segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Director Geral de O MIRANTE desafia Governo a enterrar o defunto Porte Pago


No Dia da Imprensa que se realizou ontem, dia 11, em Palmela, Joaquim António Emídio, diretor geral de O MIRANTE, desafiou o Ministro Miguel Relvas a fazer o funeral ao Porte Pago para a Imprensa depois do Governo socialista, do tempo de Arons de Carvalho, lhe ter começado a fazer o funeral.


O Dia da Imprensa em Portugal está marcado para sempre na vida de O MIRANTE.


Há dois anos, quando o dia da Imprensa se comemorava em Santarém, a 50 metros da nossa redacção principal, fomos visitados à hora em que as ilustres personalidades discursavam, por um juiz, um delegado do ministério público, dois inspectores da polícia judiciária, uma administrativa do tribunal de Santarém, e o presidente do sindicato dos jornalistas. Finalidade: um advogado da nossa praça, ofendido por um artigo em que era personalidade visada, pôs a justiça a trabalhar num processo sem pés nem cabeça que não deu em nada mas que deve ter custado uns milhares de euros aos cofres do Estado e teve esse mérito especial de nos assustar e confirmar que vivemos num país de muitos equívocos (para ser brando nas palavras).

Tinha que contar este episódio por que nem o facto de termos o Dia da Imprensa a decorrer ali ao nosso lado, e de a notícia ter sido espalhada logo depois, gerou o mais pequeno interesse na classe dos jornalistas.
Imagine senhor Ministro Miguel Relvas que não me conhece de lado nenhum; esqueça que de há 25 anos a esta parte sabemos quase tanto um do outro como os beirais das casas sabem da chuva; o Senhor porque fez quase toda sua vida política na região de abrangência do nosso jornal; nós porque somos jornalistas e sabemos fazer o nosso trabalho.

Esqueça que nos ajudou a abrir caminho para a Assembleia da República onde fomos algumas vezes chamar os bois pelos nomes na hora de reivindicarmos mais justiça para a comunicação social regional. Esqueça que sabe como funciona a maioria dos jornais locais e sabe, da experiência e da observação e do trabalho político, como se constrói uma empresa de comunicação social como aquela em que trabalhamos, que é única no país.
Deixe que lhe dê um exemplo. No concelho de Palmela, onde estamos hoje, O MIRANTE é líder entre todos os jornais nacionais em Fidelidade e Afinidade segundo o bareme imprensa da Marktest no estudo realizado na zona centro e sul. A difusão de O MIRANTE é de tal forma grande e substantiva nos concelhos onde trabalhamos do outro lado do Tejo que conseguimos ser líderes no concelho de Palmela e de Setúbal embora tenhamos aqui poucos leitores

O senhor Ministro deve saber que há uma lei que obriga o estado a publicar 15% da publicidade institucional nos jornais regionais e que nunca foi cumprida nem em 1%.; o senhor Ministro deve saber que ao acabarem com a obrigatoriedade da publicação dos editais e publicações de várias instituições do Estado os jornais de proximidade perderam uma das suas receitas mais importantes e o Estado perdeu transparência na relação com os cidadãos; o Senhor Ministro deve saber que o preço mínimo de assinatura e o pagamento à cabeça foi uma invenção de tal modo surrealista que já passaram “paletes” de governantes por esta pasta e ninguém conseguiu, até hoje, corrigir uma lei que nem lembrava ao diabo que parece ser mais inteligente que o dirigente socialista que também esteve na origem da redução do Porte pago para 40%.
Senhor Ministro Miguel Relvas: a imprensa regional e local merece mais do que a atenção que os últimos secretários de Estado lhe têm dedicado. Os milhares de jornalistas que se licenciaram para trabalharem no mercado mereciam melhores governantes e governos mais justos e atentos ao país real.
Todos sabemos que o Senhor tem várias batatas quentes na mão a começar na privatização da RTP e a acabar no problema com o segredo de Justiça. Mas isso não é desculpa para não fazer justiça às empresas de comunicação social que criam emprego e são a voz da cidadania no país real que o Senhor conhece muito bem.
Pergunte aos empresários que trabalham no país real se eles estão contentes com o sistema do Porte Pago (PP) e com o trabalho de distribuição dos correios que nos levam coiro e cabelo.
Se o Senhor não tem tempo ponha alguém a trabalhar para ver se consegue perceber de que vale ter um subsídio de PP de 40 % sobre preços que nós não podemos negociar com os correios por estarmos de mãos e pés atados pela forma como este sector sempre foi gerido e, de certo modo, manobrado pelos vários interesses instalados.
O Gabinete de Meios serve para quê? A secretaria de Estado que o seu ministério tutela serve que interesses? De que forma é que o Estado vai compensar os jornais que estão a migrar para o digital? De que forma é que o Estado vai apoiar os projetos regionais que tentam sobreviver fora dos grandes centros e à margem dos grandes interesses económicos?
Se começaram o funeral do PP porque é que não enterram o morto? Se desafiaram as empresas a sobreviveram com as regras do mercado porque é que o Governo continua a financiar os CTT e não obriga a sua administração a entender-se com as empresas do setor que são tratadas como se tratam órfãos de pai?

