quinta-feira, 29 de julho de 2021

No Ribatejo pegam-se os bois pelo rabo

 A região é governada por um grupo de gente que se assemelha a um grupo de forcados que, por não pegarem os bois pelos cornos, andam a tourear a vida deles e a nossa.


A ideia de que no Ribatejo os bois pegam-se pelos cornos não serve de exemplo para nada. Sim, é verdade que os bois pegam-se pelos cornos mas é na arena. Querer consignar essa arte da coragem e da ousadia à vida social política cultural e económica do Ribatejo é tão enganador como vender vinho azedo dentro de uma garrafa com um rótulo novo da marca Cartaxo, Almeirim ou Tramagal.

O Ribatejo não tem região de turismo que é a indústria do presente e do futuro. Estamos colados ao Alentejo que já é uma marca fortíssima que tem tudo o que precisa para vencer; o mesmo com a região de turismo do Centro que despreza literalmente os concelhos do Médio Tejo. O Ribatejo, ao contrário, é um território por arrotear, sem mar e com a maior parte dos seus rios poluídos, incluindo o Tejo que deverá ser o rio mais desprezado do mundo. Não há palavras que expliquem tamanha irresponsabilidade na gestão do leito e das margens do rio Tejo e muito menos no desprezo pela qualidade e aproveitamento da água.

Tomar, a cidade mais bem gerida da região, acabou de dar um exemplo de gestão acima de todas as expectativas, apoiando as unidades de turismo de uma forma que faz jus à qualidade da mesma e responde com admirável gestão aos empresários que apostaram no território ribatejano a partir da cidade templária.

São exemplos raros na nossa região. Aqui, na vida pública, ninguém pega os bois pelos cornos, ao contrário daquilo que se apregoa. Talvez por cobardia, e sentimento de culpa, usamos uma expressão que é exactamente contrária aos nossos hábitos e costumes.

Somos uma terra de majestades nuas, políticos fraquinhos, que se perdem nos gabinetes ministeriais e acabam a almoçar nas cantinas de Lisboa; empresários espertos que sabem ganhar dinheiro mas não sabem viver para a comunidade nem tão pouco imaginam que ainda há quem não precise de viver de mão estendida.

Políticos sem sangue nas veias, gerindo dinheiro fácil do orçamento, rendidos à turba que os rodeia e os protege e ao serviço daqueles que lhes fazem lavagens cerebrais.

Sei que estou a ser injusto com alguns políticos da região que fazem a diferença como é o caso de Pedro Ribeiro, presidente da Câmara de Almeirim, Ricardo Gonçalves, presidente da Câmara de Santarém, e Miguel Borges, presidente da Câmara do Sardoal. É gente séria que anda nesta vida há muitos anos e certamente não trabalham para um dia serem monta cargas num qualquer Governo do país. Mas é pouca, muito pouca, a diferença que fazem no meio da turba.

Esta história da nova NUT é areia para os nossos olhos. Daqui a uma dúzia de anos já metade de nós está na reforma. Precisamos de berrar agora, apoiar agora, jogar tudo por tudo agora, denunciar os manhosos agora, apertar o cerco aos contrabandistas agora. Amanhã já é tarde. Como toda a gente sabe 90 por cento dos forcados desistem de pegar toiros ao fim de três ou quatro anos e logo que constituem família.

A região é governada por um grupo de gente que se assemelha a um grupo de forcados que, por não pegarem os bois pelos cornos, andam a tourear a vida deles e a nossa. JAE.

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Correio sentimental em tempo de eleições

 

Quem escolhe as rotundas da sua terra para se anunciar ao povo como o candidato ideal devia ser castigado nas urnas. Não vejo melhor forma de castigar a ignorância.

