quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Saia de casa: vá caminhar e abraçar as árvores

 Tenha casa à beira do rio, na charneca ou no bairro, saia à rua, caminhe e conviva nem que seja com os animais presos à corda à beira da estrada. Se mora na cidade bom proveito: a fauna é bem mais divertida que a dos caminhos das hortas e dos quintais da aldeia.

A pandemia obriga-nos a ter mil cuidados para não ficarmos infectados. Mas, por favor, saia de casa e vá para a rua, com máscara, dupla se achar necessária, com luvas, proteja-se de forma a que não seja contaminado. Arranje forma de não levar as mãos ao rosto; Se é pessoa de risco elevado, por causa de outras doenças, vá às compras onde houver menos barafunda. Mas saia de casa; caminhe e conviva com a vizinhança; use o telefone para triplicar as chamadas para os seus amigos e familiares. Se ainda não sabe usar o telefone para entrar nas redes sociais peça a alguém que lhe ensine: o Facebook e o Instagram são o melhor local para se divertir a ver e a ler as figuras ridículas que nos oferecem.

Comente as notícias de O MIRANTE, do Expresso, e do Público, e de outros jornais da terra quando não andar na rua a apanhar o sol de Outono ou a chuva miudinha que molha tolos; não se importe que o/a olhem de lado por andar na rua a vadiar; fechado em casa é que não; desde a antiguidade que está escrito na nossa testa que os homens são animais sociais; todos precisamos uns dos outros para alcançarmos a plenitude da vida. Está provado que as pessoas que se isolam ficam deprimidas com muita facilidade. Perdem os amigos e, sem eles, ninguém vive. A falta de contacto social cria ódio, e revolta, nas pessoas. A maioria fica agressiva, e quanto mais dura o isolamento, ou o confinamento, mais se agravam os problemas psiquiátricos devido à perda da autoestima, e à sensação de que não pertencemos a este mundo, ou que pertencemos mas somos excluídos sem dó nem piedade. Os políticos populistas ganham terreno quando acontecem desgraças como a actual pandemia. O ódio e a revolta que se instala nas pessoas isoladas, e confinadas, faz com que percam a razão e fiquem do lado dos fascistas e dos comunistas que acham que o mundo só se endireita com mais autoridade.

Ligue a televisão mas veja os programas sobre viagens e natureza; há meia dúzia de canais que passam documentários sobre ciência e vida animal, só para dar dois exemplos, que nos enchem a alma e engrandecem o espírito. Há programas que nos transportam para territórios físicos e mentais que nunca pisaremos, mas que podemos dizer que já sentimos depois de os vermos na televisão.

O livro é o melhor companheiro para nos proteger da solidão e dos desgostos da vida. Quando entramos num livro entramos na vida de outras pessoas, pisamos as fronteiras de outros países, subimos a outras latitudes; só precisamos de ligar o cérebro ao coração e não nos enganarmos na escolha do livro; assim como há filmes e programas de televisão que nos deixam os olhos em bico, também há livros que só servem para base de candeeiros ou para enfeitar uma estante. Opte pelos clássicos e assim terá a certeza de que fará sempre uma escolha acertada mesmo que o género não seja o seu preferido. Leia e saia todos os dias à rua, o tempo suficiente para se libertar da angústia, para recarregar baterias, para deixar a sua marca na conversa com o dono da padaria, ou com o dono da pastelaria, ou com quem encontrar pelo caminho e achar que merece dois dedos de conversa.

Proteja-se da Covid-19 com máscara; e proteja-se acima de tudo das pessoas que entraram em pânico por causa da doença; dos políticos e da comunicação social que lhe dão Covid-19 ao almoço e ao jantar; More à beira do rio, na charneca ou no bairro, saia de casa, caminhe e conviva nem que seja com os animais presos à corda à beira da estrada; em último caso não se esqueça que pode abraçar as árvores. Pode fazer tudo o que quiser para quebrar a rotina e não deixar que a loucura tome conta de si. Se mora na cidade bom proveito; a fauna é bem mais divertida que a dos caminhos das hortas e dos quintais da aldeia. JAE.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

O mau exemplo do Instituto Politécnico de Santarém

 O IPS tem novo presidente assim como um novo líder do Conselho Geral. Mas se não houver uma revolução na gestão da instituição antes da data das próximas eleições o IPS abre falência.