O Senhor acredita na regionalização e não acredita que há gente valorosa por esse país fora que também sabe gerir uma televisão e fazer jornalismo de qualidade que não sirva apenas morangos com açúcar e intrigas ao jantar?
Joaquim António Emídio

*Texto lido em Palmela no almoço que reuniu todos os participantes no Dia da Imprensa comemorado a 11 de Dezembro em Palmela.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A magia da vida dos pequenos empresários *

Uma palavra de elogio aos empresários e empresas premiadas nesta edição do Galardão Empresa do Ano. Uma palavra de apreço pelo trabalho que a NERSANT continua a fazer na nossa região junto da classe empresarial. A NERSANT é, sem dúvida, a maior instituição da região e aquela que melhor nos representa e nos pode ajudar nos piores e nos melhores momentos.
Estou aqui a representar um jornal com 25 anos sempre a crescer que considero, embora escreva e fale em causa própria, um fenómeno de resistência e de vida em Portugal. Não conheço outro exemplo neste país sempre em crise e cheio de gente esperta que se reforma aos 40/50 anos.
Há 13 anos que iniciamos esta parceria com a NERSANT e há 12 anos que premiamos empresas e empresários sempre com a melhor das intenções e quanto mais não seja para dizermos ao mundo que existimos e que temos cultura e uma economia que não é assim tão desprezível como parece face àquilo que temos em Lisboa, entre São Bento e o Terreiro do Paço.
Às vezes olho para trás e arrepio-me. Não é grande coisa o que temos como referência. Não podem culpar O MIRANTE nem a NERSANT. Mas há casos de grande mérito. Infelizmente não são assim tantos que me levem a dizer, hoje e aqui, que podemos dá-los como exemplos de grandes parceiros e de grandes companheiros de caminhada. Mas é trabalho e parceria de que nos orgulhamos apesar das vicissitudes. E embora os tempos estejam difíceis…….. há gente que faz a diferença.

O trabalho para mim é uma paixão. Quando me desapaixono por um trabalho prefiro morrer à fome que continuar a trabalhar num ofício do qual deixei de gostar. Foi num desses momentos de grande paixão por este trabalho de dirigir e editar um jornal que me lembrei de propor o Galardão Empresa do Ano à NERSANT. E ainda me lembro da ideia original que me fez fazer a proposta. Sempre que volto atrás nos anos, e regresso ao tempo da minha meninice, não encontro pelo caminho o homem do talho, o homem da mercearia, o homem da oficina, os homens dos muitos ofícios que fazem crescer uma comunidade e estão por detrás de toda a alma de uma terra.
Aprendi muito cedo a perceber que o sistema capitalista serve-se dos pequenos empresários como o magarefe se serve da faca para matar os animais que lhe chegam ao matadouro.
Lembro-me como se fosse hoje de perguntar como era possível a um pequeno empresário andar sempre a caminho dos bancos para pedir dinheiro para trocar de carro, para pintar a frontaria da casa, para fazer obras na loja. E estamos a falar de pessoas que trabalhavam, e algumas ainda trabalham, 16 horas por dia, sete dias por semana.
Há qualquer coisa de mágico na vida de todos os pequenos empresários das nossas vilas e aldeias. Mágico no sentido em que a vida deles passa tão depressa e é tão assoberbada que eles nem dão pelo facto de envelhecerem sem nunca terem molhado o cu na água do  mar, ou conhecerem a verdadeira Europa do Euro, e serem nos tempos modernos os verdadeiros servos da gleba do sistema.
Eu trabalhei dos onze ao 22 anos atrás de um balcão, de dois balcões para ser mais exacto, e foi lá que eu aprendi tudo o que sei hoje. Tudo. Na altura os camponeses conviviam bem com os homens dos ofícios tradicionais, os escriturários, os bancários, os pequenos burgueses que viviam apenas dos rendimentos. Era um mundo totalmente diferente do mundo de hoje mas tinha esta particularidade que eu chamo mágica porque me galvaniza e não me deixa tranquilo como eu gostava de viver; o sistema capitalista está de tal modo montado que, com mais ou menos evolução, com mais ou menos tecnologia, com mais ou menos ensino superior, com mais ou menos justiça, os pequenos são sempre os escravos dos grandes. E tudo o que ganham, e amealham, vai servir apenas para pagar o caixão na hora da verdade….. Vem uma tempestade e lá têm eles que começar tudo de novo. E quase tudo acaba sempre com um trespasse, quando não é com a falência do negócio, ou com a insolvência, como agora é moda.

Quando nasceu a ideia deste Galardão já o mundo não era assim tão a preto e branco. Mas olhando para trás alguns dos premiados já caíram que nem tordos. E não foi por serem maus gestores ou por não saberem gerir; foi porque vivemos numa economia governada por inábeis, por gente que só sabe fazer política e nunca trabalhou, nunca soube o que era aceitar uma letra, empenhar-se por um projecto empresarial para criar emprego, nunca sentiu a responsabilidade de pagar Segurança Social, ordenados diferenciados, nunca sentiu vergonha de ficar encostado ao balcão de uma entidade bancária a pedir emprestado aquilo que, às vezes, um gerente reles não é capaz de dar nem de confiar tão entretido que está com o seu pescoço de girafa e o seu casaco de camurça.

