quinta-feira, 31 de julho de 2014

O 25 de Abril de alguns

A Câmara Municipal da Chamusca organizou, por alturas das comemorações dos 40 anos do 25 de Abril, alguns espectáculos que não foram do agrado de toda a gente. Até aqui nada de novo. A novidade surgiu em forma de desabafo na caixa de comentários do sítio da Biblioteca Municipal da Chamusca quando um cidadão resolveu criticar a autarquia por ter contratado alguém que é um caloteiro e que, como figura pública, não representa nada daquilo que são os valores conquistados com o 25 de Abril de 1974. O comentário era forte, provavelmente contava uma verdade dura de roer e, talvez por isso, só esteve online no sítio da biblioteca durante uns dias até que alguém sentiu autoridade suficiente para o apagar.
Trago o assunto a este espaço de comentário mas bem podia tê-lo desviado para uma sessão de humor deste jornal. Talvez até sobrasse mais espaço para gozar com a situação e com a caricatura que são certas pessoas.
Há tipos que passaram, e ainda passam, uma vida inteira a chular o Estado e a viverem à custa do erário público como se tivessem nascido abençoados, ou Deus, com o seu infinito Poder, lhes tivesse dado a permissão de cagarem em cima dos princípios sagrados que norteiam a vida dos cidadãos com as contas em dia.
Do relatório da Mariana de segunda-feira; Estavam no atendedor cinco chamadas do fim-de-semana; todas de pessoas que querem denunciar situações (relatório à parte que seguiu para a redacção). Ligou-nos o nosso assinante, e membro do Clube de Leitor, Augusto, para nos dizer que a partir de hoje não quer receber mais o nosso jornal por causa das palavras obscenas que escrevemos. Hoje tivemos outro cancelamento de assinatura por dificuldades financeiras que foram explicadas de viva voz. Ligaram da agência (:) do Porto a perguntar se era verdade estarmos com falta de papel e se podíamos garantir que a publicidade do cliente deles ia sair esta semana, situação que resolvi por email com conhecimento para a Joana.  JAE

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Os idiotas e as PME

O BPI promove todos os anos junto do IAPMEI (e nós agradecemos) a candidatura da empresa editora de O MIRANTE a PME do ano. Embora ganhemos sempre o título ainda não ganhamos o campeonato. A empresa não tem saldos negativos mas o banco, à cautela, exige todos os anos a entrega do balancete não vá o diabo tecê-las, embora todos os movimentos estejam garantidos por uma penhora de bens imóveis. Grande admiração, desilusão ou surpresa? Nem por isso: Só para quem não anda nesta vida há séculos!
O actual director da SIC Notícias, António José Teixeira, disse há cerca de uma dezena de anos que ninguém melhor que um jornalista para gerir um projecto de comunicação social. Nunca esqueci a conversa informal mas muito proveitosa num hall de hotel enquanto esperávamos por uma boleia para um congresso de jornalistas num tempo em que ainda havia congressos de jornalistas. AJT tem razão; na maioria dos casos é assim. Infelizmente para a imprensa há muitos excepções à regra. O que não falta por aí são tipos a quererem vender bem, e a bom preço, o jornal aos leitores depois de o terem vendido bem, e a bom preço, aos anunciantes. No final não conseguem uma coisa nem outra.
Duas crónicas seguidas a escrever sobre a profissão e a empresa; mas não é por medo de escrever sobre os idiotas da política embora os juízes entendam que chamar idiotas aos políticos é crime; é por falta de consideração por políticos e juízes (com as honrosas excepções).    
Do relatório da Mariana da última segunda-feira: A primeira chamada do dia foi do senhor Helder, de Torres Novas. Diz que tinha uma empresa que teve de encerrar devido a fraudes (:) O nosso assinante Manuel, do Forte da Casa, desta vez não foi para reclamar não ter recebido o n/ jornal porque tinha acabado de o receber, mas porque tinha passado por trás das escolas e queria denunciar um caso 
(:) O nosso assinante de VFX, Manuel, “no gozo” a perguntar se as tropas do D. Afonso Henriques vieram cá em Julho de 1939 travar a batalha contra os Mouros (:) Augusto, assinante de Perofilho, para nos expressar o seu desagrado em relação a esta notícia” “Matador de Vila Franca contratado para seis corridas em Espanha”. Diz-nos que o António João Ferreira não é nem nunca foi de Vila Franca. Tem 75 anos e viu-o nascer em Perofilho. Ligou Vitor, nosso leitor “Expresso”, a denunciar o caso de uma oficina na sua aldeia onde trabalham de noite (:) JAE