O Instituto Politécnico de Santarém (IPS) tem um novo presidente do Conselho Geral (Hermínio Martinho) por desistência do anterior. Francisco Madelino terá pedido escusa por ter muito trabalho no Inatel do qual é presidente. Francisco Madelino nunca foi um bom presidente do Conselho Geral do IPS. A sua escolha foi política e é exactamente nessa área que ele é uma fraca figura. Quem conhece bem Francisco Madelino diz que ele era bom para exercer actividade política na antiga União Soviética, por ser cara de pau e ter carácter conflituoso próprio de quem acha que todos lhe devem e ninguém lhe paga. Enquanto presidente do Conselho Geral do IPS, Francisco Madelino foi um zero à esquerda. Como sempre, ser natural da região (Salvaterra de Magos) não importa quando o importante é o trabalho e o amor à causa. No Ribatejo ou na Beira Baixa, quando os políticos querem o Poder pelo Poder, é sempre no Terreiro do Paço que têm os olhos e o coração palpitante.

A nova realidade do IPS, com João Moutão a comandar a instituição, não promete nada de novo se não houver coragem para mudar a forma como a Escola funciona e está organizada. A instituição vai estar sempre nas mãos dos que, como os Madelinos, querem é tacho porque não gostam da profissão que escolheram, seja a gerir o Inatel seja num qualquer organismo do Estado que sirva de trampolim para mais altos voos.

Dou um pequeno exemplo do modelo de funcionamento do IPS que serve às mil maravilhas para percebermos como é difícil endireitar o que já nasceu torto; cada Escola tem um serviço administrativo com tudo o que isto acarreta ao nível das chefias e da importância que cada um acha que deve ter no futuro da instituição. São seis serviços administrativos, a contar com o da presidência, onde reinam não sei quantas dezenas de gestores, todos a puxarem para o lado que lhe dá mais jeito na gestão da sua quintinha.

Com a desorganização e a divisão que se instala com este modelo de gestão, os professores, que, regra geral, ganham bem e trabalham pouco, têm sido o maior foco de instabilidade da instituição. Para se perceber até que ponto os professores são capazes do melhor e do pior, na votação para a eleição do novo Conselho Geral, os três votos que faltaram de um total de 21 foram exatamente os votos dos representantes do pessoal docente. Faltou ainda o voto do representante dos alunos mas aí a burocracia da instituição é que levou a melhor.

O IPS, com o seu estatuto e com uma média de quatro mil alunos, devia ser o maior líder regional, alavanca de progresso e de desenvolvimento de parcerias que elevassem a região ao estatuto que merece. Ao contrário, é uma instituição onde há uma guerra civil permanente, onde se escondem políticos de carreira como Francisco Madelino, onde se divide para reinar, como nos países e nas instituições onde o poder se conquista nos gabinetes ou nas ruas. Não estou a exagerar; dou outro exemplo gritante; os professores de uma determinada Escola do IPS só podem dar aulas naquela Escola. Não pode haver misturas; O IPS parece mais um colete de forças que uma instituição de ensino.

Ouvi muitas vezes o Professor Joaquim Veríssimo Serrão falar do seu sonho de ver o IPS transformado em universidade. É um sonho cada vez mais adiado. Mas não deixo de recordar o homem que esteve por trás da fundação desta escola de Homens que nunca mais teve uma direcção que honrasse o seu nome e o seu trabalho a um nível digno de figurar nos anais da instituição.

João Moutão tem idade e estatuto para fazer uma revolução no IPS. Se não for um guerreiro vai acabar a sua presidência antes das próximas eleições porque o tempo não está para lutas inglórias como as dos seus antecessores. JAE.

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

A guerra contra o Diabo e um apelo às armas

 Os patrões da comunicação social desinteressaram-se da única associação (API) que tinha voz para reivindicar junto do Governo. Por ser uma associação amordaçada e confinada, a imprensa regional e local não tem interlocutores junto dos poderes de Lisboa.

