quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Doutor em polémicas na ESGTS

“Não alimento a linha editorial do vosso jornal” disse-nos por escrito há cerca de ano e meio o director da Escola Superior de Gestão e Tecnologia de Santarém, Jorge Faria, sempre metido em zaragatas na instituição que dirige há quase cinco anos.
Jorge Faria foi, até agora, o mais polémico dos dirigentes que passou pelas várias escolas do Instituto Politécnico de Santarém (IPS). Não há memória de alguém que tenha perdido umas eleições para a presidência do IPS e que, depois, por gozar de uma situação privilegiada, tente fazer gato-sapato daquele para quem perdeu as eleições como é o caso de Jorge Justino.
As notícias que ultimamente têm vindo a público dão conta de uma guerrilha interna na ESGTS que não é digna de uma escola pública que forma “cérebros” para o mercado de trabalho. Jorge Faria sabe que vive num país onde não se pedem contas aos gestores públicos; tudo leva a crer que está bem protegido politicamente por dirigentes nacionais do Partido Socialista; ainda por cima tem sorte porque o homem com quem disputou as eleições não tem coragem para lhe “acertar o passo”; Assim, como se vivêssemos no reino da Dinamarca, Jorge Faria começa uma guerra e, antes que ela acabe, inicia outra que é para não perder a embalagem.
Segundo se sabe, grande parte dos docentes da ESGTS está de costas viradas para este doutor em polémicas e em estratégias para descredibilizar a instituição. A verdade é que ele tem os docentes controlados pelos apertados regulamentos. Quem se manifestar corre o risco de perder o emprego. E o que não falta é gente por aí a querer dar aulas numa instituição como aquela que Jorge Faria comanda. Só os docentes que não têm nada a perder lhe fazem frente. São poucos mas chegam para lhe moer o juízo, e para garantir que, enquanto os dirigentes nacionais dos partidos não puderem sacar da arma para impor os seus homens, as forças vivas da região continuam com uma palavra a dizer.
Não sei nem quero saber quem elegeu este doutor em polémicas para presidente de uma Escola que sempre teve uma boa imagem e conquistou alunos de todo o país. Como cidadão acho estranho que esta personagem use a espada e a faca, a forquilha e o bastão, para bater em tudo o que mexe à sua volta e não lhe rende finezas.
Toda a gente com quem já falei sobre este caso fenomenal diz que Jorge Faria tem os dias contados. Não só pela arrogância com que dirige a Escola como pela desfaçatez e pelos números de circo que vai ensaiando para levar a água ao seu moinho. Com ou sem os dias contados, a verdade é que Jorge Faria ainda tem quase quatro anos pela frente para fazer um MBA em polémicas. E a credibilidade da ESGTS e do próprio IPS pode estar em causa com os riscos que todos conhecemos.
Jorge Justino, conhecido pela sua bonomia, parece que resolveu puxar dos galões depois de perceber que a opinião pública já “goza” com a situação. Afinal a ESGTS e o IPS não são duas lojinhas da esquina; são parte de uma instituição nacional que se prepara para viver uma das maiores crises ao nível financeiro e de recursos humanos.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Uma enciclopédia do quotidiano

No dia em que este jornal vai para as bancas, e chega à maioria dos seus leitores, realizamos na Chamusca a entrega dos prémios Personalidade do Ano de 2010. Recupero para esta crónica uma parte do texto que escrevi e li na entrega dos prémios do ano passado.  