A ideia deste Galardão nasceu dessa necessidade de homenagear os empresários que prestam serviços à comunidade e ajudam a dar visibilidade à nossa região que é uma das mais ricas do país.
A ideia é gerar amigos, solidariedades, dar valor a quem investe e criar riqueza para não irmos todos de mala aviada para Lisboa, ou para Sintra, ou em última instância para o Litoral seja lá a terra que for, ou aldeia, onde encontremos uma casa barata para viver que não seja onde deixa de haver trabalho e os cogumelos selvagens já não crescem debaixo dos sobreiros ou o rosmaninho debaixo dos pinheiros.
Estamos aqui para premiar empresários e empresas e são eles que devem ocupar este lugar no púlpito. Eles é que são os protagonistas da noite. As escolhas foram feitas com os critérios de sempre e não tenho dúvidas que são os melhores e os mais justos.
Quem nos vê não nos julgue pela aparência. Somos pessoas felizes, persistentes, corajosas e solidárias. Cultivamos o pensamento crítico mas não somos pessimistas, somos realistas. José Saramago disse numa entrevista, pouco antes de morrer, que “ser socialista era uma actividade de espírito”. Ser empresário é uma actividade cívica. Não encontro melhores palavras para homenagear os empresários e as empresas que recebem hoje o Galardão Empresa do Ano.
JAE

*Texto lido na entrega dos prémios Galardão Empresa do Ano realizado no dia 29 de Novembro de 2012 em Alcanena

Um jornal sempre do lado dos mais fracos *

Sou, todos os dias, um jornalista preocupado com a qualidade editorial de O MIRANTE e sempre à procura de uma boa história.
Para alguns o nosso sucesso editorial é uma desgraça. Para outros é uma alegria. Para alguns as nossas histórias são de esfregar as mãos; para outros são histórias que tiram o sono.
Não há vidas perfeitas, não se pode servir a Deus e ao Diabo; quando trabalhamos de forma séria e responsável e temos orgulho no que fazemos só paramos no Samouco, como é costume dizer-se na minha terra.
Os 25 anos que vêm contados na edição de aniversário de O MIRANTE, textos que o Alberto Bastos escreveu, com pessoas que eu conheço desde menino, algumas delas até mais novas do que eu, são a parte mais bonita da história. As histórias que ficaram por contar são bem mais dolorosas e provavelmente nunca serão contadas. Algumas delas vão e vêm à memória e nem sequer são já matéria que valha a pena aproveitar para fazer caminho.
Assim como nunca sonhei que podia vir a ser ourives, como fui durante alguns anos, ourives de trabalhar à banca como se me tivessem nascido os dentes na profissão, também nunca sonhei ter uma carteira profissional de jornalista como é o caso desde há quase duas dezenas de anos, embora nunca tivesse frequentado uma universidade nem sequer um simples curso do CENJOR ou de outra qualquer organização ligada a esta profissão.
Já estou numa idade em que se pode dizer tudo. Mas quando se chega a esta idade aprendemos muito rapidamente que é muito mais fácil calar certas coisas que andar com elas na ponta da língua como se tivéssemos urgência em demonstrar que nunca deixamos de ser parvos.
( : )
Já disse e repito que o maior gozo deste projecto é a possibilidade de fazer jornalismo de qualidade fora de Lisboa para uma das regiões mais ricas do país. Mas nem isso devemos só a nós próprios. Tivéssemos à nossa volta uma sociedade civil bem organizada que não precisasse de nós e O MIRANTE nunca teria crescido o que cresceu. Tivéssemos jornais editorialmente fortes e com jornalistas competentes a fazerem a sua missão e O MIRANTE nunca teria passado da Chamusca. O problema é que não tínhamos. A imprensa regional e o local sempre esteve ao nível do correio da paróquia, com todo o respeito pelos paroquianos. Até posso ser o maior filho da mãe para certos camaradas da profissão que não gostam da forma como trabalhamos e como fazemos jornalismo. Mas a verdade é que eles andam há 25 anos a editar o mesmo jornal com as mesmas ferramentas e sempre com os seus rabos pelo chão a pedirem publicidade de joelhos para pagarem as despesas e os vencimentos sempre atrasados.
Não falo em nomes pois seria uma vergonha e uma desconsideração e até uma falta de respeito para com a nossa própria equipa. Mas já tenho idade e estatuto e temos trabalho feito e demonstramos que, afinal, é possível haver jornais de referência fora da Grande Lisboa e que as pessoas de Santarém, de Vila Franca de Xira, da Chamusca e da Golegã orgulham-se de ouvir falar do jornal da sua terra e do prestígio que o jornal ganhou junto das populações e daqueles que falam de nós noutros lugares distantes e até para lá do outro lado do Atlântico.
Esta é a parte que me dá mais gozo embora me custe a maior parte das rugas. Sempre que ajudo a fechar uma edição sinto-me cansado, não como jornalista mas como empresário. Sempre que o Mário Cotovio envia o jornal para a gráfica sinto-me exausto não por ter exercido o ofício de jornalista e um pouco de editor mas por ter que começar logo no minuto seguinte a preparar as coisas com uma equipa muito maior do que a dos jornalistas para que nesse mesmo dia, e no outro, e no outro, o jornal volte a ter outra vez dimensão para acolher as notícias que muitas vezes chegam frescas outras vezes refrescadas por novos episódios.
Não é por acaso que nesta sala há mais empresários que políticos. Não é por acaso que eu e quem trabalha comigo sempre tivemos muito mais próximos dos empresários do que dos políticos. Não é por acaso que é muito raro ver um empresário maltratado nas nossas notícias. O MIRANTE procura ser um jornal com notícias felizes. Quando não conseguimos vamos entrevistar pessoas que são felizes e que ajudam a esconder as notícias amargas. Mas empresários maltratados, como alguns políticos, jamais encontrarão no nosso jornal. Não é só uma questão de linha editorial: é uma questão de princípio, uma questão de defesa de valores, de defesa até da nossa própria pele e da nossa própria identidade.
Os melhores parceiros deste jornal sempre foram os empresários; os pequenos e os médios empresários acima de tudo. ( : )
É como jornalista que gostava que os meus filhos me lessem um dia que precisassem de referências para se guiarem na vida. Mas é como gestor que eu trabalho todos os dias e dou de mim o sangue e o mijo que vai no meu sangue quando tenho que dar a cara e a veia e as costas para lutar com os tipos dos bancos, com as gráficas, com o infortúnio dos acidentes com os carros, com o uso imoderado dos telemóveis e do gasóleo, entre outros; tudo aquilo que um gestor conhece bem, sente na pele todos os dias e muitas vezes mais do que na pele sente no coração quando ele dá o estoiro e lá se vão os dedos e ficam os anéis para quem não os merece.