Esta semana recebemos no correio mensagens interessantes de denúncia de alguns casos políticos, de gestão política, que só podem derivar do facto de estarmos em vésperas de eleições. Quase todos chegaram meio anónimos, embora seja fácil identificar as fontes se formos à procura do rasto das denúncias. Uma delas é do Entroncamento e já tem barbas. Outra é de Fátima e tem sido notícia regular em O MIRANTE. O que se estranha é a falta de coragem para debater estes assuntos nos lugares próprios que são as assembleias municipais (AM) ou as reuniões do município onde a comunicação social local e regional está presente. Na última semana, que coincidiu com a chegada das missivas, realizaram-se sessões da AM nas duas cidades em causa, e ninguém tugiu nem mugiu. O 25 de Abril foi há quase meio século e as novas gerações de políticos não se sentem à vontade para discutirem publicamente os problemas das suas aldeias, vilas e cidades. É triste. Parece que o nosso espírito guerreiro só aparece quando nos apertam as ventas. Não devia ser assim; mas está aí a realidade para provar que é mesmo verdade. Em algumas câmaras e juntas de freguesia governa-se com muita falta de jeitinho e alguma impunidade; e aproveita-se ao máximo a falta de sentido cívico da população ou, em alguns casos, a dependência que as populações têm dos políticos para abusarem da sua confiança.

A prova que uma boa parte da classe política portuguesa está ao nível dos tempos de antanho é a forma como faz publicidade em campanha eleitoral. Que lugar é que os grandes candidatos escolhem para darem a ler as suas palavras de ordem e mostrarem os seus lindos olhos? As rotundas, pois claro. Exactamente o lugar onde não passam pessoas; o lugar ideal para os automobilistas fazerem umas avarias a conduzir e a decorarem a cara e as palavras de ordens dos candidatos. Já vi rotundas com cinco cartazes de partidos diferentes e alguns deles com imagens onde está toda a família candidata à câmara. Quem escolhe as rotundas da sua terra para se anunciar ao povo como o candidato ideal devia ser castigado nas urnas. Não vejo melhor forma de castigar a ignorância. Fazer publicidade nas rotundas já é proibido em cidades do terceiro mundo. Em Portugal é o melhor lugar para os políticos venderem as suas fuças.

A lei eleitoral que está em vigor é à medida das cabeças pensantes que querem mudar o mundo mas só enquanto procuram o sono e pensam nos problemas que estão por resolver há décadas e que lhes dão moleza. Nenhum órgão de comunicação social tem condições para acompanhar uma campanha eleitoral sem se sujeitar a multas pesadas e, até, ao fecho do seu jornal ou rádio. Os nossos políticos sabem isso há décadas. Mas o que fazem os socialistas e os social democratas que vão governando o país alternadamente? Assobiam para o lado. O MIRANTE, tal como tem acontecido nas eleições das últimas duas décadas, só fará notícia em campanha eleitoral quando o homem morder o cão. JAE.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Constância; Vila Pobre e mal governada

 

A chaminé poluidora do Caima, se fosse generosa, podia e devia ser a grande solução para o futuro da Casa Memória de Camões, se os milhões do negócio da fábrica dessem uma esmola para um projecto cultural que é de dimensão mundial, a confiar naqueles que entregaram ao poeta a honra de dar nome ao Dia de Portugal.

O caso do roubo das armas de Tancos está quase resolvido nos tribunais. O Ministério Público, que acusou o ministro Azeredo Lopes, agora já pede a sua absolvição. Os militares envolvidos, pelo que se leu na comunicação social, parecem vestir a farda de um país em auto-gestão, onde a autoridade e o respeito pela Constituição se podem tratar entre uma refeição e uma visita à Grécia para uma feira de armamento (este mês o ministro da tutela esteve em Atenas numa feira de armamento mas a comunicação social não escreveu uma linha sobre o assunto. Terá ido comprar as armas que ficaram em falta nos paióis de Tancos ou foi comprar os submarinos em falta depois do escândalo do tempo do Governo de Passos Coelho?)
O que não me sai da cabeça foram os telefonemas dos jornalistas de Lisboa para a redacção de O MIRANTE a tentarem que os orientássemos no caminho da charneca para encontrarem o local exacto onde as armas foram encontradas. Mal eles sabem que o lugar escolhido foi bem perto da povoação do Pinheiro Grande, na margem do ribeiro que corre ao lado da aldeia, onde qualquer um de nós podia ter tropeçado se nos aventurássemos para aquelas bandas para puxarmos pelo pulmão e pelas pernas.

