelo CNEMA, esse santuário privado onde existe o maior espaço relvado da região do Ribatejo.