Conheço um músico de orquestra que depois de cada trabalho enfia o instrumento na mala até chegar a hora da actuação seguinte. É assim há muitos anos. É músico profissional como muitos são talhantes, caixas de supermercado, cantoneiros, etc, etc, por que não conseguiram ainda melhor profissão para ganharem a vida. É um músico profissional que já sabe a música de cor, não tem respeito pelo maestro nem toca em orquestras que lhe exijam muito. O exemplo serve para comparar com aqueles profissionais do jornalismo que acham que a profissão resolve-se diariamente com umas notas sobre a pandemia, uma entrevista com um político ou um dirigente desportivo e dois ou três textos roubadas da reunião de câmara dos assuntos de antes da ordem do dia. Não estou a atirar pedras a ninguém, mas a fazer um exercício que só me contempla a mim, que ainda sou jornalista de tarimba, quase 33 anos depois de ter fundado este jornal.

Esta semana tomei a decisão de pedir a demissão da Associação Portuguesa de Imprensa (API) de que somos sócios desde a fundação do jornal. Aprendi muito com o associativismo; com os jornalistas e os patrões dos jornais que noutros tempos davam o coiro e o cabelo na defesa dos seus interesses. Era nesses encontros que os políticos do Governo gostavam de se mostrar; era nessas arenas que percebiamos quem estava no negócio para fazer jornalismo e quem estava no jornalismo para valorizar os negócios.

Ver como o mundo mudou nos últimos 30 anos na área da comunicação social é um exercício mais fácil para quem entrou no jornalismo por dever de cidadania e não por opção profissional. Por isso, esta semana pedi a demissão da única associação que conheço que representa os jornais nacionais e regionais. Estive sempre na primeira linha do combate associativo; e devo ter sido daqueles que mais luta deu às direcções da associação sempre numa postura de combate pelo colectivo. Desisti. A API, antiga AIND, continua a ser gerida por gente que respeito como pessoas mas que, como dirigentes, não valem um chavo.

33 anos depois de fundar O MIRANTE ainda vivo a ensacar jornais, a angariar assinantes, a dirigir jornalistas, a zangar-me todas as semanas com os distribuidores dos jornais, enquanto a grande maioria dos dirigentes baixaram os braços, vivem alegremente do sistema ou sobrevivem do negócio que se tornou ser dirigente associativo. A coisa é complicada demais para explicar numa crónica. Fica aqui a nota para que os leitores de O MIRANTE saibam que somos líderes de mercado, mas não dormimos na forma.

Não é a pandemia que está a acabar com a imprensa local e regional; é a falta de liderança empresarial e a incapacidade para reivindicar junto do Governo medidas de apoio para a comunicação social que trabalha e representa 90% do território que sofre os problemas que todos bem conhecemos. Agora que o associativismo devia ser um apelo às armas, para citar a ministra da Justiça, a propósito do combate contra a fraude e a corrupção, a associação que representa os jornais (API) está amordaçada e confinada; não há reuniões, nem estratégias conjuntas, nem planos de acção que ajudem o sector a sair da crise ou a minorar os seus efeitos. Que fiquem com Deus; nós vamos continuar a guerra contra o Diabo. JAE.

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

A biblia e a palavra de Deus contra as mulheres

 Uma releitura do Eclesiastes, uma citação de mais um artigo do advogado João Correia e uma lembrança de Juliette Gréco a musa da canção francesa.


No tempo em que o leito do Tejo na Chamusca e em Santarém era caudaloso, e muita gente ainda vivia da pesca, li uma entrevista de um escritor que me fascinava, truculento, brigão, mestre da língua portuguesa, polemista, que confessava ter sempre a Bíblia na mesa de cabeceira; e quando viajava levava-a sempre consigo. Fiquei pasmado. Eu imaginava o porquê, mas tive que ir à procura. Para mim a Bíblia sempre foram os Provérbios, os Salmos e o Cântico dos Cânticos. O resto era enfadonho. E o apelo dos grandes clássicos, dos livros cujas matérias mais me interessam, sempre suplantaram o interesse maior pela leitura integral do livro dos livros.

Recentemente, graças a Fátima Salgado, voltei ao tema com a descoberta do Eclesiastes, vigésimo primeiro livro da Bíblia, da autoria de Kohelet. A leitura de alguns trechos são familiares; fiquei a saber que é um dos escritos bíblicos que mais influenciaram a literatura ocidental.