O Google, a Amazon e o Facebook facturam cerca de 80% por cento da publicidade mundial. A imprensa tradicional está a morrer por falta de mercado publicitário e aos patrões da comunicação social não resta outra alternativa senão despedir, despedir, e trabalhar com a mão-de-obra mais barata que se encontra no mercado desde que sejam pessoas que saibam alinhavar uma notícia. Jornalistas sem medo, com amor pela profissão para fazerem o caminho das pedras, antes de aprenderem os segredos da profissão e as manhas dos influenciadores, são cada vez mais raros. Em poucos anos o jornalismo e os jornalistas que resistem ao poder do dinheiro, das mordomias e dos convites dos políticos para assessores, ficou reduzido a umas poucas centenas de profissionais. Não exagero. Os jornalistas do futuro vão ser os grandes heróis das sociedades modernas. Basta ver quantos escrevem hoje contra os interesses instalados e não têm medo dos analfabetos que dirigem associações empresariais, institutos públicos, associações controladas pelos políticos e tudo o resto que está explicado nas políticas de corrupção que a queda do BES arrastou para a lama em que vivemos.

O maior símbolo da vila de Constância é a chaminé da fábrica do Caima. Sei do que falo. Já senti o que é viver por ali com aquele cheiro permanente a vomitado. A direcção da Casa Memória de Camões, associação que atravessa grandes dificuldades, fez com que Constância ganhasse uma nova chaminé poluidora graças às divisões no seio da associação e às respostas que o presidente da direcção resolveu dar a quem o acusa de má gestão. Falta pouco, aparentemente, para que se perca pelo caminho a Obra de meio século de Manuela de Azevedo. Falta pouco, insisto, para que a luta, o empenho e os sonhos de Manuela de Azevedo se tornem coisa inglória. Curiosamente, a chaminé poluidora do Caima, se fosse generosa, podia e devia ser a grande solução para o futuro da Casa Memória de Camões, se os milhões do negócio da fábrica dessem uma esmola para um projecto cultural que é de dimensão mundial, a confiar naqueles que entregaram ao poeta a honra de dar nome ao Dia de Portugal.
Independentemente de quem governa a associação ou, neste caso, de quem a desgoverna, Constância merecia ter melhores políticos e dirigentes associativos; merecia acima de tudo ter gente que soubesse reindinvicar para a vila coisa melhor que chamar-lhe Vila Poema quando na verdade é Vila Pobre e mal governada. JAE.

quinta-feira, 15 de julho de 2021

A Justiça para ricos e a Justiça para pobres

 

Se os advogados Paulo Saragoça da Matta e Manuel Magalhães e Silva fossem advogados das vítimas do surto de legionella, que abalou o concelho de Vila Franca de Xira há quase sete anos, alguém acredita que um tribunal português produzia uma decisão em que o valor de uma vida são 22 mil e quinhentos euros?

Uma juíza do Tribunal de Loures propôs aos arguidos do caso legionella, sob pena de terem de ir a julgamento, o pagamento de uma indemnização de 22 mil e quinhentos euros a familiares de uma vítima mortal do surto de legionella, que atingiu 375 pessoas e provocou 12 vítimas mortais. Sejamos francos e directos: se os familiares desta vítima tivessem como advogados Paulo Saragoça da Matta (que nesta altura defende o milionário Joe Berardo) ou Manuel Magalhães e Silva (ilustre advogado que defende Luís Filipe Vieira) algum juiz de um tribunal português tinha coragem para decidir que a vida de uma pessoa só vale 22 mil e quinhentos euros? Não. É claro que não. Até a terra tremia e a água do Tejo chegava ao Castelo de São Jorge em Lisboa.

Uma boa parte dos juízes são homens como nós e sofrem do problema da sociedade portuguesa que continua prisioneira de valores muito antigos herdados do salazarismo. Portugal continua a ser um país de pobres onde algumas famílias muito ricas impõem a ordem económica e a justiça. Quem não concordar comigo que se ponha no lugar desta família a quem é proposto receber 22 mil e quinhentos euros de indemnização pela morte do seu familiar. Se a juíza que me lê achar que eu não soube dos seus recados, dirigidos aos jornalistas durante a leitura da decisão instrutória, que se ponha no lugar dos filhos deste pai de família; que imagine o seu próprio pai ou um dos seus filhos vítima da incúria de empresas que destruíram a vida de centenas de pessoas, causando a morte a algumas delas; e a outras lesões que vão ficar para toda a vida e que certamente causarão uma morte mais precoce.

