quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Ser ou não ser comunista


Confesso que não tenho qualidades humanas para me considerar comunista mas, tal como quando tinha 20 anos, conservo intacta a minha coragem, os meus sonhos e os meus ideais de esquerda, seja lá isso o que for nos tempos que correm.Tenho um amigo, empresário de Almeirim, chamado Joaquim Borrego, que me trata familiarmente por comunista. E sempre que pergunta por mim a quem comigo trabalha usa o mesmo apelido.
No princípio, já lá vão uns bons anos que nos conhecemos, não achava muita graça ao trato. Pouco a pouco fui-me habituando a ouvir-me comunista nas suas saudações pessoais e a perceber o efeito do recado afectuoso, “dá lá cumprimentos ao comunista”, que de vez em quando me é transmitido religiosamente.
É claro para mim que ser de esquerda não é exactamente estar ao lado do PCP, do BE ou do PS. Mas não sou indiferente, porque tenho memória, à queda do partido comunista e à ascensão dos bloquistas, já que reconheço muito mais competência ao contra poder dos comunistas do que dos dirigentes do BE. Sobre o PS sempre achei, e o tempo tem vindo a dar-me razão, que os socialistas são muito mais frágeis ao ataque do poder capitalista que outro qualquer partido à sua direita.
Não tenho, longe disso, uma vida de combate ao lado dos pobres e desprotegidos. Não milito nem nunca militei num partido e jamais participei em manifestações. Mas nunca me deixei corromper pelos oportunistas. Não odeio os meus supostos inimigos. Nunca senti nem sei o que é isso do sentimento de inveja. Nunca sorri da desgraça dos outros. Trabalho desde os dez anos e por mais que a vida me sorria, ou seja grata, nunca esquecerei as humilhações que sofri noutros tempos e que sei que estão sempre guardadas para os pobres que não têm onde cair mortos. Por isso não me ofende o epíteto de comunista do meu amigo Borrego. Se ser comunista é ser fiel a princípios, a ideias e ideais, então eu sou comunista.
As notícias muito actuais sobre a vida política da deputada e vereadora da Câmara de Santarém, Luísa Mesquita, fizeram-me lembrar o meu amigo Borrego e a forma de me saudar familiarmente. Não sendo comunista, e supondo que Luísa Mesquita o é verdadeiramente, acho desonesta a sua atitude de confronto com o partido da qual é militante e no qual se apoiou para desempenhar importantes cargos e adquirir grande visibilidade pública. Os partidos precisam de militantes que não se agarrem ao Poder com unhas e dentes. A militância pode levar à dissidência mas não pode servir para desonrar a família política que se escolheu, principalmente quando o que está em causa é o apego desmedido ao Poder.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Memórias quase neo-realistas


Na inauguração do museu do neo-realismo, ao ouvir os discursos da praxe, não senti uma ponta de comoção. Bastou-me testemunhar, antes dos discursos, o entusiasmo sincero da presidente da câmara para me passar despercebido o cheiro do perfume da ministra da Cultura ou o sorriso de plástico do Presidente da República.Na inauguração do museu do neo-realismo revivi momentos da minha vida que me marcaram para sempre. Muitos daqueles autores famosos, que hoje são figuras de museu, ainda vivem na minha memória como se os tivesse conhecido de carne e osso.
Aprendi a escrever com José Gomes Ferreira; ganhei peito para ler um romance à luz da vela quando descobri os livros de Alves Redol; comecei a perceber melhor o mundo em que vivia quando descobri um livrinho de um autor chamado Vítor de Sá. No escritório onde trabalhei sete anos tinha tempo para ler revistas onde Antunes da Silva e Manuel da Fonseca publicavam contos e crónicas. Durante esses anos, como ajudante de guarda-livros, com a cumplicidade do chefe Joaquim Dias de Deus, passava bons momentos a ler e a exercitar a escrita sempre com um olho no burro e outro no cigano, embora soubesse que Dias de Deus era o meu anjo da guarda. Confesso, sem peso na consciência, que foi atrás dessa secretária que passei os melhores anos da minha vida. Foi lá que organizei os pensamentos; que desenhei os primeiros mapas de países imaginários; que escrevi (inspirado pela bondade do chefe e pela ruindade do que exercia a chefia) os meus primeiros textos literários.
O neo-realista com quem convivi verdadeiramente foi Álvaro Cunhal. Recordo-me dele em dois momentos únicos. O primeiro num convívio numa cooperativa de Vale de Cavalos; o outro na livraria Barata, em Lisboa, muitos anos depois, quando já estava quase cego.
Curiosamente, de todos os artistas ali representados é o que menos aprecio como autor. Quando leio os seus livros estou sempre a ver aquela figura de meter medo ao susto, de quem se podia esperar um discurso cheio de amanhãs que cantam e logo a seguir um comportamento que não permitia adivinhar-lhe um coração do lado esquerdo do peito.
Não sou doutorado em coisa nenhuma e prefiro viver o resto da minha vida a partir pedra do que a juntar-me ou a associar-me a pobres-diabos que escondem inapetência e cobardia com títulos e uma erudição verdadeiramente estéril. No meio de tantos retratos e memórias do neo-realismo senti-me outra vez ao lado do Manuel da Fonseca quando passeei com ele pelas ruas da Chamusca e o ouvi contar histórias de vida que nenhum museu do mundo pode guardar.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