Por último, duas ou três coisas que sei que vos interessam ou julgo saber que interessa a alguns.
O MIRANTE é um projecto editorial que pretende estar do lado dos mais fracos. Não me vejo a fazer jornalismo defendendo os banqueiros ou os empresários reaccionários. Há uma luz vermelha imaginária na redacção que se acende quando os jornalistas escrevem muitos textos sobre política. Todos a conhecem embora nem todos a respeitem. Mas esse é o nosso desígnio.
Fazer um jornalismo comprometido com as classes mais desfavorecidas. Trabalhar para os leitores que valorizam as notícias da sua terra e da sua rua. Não é por acaso que incentivamos as páginas dos leitores; não é por acaso que mais de metade das nossas histórias chegam à redacção através do telefone. Temos essa sorte ou esse mérito de termos conquistado ao longo dos anos o respeito dos leitores que sabem que na nossa redacção não existem gavetas onde se escondam histórias por serem inconvenientes ou desagradarem a este ou aquele.
JAE


*Texto lido no jantar do 25º aniversário de O MIRANTE que se realizou na Quinta da Feteira em Fazendas de Almeirim, na noite do dia 16 de Novembro 2012.

No dia dos 25 anos de O MIRANTE*

Faz hoje 25 anos que editarmos na Chamusca o primeiro número de O MIRANTE. 25 anos depois temos um jornal que nada tem a ver com aquela que escrevemos pela noite dentro e com todo o tempo do mundo para gozar o prazer da escrita e o efeito que as notícias causavam na comunidade.
Nestes últimos 25 anos o mundo mudou quase radicalmente em muitas áreas nomeadamente na comunicação social. O MIRANTE era um jornal a preto e branco impresso numa rotativa manhosa e montado numa banca de forma artesanal. Hoje, e de há uns anos a esta parte, faz-se um jornal em poucas horas e em segundos, através das linhas telefónicas, está a imprimir numa rotativa a centenas de quilómetros do lugar onde foi escrito e desenhado.
Somos o jornal com a assinatura mais baixa do mercado. Somos o único jornal regional que faz parte do Bareme nacional da Marketest por sermos o único com referências para isso; trabalhamos numa região com 23 concelhos e, com uma ou outra fragilidade editorial a norte do distrito, somos o jornal das oito cidades e das mil aldeias.
Os nossos jornalistas sempre trabalharam em exclusividade. Nunca fomos os jornalistas de O MIRANTE e os correspondentes do Diário XPTO.
Cada um de nós foi recrutado para a equipa tendo em conta o concelho e os concelhos onde queremos trabalhar e mostrar trabalho. Há concelhos onde somos desejados e bem tratados como profissionais da comunicação. Há outros onde temos que nos impor todos os dias ainda hoje para ganharmos o nosso espaço.
Temos uma equipa de trinta pessoas divididas em três sectores cada um mais importante do que o outro nesta luta entre fazer jornalismo descomprometido e facturar junto dos anunciantes apenas graças à força editorial de O MIRANTE.

