quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O violino de Idália Moniz


Na passada sexta-feira fui aos serviços de urgência em pediatria do Hospital de Santa Maria. Meia hora depois saí pelo portão principal triste e de braços a abanar. Dirigi-me à senhora que vende castanhas com o pensamento perdido nos corredores do hospital e ouvi um “diga se faz favor” com todas as letras que me despertou o sexto sentido. “Quero uma dúzia de castanhas”, retorqui, procurando falar aos olhos da vendedora que estavam fixos nos meus. No acto de comprar castanhas no meio da rua senti-me a ser atendido como se estivesse ao balcão de uma confeitaria de luxo.
No caminho para o carro caíram uns pingos de chuva. Olhei para o céu de olhos fechados e voltei a ver caírem pela cara abaixo as lágrimas de um pai que, na manhã de sexta-feira, me fizeram alterar todos os planos para esse dia.
É no hospital e na prisão que conhecemos os verdadeiros amigos.
Foi a pensar neste ditado popular que resolvi escrever uma Carta Aberta à secretária de Estado Idália Moniz pedindo ajuda para a Tatiana, o Filipe e a Soraia, que não estão numa prisão mas é como se estivessem. E estão lá metidos à força, injustamente, pagando caro a pouca sorte de terem nascido no seio de uma família pobre e desprotegida, que teve o azar de encontrar pelo caminho um “carrasco” que trabalha para o Estado e ainda por cima numa área tão sensível como a segurança de crianças.

Não há algum exagero na rapidez com que se retiram crianças às famílias? Sempre que há uma dúvida a criança tem que ser protegida. Tem que ser retirada. De forma temporária mas tem que ser retirada e aquele agregado familiar tem que ser trabalhado, ajudado. Para que aquelas crianças tenham oportunidade de regressar às suas famílias.
Este último parágrafo é um excerto de uma entrevista que a secretária de Estado Idália Moniz deu a O MIRANTE há meses atrás. Como bem se percebe pelo caso das crianças de Foros de Salvaterra a senhora mente com quantos dentes tem na boca. O que está a acontecer ao agregado familiar da Marília é exactamente o contrário daquilo que a política Idália Moniz diz na resposta à nossa pergunta. Mesmo assim, tendo sido avisada para a injustiça de que as três crianças estão a ser vítimas, a senhora Idália Moniz meteu a cabeça na areia e ficou-se pelas palavras de um Direito de Resposta que diz bem da sua falta de sensibilidade e respeito pelos direitos humanos.
Volto ao portão do Hospital de Santa Maria e ao sentimento de respeito que me mereceu a vendedora de castanhas, por me ter dado a entender que sabe que vender castanhas junto a um portão de um hospital não é exactamente a mesma coisa que vender castanhas na Feira dos Santos no Cartaxo. É certamente uma mulher inteligente, embora não saiba tocar violino como a socialista empresária Idália Moniz.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Uma senhora sem importância


Esta semana entrego o espaço da Crónica a um leitor devidamente identificado que se meteu comigo por causa de uma Carta Aberta que escrevi à secretária de Estado Idália Moniz pedindo a sua ajuda para o caso das três crianças de Foros de Salvaterra que estão a ser vítimas de um “carrasco” da Segurança Social.


Exmo Sr. JAE. Parabéns pelo excelente trabalho e pela qualidade da prosa da reportagem com os deputados que visitaram a casa das três crianças de Foros de Salvaterra.
Depois de ler a sua Carta Aberta à Secretária de Estado Idália Moniz percebi melhor, pela inutilidade do Direito de Resposta da dita cuja, a inutilidade do cargo político que ela ocupa e os valores que a senhora defende. Como é que alguém com dois dedos de testa é capaz de responder a uma Carta Aberta que é um apelo quase dramático com um Direito de Resposta? Estes tipos e tipas da política estão no Poder cegos, surdos e mudos. Só têm tempo para os jogos palacianos; para defenderem os seus tachos; para defenderem e ajudarem os amigos do Partido; para governarem os problemas que os atormentam que derivam do medo que têm de perderem os lugares ou de serem esquecidos na hora das remodelações sempre inevitáveis depois de umas eleições.
A empresária Idália Moniz não só deitou a sua Carta Aberta para o lixo como o mandou dar uma volta com aquela prosa cheia de publicidade gratuita à política do seu Governo. Nunca li nada tão disparatado. Talvez o Senhor mereça o sermão que ela lhe deu. Quem o mandou dirigir-se a gente tão inútil quando podia muito bem ter dirigido a sua Carta Aberta ao povo que ajudou a família das crianças apelando à sua revolta contra o “carrasco” da Segurança Social? Vocês, jornalistas, não resistem ao perfume dos sovacos desta gente poderosa e depois admiram-se de levarem com o desprezo nas trombas. É bem feita se me permite o desabafo. Que lhe sirva de lição e o inspire para, numa próxima, premiar a senhora empresária Idália Moniz com os cornos de um toiro como prémio para a estocada que ela lhe deu e que o Senhor deve ter sentido bem lá no fundo do seu cachaço.
Desculpe por fim esta linguagem taurina mas como perceberá a intenção não é ofendê-lo. Os jornalistas são mais úteis à democracia e à defesa dos mais desprotegidos que todos os secretários de Estado servis e obedientes à política dos chefes.
Creia-me sem muita estima e consideração para não destoar da ensaboadela que levou da empresária Idália Moniz, uma cidadã que está secretária de Estado, e que até pode vir a ser Ministra, mas que não passa nem nunca passará de uma senhora sem importância. J.B.Monteiro