A PJ e a luta entre Noras e Barreiro


Foi por causa do ex-presidente Noras e do ex-presidente Barreiro, políticos que se envolveram numa guerra que ainda hoje origina estas visitas da PJ, que fui à presença de uma juíza e saí de uma sala com um enxovalho de se lhe tirar o chapéu. Em determinada altura, por questões de justiça, barriquei-me ( acho que é a primeira vez que uso este termo na minha vida de jornalista) na defesa de valores e princípios de que ainda me orgulho. Os tempos passaram e a memória dos homens é muito curta. Por mim continuo a pagar a melhor das facturas. Por isso vou responder em tribunal por tudo o que escrevi. Com a consciência tranquila e certo de que vou ganhar na justiça por ter escrito a verdade e só a verdade.Saltei para a escrita deste texto depois de ouvir na Antena 2 o advogado e jornalista António Marinho dizer que quanto mais conheço os juízes mais gosto dos políticos (nunca tinha ouvido ninguém dizer mal da Justiça de uma forma tão subtil). Andava à procura de um pretexto para confessar que, recentemente, fui humilhado por uma juíza no Tribunal de Santarém de uma forma tão despropositada e sacana que, em vez de me indignar, fez-me sorrir tal foi a insensatez e o descaramento. Ainda hoje não sei o nome da juíza nem quero saber. Se voltar a encontrá-la, seja em que situa-ção for, tenho a certeza que a enfrentarei tão sereno como sereno fiquei passados cinco minutos de ter recebido o enxovalho bem salivado. Este assunto roubou algum espaço ao que é o tema da crónica desta semana. Como vem a propósito hei-de conseguir poupar nas palavras para facilitar a vida ao gráfico do jornal.
A visita da PJ a casa do ex-presidente da Câmara de Santarém, por ter coincidido com o dia em que a PJ fez investigações sobre pedofilia, originou alguns telefonemas para o meu telemóvel que me deixaram estupefacto. O boato sempre foi a mais terrível das armas de arremesso.
O homem com quem me solidarizei disponibilizando as páginas deste jornal pode estar à perna com a justiça, assim como eu, embora por outras razões. Para o caso não ponho prego nem estopa. Registo, no entanto, o facto de a PJ andar a fazer visitas domiciliárias a casa do ex-presidente Noras cinco anos depois da auditoria solicitada pelo anterior executivo camarário presidido pelo ex-presidente Barreiro.
Para fazer coro com António Marinho tinha que dar a mão à palmatória e reconhecer que os políticos da extirpe de Rui Barreiro e cª. são melhores que os juízes dos tribunais portugueses. Não são com certeza. Se fossem em vez de um enxovalho a tal juíza tinha disparado contra mim um balázio. E lá ia eu, sem o merecer, ficar com nome de rua em Santarém.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