Samuel Wagner, um célebre jornalista e editor brasileiro, escreveu num livro que é um grande testemunho de vida confessando que para aguentar o jornal que editava na altura chegou a namorar com algumas filhas de alguns anunciantes importantes para não perder os contratos de publicidade.
Os tempos não estão para aventureiros nem para levar muito a sério testemunhos importantes de figuras importantes que, no entanto, viveram noutros tempos quando os poetas já iam à lua mas os astronautas ainda treinavam em terra como haveriam de lá chegar.
O MIRANTE chega a Abrantes, Vila Franca de Xira e a todas as grandes cidades da região ribatejana. Mas também chega ao Pego da Curva, Pé de Cão, Toucinhos, a mil e um lugares escondidos da civilização onde apesar de tudo encontramos o melhor que ainda somos como portugueses e ribatejanos.
A grande festa dos 25 anos de O MIRANTE é o momento da chegada do nosso jornal à caixa de correio de todas essas pessoas que o agarram e sentem orgulho por fazerem parte também eles de uma grande família e de uma grande região que nós temos ajudado a unir e  a tornar ainda maior e mais rica.
Sem a colaboração dos leitores não seriamos o que somos hoje. E sem o crédito que eles nos concedem ao lerem o jornal e ao mostrarem orgulho em serem assinantes, ou simplesmente leitores atentos, nunca teríamos chegado aos 25 anos com a força editorial que podemos comprovar nas duas edições que, entretanto, estão a chegar a todas as caixas de correio.
JAE

*Texto publicado em vídeo em O MIRANTE TV

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Rui Barreiro e a coisa pública


A notícia que publicamos nesta página parece-me de interesse público. Aos jornais e aos jornalistas compete escrever a verdade e só a verdade independentemente das pessoas e dos interesses em causa. Neste caso os leitores de O MIRANTE merecem ser informados que a publicação desta notícia fica a dever-se ao facto de vivermos ainda numa democracia e de os responsáveis editoriais de O MIRANTE ainda confiarem nas instituições democráticas. O último comentário publicado sobre este assunto levou Rui Barreiro pela enésima vez a apresentar queixa em tribunal contra jornalistas deste jornal.
A intenção é amedrontar, limitar, cercear o direito à liberdade de imprensa. Com a Justiça que temos é ainda mais fácil complicar a vida a quem vive do oficio do jornalismo; quem não tem dinheiro nem vagar para caminhar para os tribunais; para influenciar o que é influenciável nesta máquina poderosa que é a justiça portuguesa actual que merece as maiores criticas das forças vivas da nossa sociedade.
Rui Barreiro é uma figura pública com imensas responsabilidades no caos a que o país chegou. Fez mais mal a Santarém que os temporais que deitaram abaixo as barreiras que sustentam o planalto escalabitano. Nem imagino o quanto terá gerido mal como secretário de Estado mas palpito, a confiar na sua falta de jeito para gerir a coisa pública.
No último processo que entrou em tribunal estão lá os do costume como testemunhas: João Machado, o patrão do CNEMA, Joaquim Rosa do Céu, o príncipe de Alpiarça, Manuel Afonso, o cacique perfeito. JAE

Comentário à noticia: http://semanal.omirante.pt/index.asp?idEdicao=573&id=87010&idSeccao=9727&Action=noticia

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A desgraça do camarada


A notícia de O MIRANTE sobre a penhora do vencimento do presidente da Câmara de Ourém gerou uma discussão própria de um país de Velhos do Restelo.
Uma boa maioria dos socialistas que se manifestaram publicamente no Facebook solidarizando-se com Paulo Fonseca lamentaram mais a notícia que a aparente “desgraça” do camarada.
A verdade é que a penhora do ordenado de Paulo Fonseca é notícia em Ourém há muitos meses. E em todos os lugares públicos do concelho se ouve falar deste e de outros assuntos de uma forma, às vezes, tão especulativa que a fantasia ultrapassa em larga medida o tamanho da pequena realidade.
A notícia de O MIRANTE é um serviço a Paulo Fonseca nomeadamente no esclarecimento de um assunto que o atinge pessoalmente e que é razão para grandes manifestações da imaginação popular.
Agora já ninguém tem nada para inventar. O MIRANTE consultou o processo e explicou a verdade da penhora do vencimento de Paulo Fonseca. Nada do outro mundo nestes tempos difíceis que atravessamos.
Fonseca e os socialistas seus amigos e admiradores não pensam da mesma forma. O MIRANTE e os seus jornalistas são o diabo em pessoa e só querem retaliar por causa de umas páginas a menos de publicidade, como confessa o chefe de gabinete do autarca solidarizando-se também publicamente com o seu chefe e “patrão”. A pouca vergonha não é crime; Este é daqueles exemplos tristes e pouco dignos mas quem anda à chuva molha-se, como diz o povo. E para não estarmos aqui com meias palavras tenho uma opinião bem diferente daquela que Paulo Fonseca deu neste caso. Já não penso assim sobre alguns dos seus amigos, camaradas e subordinados que no exercício de cargos públicos têm dado boas provas de panconice crónica. JAE