Valorizar o mérito devia ser em qualquer lugar do mundo uma coisa normal. Infelizmente não é porque também rareia o mérito na maior parte das instituições que tinham a obrigação de serem os primeiros a dar o exemplo na defesa de certos valores como a justiça, o reconhecimento profissional, cultural e tantos outros.
O MIRANTE com as suas três edições diferenciadas, um diário online e uma editora de livros, ainda é um projecto empresarial pequeno para uma região tão grande e tão rica como a nossa. Mas o caminho que temos vindo a fazer é único não só na região como no país.
É do conhecimento geral que o jornalismo de proximidade é o mais rico em termos de informação e formação mas também é o mais caro do mundo. E nós, dependendo única e exclusivamente da economia de mercado, independentes de qualquer poder político ou empresarial, temos vindo, contra ventos e marés, a impor um projecto de comunicação social que, por fazer a diferença, nos deixa orgulhosos.
Só quem tem a oportunidade de folhear as três edições de O MIRANTE é que pode perceber o nosso esforço em publicarmos matéria editorial que se aproxime o mais possível dos interesses das comunidades de leitores que vão de Abrantes a Vila Franca de Xira. Com o volume de informação que estamos a produzir nesta altura, se a concentrássemos apenas numa edição, teríamos o maior jornal do mundo.
Não é, no entanto, a quantidade de informação que nos interessa levar aos leitores. É a informação diferenciada tendo em conta o público a quem nos dirigimos. Por isso é que, só para dar um exemplo, a edição do Vale do Tejo já tem uma redacção a trabalhar em exclusivo as matérias que interessam aos leitores da zona sul da nossa área de influência.
Quem conquista todas as semanas cerca de duzentos mil leitores, e tem cerca de cinco mil a visitarem diariamente o seu sítio diário, tem um bom pretexto e uma boa razão para organizar uma iniciativa como esta, que pretende premiar o trabalho, a dedicação e o amor a uma região cujos valores e tradições gostamos de partilhar.
Apesar de sermos o país da Europa com menos jornais de referência somos também o país onde os denominados jornais de divulgação nacional pouca importância dão ao que se passa para além das áreas urbanas de Lisboa e Porto; jornais e televisões, e rádios, incapazes de reflectirem o palpitar da vida quotidiana das gentes das cidades e das aldeias da província.
O MIRANTE é um jornal único no panorama da imprensa regional. Pela sua história, pela sua originalidade, pela sua evolução. E não desistimos de conquistar leitores que sintam que têm semanalmente nas suas mãos uma verdadeira enciclopédia do quotidiano.
Elegendo as Personalidades do Ano, promovendo o reconhecimento público de pessoas e instituições da nossa área de influência, cumprimos a missão mais fácil das nossas vidas enquanto profissionais da comunicação social.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Ser Ribatejano

Esta coisa de sentir orgulho em ser ribatejano já não se usa. Para mim continua a ser um sentimento que vale a pena. É estranho, por vezes, associar o Ribatejo aos costumes e tradições de gente tão diversa e diferente como é o povo de Alverca ou de Ourém, de Coruche ou de Tomar, Rio Maior ou Chamusca. Mas é esta grandeza que eu entendo que deve ser motivo de orgulho e razão suficiente para não perdermos as referências.
Nos últimos anos, principalmente depois da revolução de Abril, as diferenças entre o Ribatejo interior e o outro, o mais rico e abastado, tem vindo a acentuar-se. No interior ainda há um povo agarrado às suas raízes, vigilante, colaborador e solidário, bairrista quanto baste para manter o clube de futebol, o grupo de teatro, o rancho folclórico, entre outras associações. Ao contrário, no Ribatejo mais próximo das vias rápidas, onde o território é mais habitado e o povo aparenta ter melhores condições de vida, parece que estamos todos acomodados à espera que a solução para os nossos problemas caia do céu.
Se o Instituto Politécnico de Santarém um dia tiver uma constipação, o que não é de todo improvável, alguém já pensou o que vai ser da cidade? Se o Instituto Politécnico de Tomar um dia viver uma verdadeira crise de alunos alguém já fez as contas ao rombo económico que leva a princesa das nossas cidades?
Quem é que ainda tem memória das fábricas da Chamusca, de Tomar e Azambuja; das cooperativas de Almeirim, Santarém e Cartaxo que davam emprego a meio mundo? Quem é que ainda se lembra do número de famílias que salvavam o ano cultivando uma dezena de hectares de terra? Quantas famílias não construíram as sua casas de raiz sem recorrerem ao crédito bancário usando apenas o dinheiro ganho na apanha de cogumelos, do tomate, da azeitona, do que ganhavam na altura da colheita dos pomares e da venda directa dos produtos que eles próprios cultivavam?
Se em termos de território nacional somos um país “pedricula” na região do Ribatejo só encontramos pedra na charneca e no leito do rio Tejo. No resto, que é a grande maioria do território, só encontramos terra da boa que produz o melhor milho, trigo, arroz, vinho e por aí fora que a lista é bem grande e variada.
Não vejo ninguém, a começar nos políticos do Governo e a acabar nos dirigentes das grandes associações e sindicatos, a mobilizarem-se para que possamos sair da falência em que estamos metidos. Nos governos locais cada um defende a sua dama e o grande objectivo é sobreviver. Nas associações, por mais que custe reconhecer, estão instalados de um lado os lobistas ricos que vivem à grande dos orçamentos milionários para a formação, e do outro os empedernidos sindicalistas que continuam a acreditar que um dia vamos derrubar a sociedade capitalista e, então sim, finalmente seremos todos filhos da mesma cepa e farinha do mesmo saco.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Apagar Santarém do mapa

