quinta-feira, 18 de junho de 2015

Fazer farófia e política

No dia 13 de Junho completaram-se dez anos sobre a morte de Álvaro Cunhal e Eugénio de Andrade. O meu amigo e velho editor José da Cruz Santos escreveu indignado pela ausência de um parágrafo nos jornais a assinalar a efeméride. Não teve toda a razão quanto a Cunhal mas Eugénio passou ao lado de toda a imprensa. E realmente não devia. É uma das vozes maiores da poesia portuguesa de sempre e deixou uma Obra que marcou e vai marcar várias gerações. Recentemente reli a biografia de Marguerite Yourcenar, outra das vozes eternas da literatura, e lá está Eugénio no seu caminho.
Na passada semana um jovem que estuda jornalismo nos EUA esteve na redacção de O MIRANTE a tentar perceber como se faz jornalismo de proximidade. Foi em reportagem para a Igreja da Graça onde está sepultado Pedro Álvares Cabral e aquilo que ele observou é hilariante. Os turistas são tão poucos que faz doer ter a igreja aberta e com as luzes acesas. Pedro Álvares Cabral e o Centro Histórico de Santarém perderam importância depois da gestão política dos últimos autarcas como foi o caso de Rui Barreiro e Moita Flores que só ajudaram à desgraça.
O 25 de Abril foi há mais de 40 anos mas só agora se está a viver a verdadeira revolução na justiça portuguesa que prende preventivamente durante dois anos sem ter que dar cavaco. Foi preciso cair na malha da Justiça um ex-primeiro-ministro, cheio de amigos à direita e à esquerda, para se clamar que o rei vai nu. Pobres dos pobres que até agora ficaram presos e humilhados enquanto os José Sócrates deste país governaram e fizeram política como quem faz farófias.
Recentemente foi notícia o facto de Portugal ser o país da União Europeia onde os tribunais condenam três vezes mais por abuso de liberdade de expressão. Há um atraso civilizacional na grande maioria das instituições portuguesas comparadas com as do primeiro mundo. Basta perceber como se comportam as figuras públicas portuguesas quando são chamadas à realidade e acusadas na praça pública. Enquanto perseguirem assim os jornalistas mais espaço existe para o compadrio, a corrupção e a irresponsabilidade nas gestão de todos os Governos. 
JAE

quinta-feira, 11 de junho de 2015

O cabeça de lista e o Hospital de Santarém

Se eu tivesse poder de decisão na edição deste jornal como tinha quando o fundei - escrevia e editava, já lá vão quase 30 anos - mandava muitas notícias para o cesto dos papéis e não publicava fotos de gente que tem cara de parvo e pela-se para aparecer seja por bem seja por mal. Ainda bem que não sou eu que decido. Certamente que o jornal seria muito mais mal escrito e com muito menos interesse para a generalidade dos leitores.
O que é que pode fazer um jornal de proximidade pelas pessoas doentes que todos os dias, às dezenas, estão “internadas” em macas nos corredores do Hospital de Santarém por falta de camas e de condições mínimas de acesso ao Serviço Nacional de Saúde? A reportagem que O MIRANTE publica nesta edição sobre as condições em que os doentes esperam por internamento no Hospital Distrital de Santarém é obscena e deveria ser motivo para que o director do hospital pedisse contas e desse conta de vez em quando. Os hospitais deveriam ser lugares de respeito pela vida humana e pela dignidade dos profissionais que ali prestam serviço. A forma como os doentes estão a ser tratados no hospital de Santarém não é só culpa da administração do Hospital mas é à sua administração que devemos pedir contas.
Os políticos no activo da área do poder que representam a região são na sua generalidade fracas personagens. Nuno Serra, o líder, é literalmente uma figura de quinto plano na política nacional ou regional. Não lhe conheço um estado de alma nem uma medida como deputado que obrigue os seus eleitores a tirarem-lhe o chapéu. Nuno Serra pode vir a ser cabeça de lista pelo PSD às próximas eleições, como querem muitos militantes seus amigos e camaradas de luta, mas espero bem que até lá mostre trabalho e currículo (que não seja ao nível das guerras internas no Partido que são ao nível daquilo que Moita Flores tentou fazer a Ricardo Gonçalves que lhe sucedeu na Câmara de Santarém). JAE

quinta-feira, 4 de junho de 2015

As palavras emprestadas

Ando numa azáfama para chegar a um certo dia deste mês de Junho. Sinto-me como uma fera no seu covil. As paixões honram a miséria do Homem. Bem aventurados os que pecam e se degradam porque será deles o reino da Terra. Desconfiai dos que tudo aceitam, explicam e compreendem. A incompreensão é um dos ingredientes da inteligência. Deus é o vento da noite que entra por uma porta mal fechada. A minha eternidade cabe dentro de um dia. Ficar sozinho depois de morto é um privilégio incomparável. Os homens são cães: lambem os ossos do dia. A palavra camélia é mais bela que a flor. A invectiva é a arma dos jovens; o aplauso é a abjecção dos velhos. Na viagem da vida não perdemos apenas os nossos dentes e cabelos. Também os nossos incontáveis e sucessivos eus vão caindo como penas. O amor deve ser como no cinema mudo: apenas gestos. Não há necessidade de palavras. Um monossílabo é excesso. Jamais aprenderei a morrer. Mesmo no momento final haverei de estar ao lado da vida.
Ando numa azáfama a ler vários livros ao mesmo tempo para chegar a um certo dia deste mês de Junho e começar tudo de novo como o avarento em cuja casa até os ratos morriam de fome; ou como o indivíduo que se sente a viver sempre uma vida inacabada, um sonho que se repete toda a vez que o sol nasce.
Tudo o que aqui vai foi roubado de um livro de Lêdo Ivo, “Confissões de um Poeta”, que já li e reli e que mesmo assim mantenho por perto quase ao nível das minhas mãos liquidas. O dia é mal escrito. JAE