Comentário à noticia: http://bit.ly/WKYGRs

Por debaixo dos panos


José Fidalgo foi um autarca respeitado até ao último dia do seu mandato. É raro assistir a um percurso político como o de Fidalgo onde sempre imperou o diálogo e o respeito. A sua retirada de cena muito antes do final do mandato demonstrou um desapego ao poder que também não é normal. Fidalgo entregou a Junta de Vila Franca de Xira de mão beijada a Ana Câncio e seus pares. Deu ao Partido Socialista a possibilidade de regeneração de acordo com políticas e solidariedade que aparentemente já não resultavam.
Apesar dos seus quase 60 anos, José Fidalgo foi acabar o curso universitário e ficou na universidade como professor. É um percurso que não tem nada a ver com as vidinhas de Ana Câncio por mais exemplares que sejam. Não tenho nada de pessoal contra a senhora mas tenho contra os políticos oportunistas e os políticos que não sabem ser gratos e respeitar compromissos assumidos.
O discurso ressabiado de Ana Câncio que foi notícia na passada edição, e ao qual voltamos agora, é um bom exemplo de falta de jeito para a defesa da coisa pública. Em vez de trabalhar e aproveitar para mostrar trabalho, Ana Câncio bateu em José Fidalgo e disse que agora “a casa está arrumada” mas que “falta limpá-la e aprimorá-la, sem limpar o chão com panos sujos”.
O texto de Ana Câncio parece uma redacção do tempo da escola primária. Em vez de aproveitar o balanço de um ano de trabalho para mostrar serviço, não resistiu à tentação de se armar em vítima e em “carapau de corrida”. Não vai longe pelo estilo e pela falta de jeitinho que já demonstrou.
Acho um exagero pedir a sua demissão por causa de um discurso ressabiado. Deve cumprir o mandato até ao fim quanto mais não seja para compensar o facto de ser uma cidadã com privilégios de que nem todos se podem gabar. JAE

Comentário à noticia: http://bit.ly/RXChdU

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Algumas palavras a menos


A minha última crónica neste espaço deveria ser sobre livros, cinema, artes plásticas ou o que vai agora pelo Tejo abaixo. Gostava que fosse sobre música mas acho que nunca conseguirei arte e engenho para escrever sobre o tema. Termino com a política como assunto principal.
A passada semana foi especial porque tivemos reunida em Santarém a Associação Nacional de Municípios. Uma tourada como toda a gente sabe. Na altura mais difícil para o Poder Local os autarcas estiveram mais divididos do que nunca. Vamos bater no fundo com os governantes que temos. António José Ganhão e Maria da Luz Rosinha fizeram a diferença embora com posições diferentes. Mas fica o registo porque são dois autarcas em fim de mandato e com Obra feita.

Nesta edição damos conta de uma história que vai custar milhares de euros à Câmara do Entroncamento por causa da falha dos serviços da autarquia na publicação de um concurso público no jornal oficial da União Europeia. Tem sentido chamar a atenção para esta notícia porque este Governo deu uma machadada na transparência da coisa pública ao dar indicações a todos os organismos públicos para que não gastem um cêntimo em publicações na imprensa. Como é evidente os jornais perderam uma receita significativa mas a democracia também perdeu mais uma batalha. A União Europeia vai ao bolso à Câmara do Entroncamento e arranjou-lhe um sarilho que ainda vai dar muito que contar uma vez que a Obra já vai a meio e até o concurso público vai ter que ser repetido. Por outro lado o Governo do país dispensa os jornais e para poupar dinheiro faz o contrário daquilo que a União Europeia quer para manter a transparência dos concursos públicos. Há um secretário de Estado no meio de tudo isto que ninguém sabe o que anda a fazer e se tem alguma opinião. Arons de Carvalho (PS) e Feliciano Barreiras Duarte (PSD) vão ficar na história por terem vistas curtas e não conhecerem o país em que vivem. Por mais do que uma vez tiveram responsabilidades no sector da Comunicação Social e em todas as vezes falharam redondamente.

Esta semana estive na Assembleia da República a assistir a um debate sobre agricultura. No intervalo fui beber um café e paguei 35 cêntimos. Ao meu lado um dos oradores do encontro desafiou a senhora da cafetaria a abrir uma pastelaria no Algarve. O debate era sobre a cultura da beterraba que se semeia nos campos do Ribatejo e Alentejo. Para bom entendedor meia palavra basta. Para não me chamarem mentiroso confesso que o meu café foi pago pelo deputado Vasco Cunha que presidia à comissão e que reuniu alguma da fina flor dos nossos agricultores e dirigentes associativos.

O título desta última crónica neste espaço é enganador. No lugar da crónica publicaremos algumas das notícias que nos últimos tempos têm ficado nos computadores por falta de espaço. Espero compensar as palavras a menos neste espaço com outras palavras mais certeiras e inteligentes noutras secções do jornal. Um jornalista só se reforma no dia em que morre. Apesar de ir a caminho dos setenta anos (só me faltam 12 e ainda ontem tinha 30 anos!!!) sinto que ainda posso continuar a dar o meu melhor por este projecto editorial que faz a diferença na imprensa regional portuguesa.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Rumar ao Sul