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Viajar com relatórios

Andei a viajar para ganhar tempo ao tempo. Escrevi todos os dias mas não para publicar. Leio mais do que escrevo. E acima de tudo leio relatórios de trabalho. Partilho com os leitores parte resumida do relatório da Mariana da última sexta-feira e desafio aqueles que gostam do jornal a inscreverem-se no Clube de Leitores e sugerirem iniciativas que tenham a ver com o interesse próprio ou da terra onde vivem. Para quem julga que editar um jornal é só escrever notícias aqui fica um cheirinho de um dia ao telefone e de alguns assuntos que nos caem no colo. 
Recebemos 37 chamadas. Para as assinaturas ligou-nos a irmã do nosso assinante António, de Riachos, para nos dizer que ele está hospitalizado desde Janeiro, para retirarmos o jornal porque já não consegue ler. Ela também é assinante. Ligou-nos o professor Miguel, da Alemanha, para dizer que já enviou a ficha de inscrição para o Clube do Leitor. Este ano não vem a Portugal porque vai para o Congo com os Médicos Sem Fronteiras. Mas assim que vier vem fazer-nos uma visita. Ligou ainda o nosso assinante de Samora Correia, José, que tem 83 anos. Foi operado à vista e só consegue ler com uma lupa; não vai renovar a assinatura que terminou em Junho. Ligou ainda Augusto, nosso assinante do Cortelo, Santarém, que tinha reclamado a falta de entrega da edição da semana passada  e a quem enviamos a segunda edição na segunda-feira, para nos dizer que já vamos na quarta-feira e também não recebeu.  Na conversa disse que não era só com o nosso jornal; que os carteiros trocam a correspondência. Algumas cartas dele vão parar à Quinta da Pimenteira que ainda é longe; que devíamos fazer um artigo a denunciar estas situações e não só quando os carteiros fazem greves. Para o departamento comercial recebemos 15 chamadas que foram transferidas como segue (:) Para falar consigo ligou o Francisco, de Alpiarça, e o António, de Benavente, mas disseram que voltavam a ligar (:) Junto envio ponto de situação relativamente ao contactos pendentes da semana que acaba hoje. JAE

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Editorial - A lógica do Poder

A população da Carregueira (Chamusca) assustou-se mais uma vez com um acidente no Parque do Relvão. Desta vez foi um incêndio na Resitejo. O fogo durou várias horas e teve a intervenção de mais de uma centena de bombeiros. Um jornalista de O MIRANTE esteve à porta das instalações e nunca conseguiu falar com os responsáveis da câmara municipal e da protecção civil que estavam no local. A informação que fomos partilhando online foi conseguida pelo telefone sempre junto do Comando Distrital de Operações de Socorro. A população da Carregueira foi a responsável pela vitória histórica do PS nas últimas eleições autárquicas. Ninguém tem dúvidas que a escolha dos eleitores espelha a desconfiança e a falta de informação sobre o Parque do Relvão. Os eleitos socialistas gozam de um poder que, aparentemente, não merecem. Informar na hora, principalmente em casos de desgraça ou de possível desgraça, que pode pôr em risco pessoas e bens, faz parte da lógica do Poder e da sociedade de informação que ajudamos a construir. Se estes políticos, bafejados na hora do voto pelas desconfianças das populações, não perceberem isso bem podem começar a arrumar a tralha.

O porco e a Parker

A minha avó Ilda oferecia regularmente cestos de ovos, morangos e figos aos médicos e funcionários do centro de saúde da sua terra. Todos os dias me lembro da avó Ilda. Se há coisas boas que aprendi com ela foi a partilhar e a ser agradecido. Não nasci invejoso, sendeiro ou intrujão mas mesmo assim vigio-me regularmente para ter a certeza que honro os compromissos que a minha avó me deixou.
Um ex-amigo confessou-se na minha casa, onde a minha mulher lhe serviu um opíparo jantar, como se ele fosse a Rainha de Inglaterra, que coleccionava canetas. Um dia, num passeio por Lisboa, numa zona que me faz lembrar o largo onde moro, na Chamusca, descobri uma Parker de colecção com um estojo onde podia guardar-se a coroa de D. Afonso Henriques. Por causa do preço lembro-me de ter começado a namorar a caneta com a altivez própria de um derriço que sabe ter a noiva na mão. Durante muitos meses, com a arte que aprendi com os homens dos sete ofícios a quem aviei muitos copos de vinho, conversei com a dona da loja, vi o fundo da tampa da caneta, confirmei os quilates do ouro do aparo, enfim, chegou uma altura em que me senti dono da caneta de tanto a ter na mão e fazer baixar o preço.
Um dia, com a Ponte 25 de Abril por cima da cabeça, de volta à lojinha, fui avisado que a caneta já tinha sido vendida. Disfarcei o desgosto e fui esmurrar a parede do edifício ao lado bem longe dos olhos da lojista para que ela não se risse de mim como eu merecia.
Recentemente, com alguma vergonha na cara, voltei à loja da caneta Parker e de outras canetas que fazem a minha delícia de coleccionador sem cheta e sem paciência de coleccionador. A caneta voltou à estante e a senhora da loja, com o ar mais natural deste mundo, disse que não se lembrava de mim, que a caneta ainda estava quente de ter chegado à loja há tão pouco tempo. No momento em que escrevo ando a renegociar a caneta; quem sabe se para oferecer a um dos meus filhos, talvez aquele que um dia melhor souber recordar as memórias da avó Ilda com quem dois deles ainda beberam café e comeram pão com ovo frito sentados à braseira.
Quanto ao ex-amigo, a quem a caneta estava destinada, terá sido vítima de um criador de porcos. Ele era o bácaro mais inteligente ao cimo da terra; gordo e redondo, sempre com as unhas sujas e grandes para não estranhar as pocilgas por onde passava no seu ofício de javardo oficioso. Quando o conheci andava disfarçado de intelectual e político. Foi nessa condição que entrou na minha casa e comeu da minha panela. É verdade que deixou um cheiro a barrasco mas nada que o eucaliptal que tenho quase ao pé da porta não tivesse ajudado a disfarçar numa casa como a minha que tem tantas janelas, verdadeiras e imaginárias, como o Palácio de Queluz. JAE