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Em defesa da Marília e dos seus três filhos


Há uma família em Foros de Salvaterra que está a ser vítima de uma injustiça do tamanho do mundo. Uma mulher e os seus três filhos estão a ser vítimas do sistema terceiro-mundista que toma conta das nossas instituições públicas onde funciona a lógica partidária na escolha dos gestores e, pior do que isso, funciona o nepotismo e a ditadura dos velhacos.
O caso é do conhecimento dos leitores de O MIRANTE e nesta edição é possível encontrar os desenvolvimentos mais recentes à volta deste caso.
Nada que se relacione com a política me tira o sono. Tudo o que gira à volta das desfeitas dos políticos, da sua má gestão ou das atitudes maquiavélicas que caracterizam muitas das suas atitudes, me rouba o sono ou merece mais do que um simples lamento. A revolta não é uma palavra do meu dicionário se tiver que me indignar com os caciques de Alpiarça, com os políticos socialistas da idade da pedra que militam em Santarém ou com os dirigentes partidários que se enganam a constituir listas para as autarquias locais, como aconteceu em Salvaterra de Magos. Mas, quando se trata da ofensa aos direitos mais elementares de um cidadão; quando alguém que detém um Poder põe em causa os direitos humanos a coisa pia mais fina e não há político que me cale por mais respeitável que seja o seu nome de família ou o tamanho das suas influências.
O que estão a fazer à Marília e aos seus filhos é uma violação dos direitos humanos. Basta ler o último relatório da técnica da Segurança Social para se perceber a dimensão da perseguição.
A Marília é pobre e com todo este drama que lhe criaram em casa nem o casamento conseguiu segurar. Mas eu sou testemunha desde a primeira hora das lágrimas que ela chorou e ainda chora. Vi a casa e senti ainda quentes os lençóis da cama de onde arrancaram as três crianças às horas a que se procuram bandidos nos seus esconderijos. Acompanhei de perto o esforço de solidariedade à volta da Marília e dos seus filhos e o que foi preciso trabalhar para lhe darem uma casa nova e mobilada.
Esta semana dedico este espaço ao caso da Marília e dos seus três filhos: a Tatiana o Filipe e a Soraia. Até este assunto ficar resolvido, até as crianças voltarem para o colo da mãe, não deixarei cair este assunto em saco roto. Todas as semanas, com mais ou menos palavras, com mais ou menos informação relevante, espero ter capacidade para renovar aqui o sentimento de solidariedade que esta gente precisa para voltar a ser uma família feliz. 

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Um voto esclarecido


Gosto de votar em todas as eleições. Mas gosto mais de votar para a eleição dos órgãos autárquicos. Sinto-me verdadeiramente a participar na vida da minha comunidade. Nas autárquicas sinto-me representado. O meu voto conta e eu posso pedir contas se ele estiver a ser mal utilizado no caso de ter contribuído para um mau governo ou para uma triste oposição. Não é por acaso que a lei eleitoral demorou tanto tempo a ser revista. E não é por acaso que os autarcas foram os parentes pobres da nossa lei. O nosso regime é democrático mas alguns dos nossos democratas, mesmo escolhendo entre os melhores do PS e os piores do PSD, são mais velhos que o diabo.
Se eu votasse em todos os concelhos da região do Ribatejo, e pudesse escolher entre os melhores candidatos, independentemente dos partidos, escolhia os candidatos que menos vezes me tivessem deixado sem água para tomar banho de manhã quando me levanto para ir trabalhar. Escolhia aqueles que deram menos emprego a pessoas das suas famílias; os que não desviaram estradas nacionais para instalarem superfícies comerciais à beira da estrada;
De entre todos os candidatos escolhia aqueles que prometem horários mais alargados para as piscinas municipais; os que prometem construir e conservar ringues e pavilhões desportivos de forma a que a prática do desporto seja quase uma obrigação na nossa vida e na vida dos nossos filhos; escolhia entre aqueles que prometem ajudar as associações com pessoal técnico e habilitado (há aí novos profissionais a saírem das universidades com licenciaturas em desporto, acção cultural e social, e ninguém pensa neles e na importância que podem ter ligados às associações de cada uma das nossas terras).  Escolhia entre os candidatos/políticos que não vivessem em casas do Estado ou da câmara nem trabalhassem para o Estado ou para as autarquias. Escolhia entre aqueles que não devessem à Segurança Social nem ao Fisco; votava naqueles que dão provas de que são profissionais de sucesso mesmo que o seu ofício seja o de limpa - chaminés. Escolhia os candidatos que compram pelo menos um jornal por dia e que vão ao cinema no mínimo três vezes por ano; E não me esquecia dos candidatos que sabem negociar com o Governo e com as Misericórdias o apoio às famílias mais carenciadas.
Escolhia, sem qualquer dúvida, o candidato que apresentasse a melhor proposta para regar a relva dos jardins da minha terra com água do rio e não com a água da rede pública; Escolhia o candidato que prometesse acabar com o emprego nas autarquias como forma de promover a mandriice, a irresponsabilidade; a corrupção e o compadrio.
 Por último; nunca votaria num candidato que fosse advogado e construtor civil, ou especulador imobiliário, ao mesmo tempo. Nunca votaria em candidatos que promovem o caciquismo ou que dependem dos favores dos caciques. Sou contra os interesses instalados, seja onde for, e tenho pena que esta campanha eleitoral tenha sido, regra geral, a mais pobre de sempre.