Antes de Baptista Bastos e José Saramago, só para citar dois autores que usaram a influência dos textos bíblicos nas suas obras, William Shakespeare cansou-se de usar a expressão “não há nada de novo debaixo do sol”, Leo Tolstoy rendeu-se ao Eclesiastes e diz que foi o livro que mudou a sua vida. Machado de Assis, talvez o maior escritor de sempre em língua portuguesa, tem influências do Eclesiastes em toda a sua obra, que também considerava o seu livro de cabeceira. No romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, que reli recentemente, o escritor traça a epopeia da irremediável tolice humana, a sátira da nossa incurável ilusão, feita por um defunto desenganado da vida. “A vida é boa mas com a condição de não a tomarmos muito a sério”, “uma certeira repetição do velho tema da vaidade de tudo, e do engano da vida”, a que o Eclesiastes deu a consagração secular.

O meu orgulho, que ainda dura, de ter lido a Odisseia e a Ilíada aos 30 anos, sofreu um revés agora que percebi que por causa de não gostar de hábitos, assim como não gosto de fardas, só agora aprendi que “é melhor escorregar no chão do que no falar”. Mas não acabo sem um aviso à navegação; a Bíblia é o livro mais perigoso para a emancipação das mulheres e a sua luta contra a discriminação e a violência que, para muitos homens, está institucionalizada pela palavra de Deus: “É melhor a maldade do homem do que a bondade da mulher; a mulher causa vergonha e chega a expor insulto”. Mesmo com muitos ultrajes, impropérios e violência contra as mulheres, como aliás é norma em quase todo o texto bíblico, a leitura do livro de Kohelet foi uma das boas redescobertas destes últimos tempos de leitura.



Hoje, a Ordem dos Advogados deixou de ser uma realidade judiciária e forense e, provavelmente, nunca mais atingirá o prestígio que a levava a ombrear com as demais corporações, a ser respeitada e ouvida pelo poder político.

Tudo isto, antes e depois de 25 de Abril. Tenho muita mágoa. Tenho esperança numa jovem advocacia que retome a dignidade e o prestígio da advocacia portuguesa. (João Correia, jornal Público 17/09/2020).

Não sei se Juliette Gréco visitou a lezíria ou a charneca ribatejana. Nunca a encontrei em Santarém, nem sequer em Lisboa onde actuou a última vez em 2008, já com 81 anos. Eu é que, num dia já distante, fui de Marselha até Saint-Tropez, onde ela vivia, e tenho quase a certeza que vi a dama de negro da canção francesa numa esplanada da cidade. A imagem que tenho dela é de braço dado com Miles Davis, na noite de Paris, mas nesse dia em que a vi estava de cigarro na boca, túnica negra e óculos escuros, olhando os sapatos de salto alto que as mulheres deixavam abandonados no passeio marítimo, quando aceitavam entrar nos iates de luxo para beberem champanhe e, quem sabe, incendiarem o coração na presença dos playboys que as aguardavam. Juliette Gréco morreu no dia 23 setembro, com 93 anos, e embora famosa sempre dizia que a sua vida andante tinha pelo meio muito caminho de cabras. JAE.

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Um grito de alerta mas também um SOS: os CTT e o serviço público

 Este texto é um aviso à navegação e também aos navegantes; os CTT vão ajudando a matar a verdadeira imprensa de proximidade e o Governo é conivente porque a exemplo do que faz com o património edificado, a paisagem, a floresta e as nascentes dos rios, deixa tudo por conta dos interesses que manobram nos gabinetes onde trabalham os que não mudam as vírgulas nos textos das leis, mas boicotam as agendas, fazem loby por quem lhes está mais próximo e, se for preciso, ainda inventam ovnis para fazerem desaparecer o trabalho de gente de bem que, entretanto, deixou o lugar por causa do emblema do partido que representava e que perdeu as eleições.

A entrega de um jornal na caixa do correio da nossa casa devia ter a prioridade que tem a chegada das notícias aos centros que investigam tsunamis. Um jornal, mesmo local e com uma dúzia de páginas, é um dos melhores exemplos do exercício de uma democracia: são os cidadãos a exercerem o direito à crítica, o direito ao exercício da cidadania, a fazerem contrapoder ou a legitimarem o poder, o que é tão certo num caso como noutro.