Não é preciso ser jornalista, nem juiz, nem estudar muitos anos e em muitos livros, para aprender noções de justiça e de igualdade de direitos. Uma catástrofe como o surto de legionella, que abalou a comunidade de Vila Franca de Xira, não podia ficar praticamente sete anos nos tribunais; muito menos o Governo português podia deixar ao Deus dará tanta gente doente e desprotegida, que acabou injustiçada, ou porque não conseguiu provar que adoeceu por causa do surto ou porque aceitou ou vai aceitar valores ridículos para o que sofreram e ainda vão sofrer.

Há mil provérbios sobre a justiça. A maioria são daqueles que dizem que “a justiça não dorme” e que “a justiça tarda mas não falha”. Todos sabemos que é mentira. “Da justiça o pobre só conhece os castigos”. Só assim se explica que uma vida valha apenas 22.500 euros para um tribunal português em Julho do ano de 2021 (ler notícia desenvolvida nesta edição na página 16) JAE.

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Não há Justiça em Portugal e a prova é o que se passa no Tribunal Administrativo e Fiscal de Leiria

 

Portugal tem um tribunal que funciona como os tribunais dos países do terceiro mundo:não há político ou partido político que ponha o dedo na ferida; e assim vamos vivendo nesta miséria de país que tem uma justiça para ricos e outra para pobres.

O MIRANTE fez manchete de um caso que envolve a morte de uma cidadã do Sardoal que morreu num acidente de viação (notícia que recuperamos nesta edição e que vamos continuar a acompanhar). A Infraestruturas de Portugal já foi condenada duas vezes a uma indemnização. Mas a saga está para durar. O Tribunal Administrativo e Fiscal de Leiria, para onde vão todos os processos contra o Estado e os organismos do Estado, está protegido por um escudo invisível que o impede de funcionar como num país do primeiro mundo. Os processos ficam por lá a marinar e só uma década depois de entrarem no sistema é que chegam às mãos dos juízes que são poucos e certamente pouco motivados para o trabalho.

Há uma nova classe política emergente nos partidos como o IL, o PAN o LIVRE e o CHEGA. Uns querem acabar com as touradas, outros querem provedores para defenderem os cães e os gatos, outros querem acudir a situações literalmente populistas em que entram etnias e pedófilos. Os grandes problemas da nossa sociedade, em que se inclui o sistema de Justiça, continuam a ser ignorados pela classe política que, no essencial, se protegem uns aos outros como se fossem todos do mesmo partido. E de verdade é como se fossem ao ignorarem o regabofe que se vive nos tribunais com a falta de Juízes e de outros funcionários de Justiça.

A administração pública é o calcanhar de Aquiles da democracia em Portugal. Quem manda no país não é António Costa nem Marcelo Rebelo de Sousa mas o presidente do IFADAP, o presidente do Instituto de Emprego, e outros presidentes de centenas de institutos e organismos do Estado que acolhem os menos qualificados dos dirigentes partidários ou dos seus amigos.

Pedro Passos Coelho no seu tempo de primeiro-ministro criou a CRESAP, um organismo destinado a recrutar e selecionar quadros superiores para a função pública. Neste momento mais de 70% dos dirigentes passam ao lado dos critérios deste organismo. O assalto aos lugares de chefia e administração da máquina do Estado não respeita regras, não conhece princípios, não respeita valores e, acima de tudo, serve a máquina partidária antes de servir o país. É como no tempo da outra senhora; só que agora não nos mandam prender por denunciarmos os crimes de assalto ao poder. É uma vergonha que deveria ser paga com o voto em branco nas eleições: até eles perceberem que não somos parvos e que não contribuímos para este regabofe.

António Costa já mostrou que não tem nada a ver com o país e o PS de José Sócrates, mas o PS precisa de uma varredela. Depois de Cavaco Silva ter falhado redondamente a reforma da administração pública em tempo de vacas gordas; depois de termos sido governados por José Sócrates, que acha que as dívidas não são para pagar, António Costa tem a oportunidade de brilhar e fazer a reforma do Estado mesmo em tempo de pandemia. Veremos se não fica na história como Cavaco Silva II ou o ex-ministro de Sócrates, essa figura política tresloucada que governou Portugal, nasceu no seio de uma família de classe média, embora o seu comportamento seja o de quem nasceu numa família de magnatas da banca e do petróleo. JAE.