Uma boa parte dos meus amigos são pessoas mais velhas do que eu. Na minha adolescência e início de idade adulta já era assim. Os meus adversários no bilhar, no ping-pong, nas damas e jogo das cartas eram sempre pessoas mais velhas e mais experientes. E eu tinha orgulho nisso; e aprendi muito com eles nomeadamente a perder que é o exercício mais difícil que os Homens enfrentam ao longo de toda a sua vida.
Hoje, como ontem, mantenho essa tendência de que continuo a orgulhar-me. O jogo agora é outro; as emoções também são bem diferentes; o espírito é que é o mesmo; aproveitar as amizades para tentar dar sempre mais do que aquilo que recebo. Quando sou capaz sinto-me realmente feliz. Mas também há situações em que sou surpreendido. E esta semana tive uma boa surpresa ao conseguir voltar ao contacto com uma pessoa com quem já não falava há duas décadas e reencontrei graças a um desses amigos mais velhos e sábios. Fica aqui o registo porque a edição dos 25 anos de O MIRANTE, a 16 de Novembro, vai registar alguns desses afectos de longa data e também mais recentes.

Para mim viajar é rumar até ao Sul. Mesmo que os caminhos sejam para Norte. Descobri recentemente que vou para Sul sempre que parto de Santarém, ou da Chamusca, para Lisboa ou Benavente. Mas quando saio de Vila Franca de Xira a caminho da Chamusca, ou de Santarém, também me sinto igualmente a caminho do Sul que é onde construí a minha casa.

O Tribunal de Almeirim é o exemplo da miséria do país em que vivemos. Dez mil processos na gaveta, num tribunal a funcionar em instalações provisórias, que entretanto se tornaram definitivas, é próprio de um país do Terceiro Mundo em que a justiça se faz à catanada. Se cada processo envolver dez pessoas há, pelo menos, 100 mil pessoas da região revoltadas com os governantes e os “filhos da mãe” que controlam o Sistema. O que se passa no Tribunal de Almeirim devia ser suficiente para uma insurreição popular. Só quem não sentiu já na pele o efeito dos atrasos da Justiça é que pode julgar que brinco com as palavras. Se pudesse dava o exemplo.

“Quanto mais um homem prova a sua incapacidade tanto mais apto se torna para governar o seu país”. “Há muitos anos que a política em Portugal apresenta este singular estado: doze ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente possuem o poder, perdem o poder, reconquistam o poder, trocam o poder...O Poder não sai de uns certos grupos, como uma péla que quatro crianças, aos quatro cantos de uma casa, atiram umas às outras, pelo ar, num rumor de risos” (Eça de Queiroz, Junho de 1871).

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Os burgueses morrem de fome e de sede; o povo morre revoltado


Os relatórios diários dos telefonemas que chegam à redacção davam para escrever um outro jornal. Esta semana foi pesada em alguns assuntos que nos preocupam. Gente mais idosa a desistir da assinatura por falta de dinheiro; dois leitores a desabafarem que não renovam porque temos o jornal cheio de publicidade; meia dúzia de leitores fartos de receberem o jornal oito dias depois dele já ter sido distribuído; um leitor descontente com uma notícia dizendo que nós somos terroristas a escrever. Pelo meio, e como sempre, muitos telefonemas a denunciarem situações que enchem a nossa agenda e que, infelizmente, nem sempre conseguimos dar a atenção que gostaríamos.

Na passada semana assisti a uma cerimónia que durou toda a tarde e onde estava um batalhão de jornalistas. Nesse dia à noite, e no outro dia, só consegui ouvir as declarações de Mário Soares a afirmar que este Governo não pode chegar ao fim da legislatura. Do acontecimento onde esteve Mário Soares e do que ele disse, que é bem mais importante que a declaração usada para abrir noticiário, não se escreveu ou publicou uma linha.
O jornalismo de secretária continua a imperar nas redacções. Os jornalistas passam horas a fazer a cobertura de um acontecimento e depois publicam meia dúzia de frases arrancadas no final do dia de trabalho quase sempre à margem daquilo que foi o verdadeiro acontecimento. Não vejo a classe jornalística preocupada com os interesses imediatos dos partidos que fazem o jogo político à custa da comunicação social. A coisa é demasiado vergonhosa para ser contada. As mudanças na rotunda do Marquês de Pombal são o retrato mais fiel do país em que vivemos. Nada justifica aquelas obras e a comunicação social acompanha o assunto como se o país estivesse permanentemente com os olhos postos nos problemas do trânsito naquela rotunda. O país parou por falta de dinheiro para que as autarquias e as pequenas e médias empresas mantenham sinais de vida nas classes mais pobres. A Câmara de Lisboa e a comunicação social de Lisboa têm uma grande margem de manobra para continuarem a fingir que o mundo gira à volta do Marquês de Pombal.

Senti as emoções das manifestações do passado sábado. Assisti ao corrupio para a praça José Fontana, em Lisboa, e observei alguns comportamentos que me fizeram lembrar tempos antigos em que a revolução estava na rua e as pessoas tinham os dentes e os punhos cerrados.
Sou visceralmente contra o Sistema que domina e corrompe a democracia. O Governo está a cortar nos vencimentos dos mais pobres e não corta nos altos funcionários que minam os serviços públicos. Há milhares de ex-secretários de Estado, ministros e directores disto e daquilo que, depois de terem passado por lugares dourados, nunca mais trabalharam. Estão em “prateleiras” a viverem à custa do orçamento. A maioria tem avenças com empresas privadas como consultores e, à boa maneira fascista, ganham o que querem e o que podem.
Os advogados/deputados da Assembleia da República continuam com escritórios abertos nas principais avenidas da capital. Ninguém sabe quantas empresas amigas dos políticos no Governo é que o Estado vai salvando com entradas de dinheiro fresco no capital social. É um fartar vilanagem.

