quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O Banco da minha terra

A grande maioria dos portugueses anda assustado com os escândalos financeiros que minam a nossa democracia. O caso do BES é a prova que estamos nas mãos do Diabo, ou seja, nas mãos de gente sem escrúpulos que não obedece a regras nem tem medo de reguladores.
Cem, mil ou um milhão de euros que tenhamos depositado num Banco são para muitos de nós o que nos dá segurança na vida; deitamo-nos e levantamo-nos com a cabeça no dinheiro que temos guardado a pensar na ajuda a um familiar, na possibilidade de uma doença ou até na ajuda do orçamento do mês para a farmácia. De repente há um bandido, desses que são banqueiros, que borregam e o nosso coração pára só de percebermos que já não podemos acreditar em ninguém. Depois do caso BES o país nunca mais será o mesmo. Veremos o que nos reserva o futuro.
Dantes o meu banco era a Caixa Agrícola da minha terra. Ter o dinheiro na Caixa era como ter o dinheiro no cofre da minha casa. Há muitos anos que isso deixou de ser assim. A Caixa é uma cooperativa mas é gerida por um senhor, ou uns senhores, que se julgam DDT (Donos Disto Tudo). Desde há muitos anos que muita gente como eu desconfia daquela gestão e procura outras organizações mais seguras. A verdade é que já não há organizações seguras ou de confiança. Por isso tenho pena que a Caixa Agrícola da minha terra não seja ainda o meu banco e o da minha gente. Tenho pena que tenha deixado de ser o balcão mais concorrido da minha terra e o lugar onde sabíamos que podíamos contar com o serviço de proximidade que é aquilo que temos cada vez menos ao balcão das instituições financeiras lideradas pelo Espíritos Santos e companhia.

José Sócrates disse em Paris, meses depois de ter perdido as eleições, que as dívidas dos países não são para pagar; são para ir pagando. Ricardo Salgado, o banqueiro  DDT (Dono Disto Tudo) citou o Papa Francisco dias depois de ter sido descoberto como um dos maiores trafulhas da história portuguesa mais recente. Sócrates está na RTP a comentar a vida pública portuguesa como se fosse o maior estadista português do último século. Não tarda Ricardo Salgado estará num qualquer altar de uma igreja portuguesa dessas que tudo perdoam aos ricos e abastados ou seja aos de sangue azul que ainda mandam nos gabinetes dos Ministros sejam eles quem forem. JAE

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Os “bacocos” do PSD

O PSD de Santarém distribui um comunicado à imprensa a informar que vai pedir uma audiência ao Ministério Público pelas razões que têm feito notícia e a que 
O MIRANTE tem dado visibilidade, como é o caso desta semana; o PSD de Santarém diz ainda no referido texto que não faz “declarações bacocas” sobre processos  em segredo de justiça. Gostava de saber quem é que, na opinião do PSD de Santarém, anda a fazer declarações bacocas sobre o pedido de dissolução do executivo da Câmara de Santarém;  e aguardo com muita expectativa os resultados da reunião entre o Ministério Público e os camaradas Nuno Serra e companhia. Veremos se os bacocos dão flor. É normal, em tempo de Verão, apanhar passarinhos pelos caminhos mas, pelo vistos, começa a ser tempo de apanhar também passarões.
Comprei o jornal Público diariamente nos últimos 22 anos. Mesmo em férias alguém o comprava por mim. Lia-o quase sempre de fio a pavio. Assisti e fui testemunha do seu nascimento e de todos os problemas que o jornal teve no mercado. Chegámos a comprar páginas de publicidade no Público para publicitarmos O MIRANTE. Esta semana deixei de comprar e mudei para o “Diário de Notícias” que só comprava de vez em quando. É uma homenagem ao jornal onde cheguei a escrever e onde vivi algumas situações hilariantes que me ajudaram a conhecer melhor o mundo em que vivo. Quanto ao Público comecei a lê-lo no computador o que não é a mesma coisa… mas quase.
Tenho cada vez mais a certeza que o jornalismo é uma profissão em extinção. As redacções das televisões têm jornalistas para dissecarem as notícias dos jornais e os jornais têm cada vez menos jornalistas porque as vendas são fracas e o mercado da publicidade já não é o que era. Não é por isso que o mundo vai acabar. Mas com menos jornalistas a democracia fica mais fraquinha. E os bacocos que querem dar flor ficam com mais caminho livre para nos fazerem passar por parvos;  eles, os avestruzes, que na sua grande maioria vivem de expedientes e só fazem política nos intervalos dos negócios. JAE

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Boa viagem Artur Barbosa

Morreu o Artur Barbosa. Para quem não sabe era o cabo-verdiano mais europeu e ribatejano que já conheci em toda a minha vida. Estou sem palavras porque era amigo do Artur Barbosa. Era médico de profissão e eu tinha a sorte de ser doente dele. Doente, quer dizer: embora eu fosse tratado sempre com mil cuidados e atenções às vezes era eu que, antes de sair do seu consultório, o aconselhava a descansar mais e a cuidar da sua saúde. O Artur Barbosa escapava-se algumas vezes do seu trabalho para viajar pelo mundo mas quando estava ao serviço trabalhava a todas as horas. E por isso tinha uma multidão de gente ao seu cuidado que ele tratava e atendia como se fossem da sua família.
Há-de haver certamente pessoas que não gostavam do Artur Barbosa. Mas eu posso garantir que ele era um ser humano excepcional; um homem que muitas vezes juntava a hora do almoço com a do jantar em nome da sua profissão e dos seus doentes que tratava com carinho e como melhor podia quando tinha que se repartir entre tanta solicitação.
Assim como não há livros que nos entretenham o espírito na hora de uma dor de dentes também não há palavras para falarmos do profundo desgosto de perdermos um bom amigo. Na hora de ouvir o Padre Borga a encomendar a Deus a alma do Artur Barbosa, ofícios que acompanho com o mesmo interesse com que leio romances, achei as suas palavras pobres para aquilo que o Homem e o médico representava para tanta gente. Mas quem sou eu para avaliar as palavras sábias de um padre que lê a Bíblia todos os dias quando eu próprio, que conhecia bem o médico e o Homem, não tenho imaginação nem vocabulário para falar do Artur Barbosa, o meu amigo que morreu na cama de um hospital alguns dias depois de um acidente, leia-se AVC, de que se safam muitos mortais provavelmente muito menos comprometidos com a eternidade.
O médico e escritor António Lobo Antunes disse numa entrevista que havia muita gente a tentar compreender nos seus romances aquilo que ele próprio, que os escreveu, ainda não compreende muito bem. E logo de seguida cita versos de Garcia Lorca para se mostrar espantado com os valores das palavras essenciais. “Pelo teu amor me dói o ar, o coração e o chapéu”. Foi nessa entrevista que Lobo Antunes disse que a poesia é como a resposta que Júlio César deu quando lhe perguntaram qual era a melhor morte: “A que é inesperada”.
Boa viagem Artur Barbosa.
JAE