quinta-feira, 28 de março de 2019

Terras sem Sombra e a Ordem dos Jornalistas

Esta semana acompanhei uma edição do Terras Sem Sombra que foi até Olivença; Registo aqui a morte de pessoas notáveis da minha terra e dou conta que defendo uma Ordem para a classe dos jornalistas


Sou a favor de uma Ordem para a classe dos jornalistas porque entendo que a auto-regulação que hoje se pratica jamais será um caminho para uma grande maioria daqueles que trabalham na profissão. Escrevo sobre o assunto porque entendo que os jornalistas portugueses deveriam ser mais cuidadosos na publicação de fotos sobre incêndios e terrorismo, entre outros actos criminosos que sacrificam vidas humanas por questões de luta política e religiosa. Todos sabemos que os crimes desta natureza são praticados por gente convencida que com os seus actos ficam para a posteridade e são exemplo a seguir. Condená-los ao anonimato era um serviço público que todos os órgãos de comunicação social tinham obrigação de prestar seguindo os velhos valores do jornalismo. 


Esta semana morreram duas figuras conhecidas da minha terra com quem conversei muitas vezes e aprendi muitas coisas. Falo da morte de Manuel José Moedas, um homem que ainda tirava o chapéu da cabeça para cumprimentar as pessoas na rua, e de Jaime Grilo, um pescador a quem ouvi contar histórias bonitas sobre a arte da pesca mas também episódios que confirmam que o leito do rio é perigoso para quem o conhece quanto mais para patos bravos que se afoitam nas suas águas.
Aproveito o espaço para lembrar a morte recente de outras pessoas importantes da minha terra que não foram notícia neste jornal mas que poderiam ter sido: Augusto Lourenço, vulgo Augusto da Bicicleta, Álvaro Agnelo, vulgo Álvaro Chané, Joaquim Arraiolos, vulgo Joaquim Burrico, Ercília Santos, vulgo Ercília dos bolos, Madalena Cardoso, vulgo Madalena do Chico Polícia, Luís Faustino, vulgo Luís Lameira, Manuel Matias, vulgo Manuel Calcanhar, Eduarda Ferreira, vulgo Eduarda Melrinho, Inácio Pestana, Domicília Barreiras e Joaquim Rafael Guita, entre muitos outros que agora não me lembro e que certamente também mereciam ser notícia no jornal da terra.


O Terras sem Sombra é um festival de cultura no Alentejo que já vai na sua 15ª edição. Tem como principal objectivo partilhar o legado cultural e natural do Alentejo, assim como dar a conhecer o que há de mais fascinante, dos centros históricos às áreas rurais, da vida selvagem às etnografias locais. A ambição da organização é projectar a região, nacional e internacionalmente, como um território de identidade ímpar que se afirma como destino de arte e natureza.
No passado fim de semana acompanhei em Olivença uma das actividades do Festival deste ano que só termina em Junho. Oportunidade para conhecer um território cheio de memórias e reencontrar o José António Falcão e a Sara grandes responsáveis pelo Festival e pelo êxito de cada iniciativa que mobiliza artistas, políticos, agentes culturais e população. JAE

quinta-feira, 14 de março de 2019

Carta para Francisco Pinto Balsemão e Paulo Fernandes*

O associativismo na comunicação social está pela hora da morte. Um recado para dois dos patrões mais influentes da imprensa portuguesa.

O MIRANTE faz parte da Associação Portuguesa de Imprensa (API) que defende os interesses das empresas de comunicação social em Portugal. No princípio como simples associado e, mais tarde, como membro da sua direcção. Infelizmente não temos suficiente voto na matéria para denunciarmos no seio da associação, e em nome dela, a falta de políticas dos sucessivos governos no apoio ao serviço público que a maioria dos jornais praticam.
Trago o assunto a público porque acho que vale pena reflectir sobre o papel da comunicação social que todos os dias condiciona a nossa forma de olhar o mundo.
Os patrões da imprensa em Portugal, na sua grande maioria, somam interesses na vida pública e política, e acima de tudo na vida empresarial, que nada têm a ver com a comunicação social. E longe vai o tempo em que alguns dos melhores deles se uniam nas diferenças para lutarem pelos mesmos interesses. Quando era assim, os mais pequenos, como sempre foi o caso da imprensa regional, só tinham a ganhar.
A verdade é que as televisões, e a febre pelo controlo do espaço televisivo, acabou com o associativismo entre patrões. Ninguém quer pensar nos negócios de tostões quando os das televisões são de milhões.
Os jornais estão reduzidos a tiragens miseráveis com a excepção do “Expresso”, do “Correio da Manhã” e do “Jornal de Notícias”, embora as quedas nas tiragens sejam de meter medo ao susto. 
Cerca de 70% das notícias dos jornais digitais são acessadas através de telemóveis. Esta forma de ler notícias não tem futuro. Não são os leitores de notícias nos telemóveis que justificam uma redacção de 20, 50 ou 100 jornalistas. Nem pode ser essa a política dos empresários dos Media por muito que alguns jornais trabalhem apenas para elegerem o próximo Presidente da República. O jornalismo precisa do papel como os textos precisam das ilustrações. O jornalismo precisa de jornalistas motivados para contarem histórias de página inteira como o mundo precisa de memória muito para além daquela que se apaga cada vez que se desliga um aparelho digital.
OS CTT acabaram recentemente com o Correio Azul na distribuição dos jornais (à taxa normal). O serviço era uma conquista de uma anterior negociação com os Correios. A associação que representa os patrões dos jornais está demasiado ocupada com problemas de sobrevivência que põem tudo em causa. A ideia que fica é que já ninguém acredita no associativismo para defender os mesmos interesses. Mesmo que, com esta forma de trabalhar, ponham em perigo o espaço mediático português e a qualidade da democracia.  JAE

* São os dois nomes maiores da imprensa em Portugal e responsáveis pelo melhor e pelo pior que se passa no associativismo na comunicação social.