O exemplo de António Paiva

Sempre ouvi dizer mal de António Paiva. Eu próprio, que o conheço desde a altura em que era vereador na oposição, não tinha sobre ele uma opinião muito favorável. Achava-o um sujeito esperto e pouco mais. O seu trabalho em Tomar e o percurso que está a fazer provam que não o conhecia bem. É verdade que ele ganhou a presidência da câmara devido às asneiras de Pedro Marques e ao clima de descrédito que se abatia sobre Tomar. Mas, hoje, António Paiva está para a cidade e para o concelho como o União de Tomar estava para o país quando tinha uma equipa de futebol na primeira divisão nacional. É um homem sábio, ou foi ficando sábio, quando ganhou as eleições e soube governar sem se colar a gente duvidosa; sem se meter em negociatas ou abrir negócios em nome de familiares; sem se aproveitar da política para enriquecer que é o que fazem, em muitos casos, os políticos das novas gerações. Dizem que tem um feitio azedo; que gosta de estar sempre do contra; que se fosse mais ambicioso podia ser o líder político de uma grande região em vez de ser o líder natural do Médio Tejo. Não é segredo, para quem o conhece, as suas divergências com a maior parte dos estrategas de algumas das instituições da região. Toda a gente sabe que ele é o grande responsável por a região estar dividida em duas Comunidades Urbanas. Foi ele que iniciou o descalabro do PS na presidência das principais autarquias da região (depois de conquistar Tomar, o PSD conquistou o Entroncamento e Santarém). Foi António Paiva que, ao conquistar a presidência da câmara de Tomar, retirou a hegemonia aos socialistas que dominavam em todas as frentes. Agora resta-lhes uma parte e ninguém sabe por quanto tempo se, por exemplo, os problemas com Paulo Caldas se agravarem e o PSD conseguir, em mais um assalto, uma outra câmara importante.
Ao fim de seis anos de mandato António Paiva já anunciou que não se recandidata. E não tem um delfim para o seu lugar. Aparentemente António Paiva prepara-se para tomar uma atitude de verdadeiro estadista. A sua decisão mostra um desapego ao poder que é de louvar. E que joga a seu favor noutras lutas futuras que queira travar pela liderança de outras instituições da região. E há muito para fazer para além do exercício de presidente de câmara. Com esta atitude António Paiva abre um novo ciclo na política tomarense. Se os candidatos forem os que se adivinham Paiva vai deixar saudades. Mas ficará na verdadeira História do concelho de Tomar.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

V. F. Xira e a intuição de Moita Flores

* Tenho uma péssima opinião sobre a qualidade do ensino no ISLA de Santarém. Não tenho nada contra quem lá trabalha embora uma vez tenha organizado o lançamento de um livro do poeta António Ramos Rosa que foi um fracasso. E o que nós trabalhamos para encher a sala de alunos. Se não fossem os colaboradores de O MIRANTE e dois alunos da associação de estudantes tínhamos ficado todos a falar com as paredes.
 * O concelho de Benavente vai ganhar o Aeroporto Internacional de Lisboa. Tudo indica que vai sair a sorte grande ao sucessor de Ganhão na presidência da Câmara. O engraçado é que ainda ninguém sabe quem é. Mas, pelos vistos, vai haver gente à altura. E quem escreve é a pessoa que menos sabe das verdadeiras notícias da política.
* O Entroncamento era há tempos atrás um autêntico centro comercial a céu aberto. A febre das construções e da abertura de novas lojas continua. Mas a afluência de pessoas à cidade dos comboios esmoreceu. Jaime Ramos precisa de se rodear de gente jovem com ideias para o ajudar a resolver o problema. Com a actual equipa acho que, um dia destes, vão todos ao fundo.
* Vila Franca de Xira não é nem nunca será a Sevilha portuguesa. Comparar Vila Franca com Sevilha é como comparar o Rossio, em Lisboa, com o largo do Pelourinho em VFX. Mas não tenho dúvidas que é a cidade da região que melhor defende e representa as tradições ribatejanas. E para isso contribuem em grande parte as gentes que se organizam em tertúlias e associações. Há muita má-língua à solta. Mas não acho que seja um problema. Pelo contrário: só não gosta de ouvir dizer mal quem não gosta de ser questionado. E a crítica é o sal do progresso.
* As direcções do União de Santarém destes últimos anos estiveram sempre ao nível dos executivos camarários. Não por acaso um dos ex-presidentes da câmara foi também presidente da assembleia-geral do clube. Nem com a chegada de Moita Flores as coisas mudaram. Quem lá está agora até pode ser gente com muito boas intenções. Mas a realidade não engana. Assim como o PSD só governa em Santarém graças ao fenómeno Moita Flores, a actual direcção da União só vai prolongar a agonia do clube. Resta a ilusão de que enquanto há vida há esperança. 
* Gosto de passear nas Portas do Sol, em Santarém, o mirante por excelência da região do Ribatejo. Esta semana não passei por lá. Estive entre amigos a tentar perceber a vitória de Menezes no PSD e o apoio certeiro de Moita Flores ao seu colega de Gaia. Pelo que conheço de Moita Flores acho que não vai querer exercer no partido o poder que este apoio lhe deve dar. Mas não tenho dúvidas que vai saber aproveitá-lo para pôr na ordem alguns laranjinhas que gostam de usar o emblema do partido para se amanharem.