Acho espectacular a forma como as pessoas e as instituições de Santarém aceitam o fecho da ponte D. Luís para obras sem aviso prévio e sem uma explicação para as notícias que correm por aí. Tudo isto pouco tempo depois da ponte ter fechado para obras urgentes e ter condicionado durante tantos meses a vida de milhares de pessoas.
Quem vai à cidade almoçar, lanchar ou simplesmente fazer compras, se não for cego, surdo e mudo sabe que a cidade definha e que os seus agentes económicos vivem um drama, um verdadeiro drama, que pode ser fatal para muitos.
Santarém é uma cidade construída num planalto, literalmente ultrapassada nas últimas dezenas de anos por outras cidades vizinhas em termos de investimento económico e de lazer.
Roubar um cidadão a esta cidade, dificultando o acesso, como por exemplo se faz agora com o fecho da Ponte D. Luís, mesmo que sejam cidadãos que apenas consumam um café por dia, é tão dramático como roubar a Lisboa um cidadão que viaje para a cidade para frequentar apenas a sala de cinema ou de teatro. Sem cinema e sem teatros Lisboa não existiria como a conhecemos. Sem cafés, restaurantes e pequenos negócios que façam circular pessoas na cidade, à falta de cinemas, teatros e outros meios de chamar pessoas, Santarém será um cemitério de casas na encosta a muito curto prazo. Ficarão os jardins das Portas do Sol para turista ver e os edifícios municipais para visitas guiadas aos retratos dos agentes da cidade que hão-de apagar Santarém do mapa se Deus os continuar a proteger de cidadãos mais interventivos e comerciantes mais reivindicativos.
Dificultar o acesso à cidade às pessoas que sobem ao planalto apenas para consumirem uma bica é tão perigoso para o futuro da urbe como continuarem a ignorar o desenvolvimento e a recuperação do centro histórico.
Acabo como comecei: acho espectacular que a cidade de Santarém grite e gema e estrebuche e ninguém lhe acuda. Eu vejo, e ouço e apalpo, e não acredito que esta gente que aqui vive e sobrevive aceite sem um grito de revolta que lhe roubem o cliente da bica quanto mais o cliente da loja de roupa, do supermercado ou do quiosque dos jornais.
Já escrevi o suficiente para mostrar a minha indignação sobre a forma como os políticos do concelho deixaram instalar, à custa de interesses por esclarecer, dezenas de espaços comerciais gigantes nas imediações da cidade. Mas este mal não é só dos políticos de Santarém. Os lóbis dos grandes distribuidores são mais fortes que os governos das nações. E aqui não há nada a fazer a não ser protestar até à exaustão.
O que me espanta é não ver nascer uma associação de pessoas que grite mais alto na defesa dos interesses dos comerciantes e dos habitantes da Tapada, da Ribeira e da cidade de Santarém. Aparentemente somos todos filhos de um Deus menor.