Os CTT são o parceiro mais importante dos jornais locais e regionais. Por isso o Estado pagou o envio dos jornais via CTT a 100% durante muitos anos. Era uma forma de ajudar a acabar com a iliteracia e fomentar a leitura onde não chegavam as notícias dos jornais nacionais. Há casos que se contam, ainda hoje, de pessoas que viam o jornal e sabiam das notícias da sua terra só pelas fotos, uma vez que não sabiam ler; as fotos chegavam para as motivarem a assinarem o jornal da sua terra; as fotos mais importantes eram as da necrologia.

O PS, e Arons de Carvalho, num conluio estranho com a Associação Portuguesa de Imprensa, transformou o investimento do Estado no Porte Pago em menos de metade do apoio. E impôs regras que não lembravam ao diabo, como preços mínimos de assinatura. Coisa ao jeito daquilo que se fazia na antiga União Soviétiva, e ainda se faz hoje em alguns desses países da cortina de ferro.

Como os preços do serviço dos CTT sempre foram negociados à margem dos empresários do sector, por serem apoiados pelo Estado, os preços do envio de um jornal em Portugal são dos mais caros da Europa. Enviar um jornal é mais caro que enviar uma simples carta. A diferença é que as empresas editoras enviam milhares por dia, ou por semana, e têm que ensacar, etiquecar e distribuir por giros o seu produto, um trabalho bem diferente de enfiar uma carta na caixa do correio uma vez, ou meia dúzia de vezes, por ano.

Antes dos milhares de jornais chegarem aos CTT há um trabalho de angariação e de fidelização dos assinantes por parte das empresas de comunicação social. O que os CTT gerem é uma carteira de clientes/leitores/assinantes das empresas de comunicação social, que têm que receber a tempo e horas o produto que esteve na origem do contrato feito entre as duas partes. E é isso que os CTT não fazem com a qualidade que se exige num serviço pago a peso de ouro, pelas razões que já referi.

Portugal é um país pequeno e desertificado; na grande maioria das vilas e aldeias do país não há postos de venda suficientes para que a população tenha acesso à informação como em Lisboa ou nas grandes áreas urbanas, onde se tropeça a cada 100 metros com uma montra de jornais. Ou tropeçava. Daí a importância do Serviço Postal Universal.

O que tem vindo a acontecer nos últimos anos, e não só agora com a pandemia, é um desinvestimento pornográfico na mão de obra que leva a Carta a Garcia. Os Correios fecharam as estações locais, mas também diminuíram substancialmente o número de carteiros. Desde a privatização ficou em causa o cumprimento do serviço público.

Um jornal com três dias de atraso, em relação à data em que chega à banca, perde uma boa parte do interesse para o assinante. Não há sobrevivência possível para os jornais se os CTT não melhorarem o serviço no interior do país.

Nos últimos dez anos fecharam mais de quatro centenas de jornais, alguns de pequenas tiragens, mas muito importantes para as comunidades locais. Outros baixaram as tiragens tornando-se insignificantes. É um tsunami para as empresas editoras mas, para os CTT, que vivem de outros negócios mais chorudos, não se passa nada.

Os jornais de Lisboa são o farol que orienta os barcos no mar quando se aproximam da costa; os jornais locais e regionais, como O MIRANTE, são os barcos em alto mar. Basta comparar o trabalho e perceber quantos jornalistas dos principais órgãos de comunicação social sabem o que se passa fora de Lisboa e dos centros do poder.

Por último: O Governo só pode ajudar a comunicação social se perceber que os jornais locais e regionais são um dos braços armados da democracia; Não precisa de os financiar como financia a RTP e a Agência LUSA que, muitas vezes, mandam bugiar o serviço público quando o trabalho é muito longe do Terreiro do Paço ou da Assembleia da República, onde se movimenta a grande parte dos jornalistas que escreve para as aberturas dos telejornais das televisões ou para as manchetes dos seus jornais. Bastava que governasse bem o dinheiro do Orçamento de Estado e não privatizasse serviços que nos deixam nas mãos dos que anunciam os nossos funerais antes de morrermos. JAE.