Num país onde a justiça não funciona, ou funciona com dez anos de atraso, não há democracia que valha estes sacrifícios; num país onde os políticos se protegem desta forma vergonhosa não nos resta outra alternativa que as manifestações de rua. Ninguém faz milagres e o Governo parece estar a fazer o que pode. Mas do discurso à prática vai uma grande distância. Quem não sabe comunicar não sabe governar. E toda a gente também sabe que de boas intenções está o mundo cheio; e que quando começa a faltar o pão para a boca ou morremos de vergonha ou com a boca cheia de espuma. Em tempos de crise os burgueses, regra geral, morrem de fome e de sede; o povo morre revoltado.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

As touradas e a política


O vinho tinto devia vender-se nas farmácias. Tomei nota desta frase que foi proferida num desses almoços que de vez em quando faço por aí com amigos ou conhecidos. Não bebo vinho ao almoço; só se for por um dedal e uma única vez. Quem trabalha não bebe. Ou então bebe e não trabalha o que devia. Aprendi muito cedo a abrir o jogo. E depressa notei que as pessoas, mesmo as mais velhas e experientes, não gostam de fazer má figura e sugerem o vinho ao almoço por uma questão de educação e simpatia. Quando assumo a água como a minha bebida preferida, ou a cerveja sem álcool, percebo que a maioria gosta da minha atitude sem cerimónia. Neste caso o meu amigo mandou vir um jarro de vinho da casa. Mas bebeu menos de meio jarro. Eu sabia que ele ia trabalhar a seguir ao almoço e tive a prova de que não há homens que possam mais do que o vinho no sangue.

Tenho um dos hábitos considerados mais feios para quem frequenta lugares públicos. Assim que me sento na cadeira de um restaurante, ou de um teatro, ou de um qualquer auditório, a primeira coisa que faço é descalçar-me. Por causa disso já passei por situações caricatas mas não conto aqui para não ficarem a rir-se de mim. Tomo notas para esta crónica no meio de uma cidade de África onde ando descalço todo o dia como quase todo o mundo. Aliás os residentes andam de chinelos. Eu ando descalço de dia e de noite com os sapatos pendurados aos ombros pelos atilhos. Quando era criança pensava no que me está a acontecer agora. Será que um dia vou ter coragem para assumir que o que gosto é de andar descalço, pensava, na altura já com a certeza que nada me faria mudar naquilo que eu já era, no essencial, como pessoa.

Um amigo recebeu-me no seu gabinete de trabalho. Para fazer conversa contou-me que o sofá onde eu estava enterrado tinha como objectivo pôr-me a olhar para ele de baixo para cima. Era uma técnica que ele tinha aprendido para se valorizar na sua cadeira de empresário e gestor. A partir desse dia, e já lá vão muitos anos, acabei com os sofás no meu gabinete e comprei quatro cadeiras de pau que é onde faço todas as minhas reuniões de trabalho e recebo as pessoas que me procuram.

O PSD e o CDS não se entenderam mais uma vez para alterarem a lei autárquica. Mesmo a questão da limitação de mandatos vai ser uma confusão. Passos Coelho e Miguel Relvas têm culpas no cartório; claro que têm. Mas o mal vem de trás; dos governos de Sócrates que andou estes últimos anos a fingir que governava. E os autarcas são cada vez mais figuras de um museu de cera; só mandam nos seus redutos e têm uma associação nacional que parece uma secretaria de Estado do Governo em funções. Volto à vaca fria; o poder local precisa de se regenerar; e era muito importante que não precisasse dos políticos profissionais, ou dos oportunistas, como parece ser cada vez mais o caso de Moita Flores que veio para Santarém a meio tempo organizar touradas.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Políticos que já foram polícias e parteiros


O Poder Local era o maior orgulho das conquistas do 25 de Abril de 1974. A Lei dos Compromissos veio pôr a nu uma realidade completamente oposta àquela que vivemos nos anos a seguir à revolução. O Poder Local perdeu prestígio e influência. Nalguns casos, ou em muitos casos, perdeu o respeito do povo e do Governo da nação. Caso para dizer, generalizando, que os autarcas na sua grande maioria passaram de bestiais a bestas; de gente ilustre a calhamaços.
Ninguém os ouve; eles próprios não se falam nem se ouvem uns aos outros. As autarquias não têm responsabilidade na situação crítica que o país atravessa. Há autarcas irresponsáveis, manhosos, lunáticos, analfabetos e corruptos. Mas muito poucos fizeram mal ao país. Os bons são uma grande maioria. Sabem defender os interesses das suas populações e, melhor do que isso, sabem investir o dinheiro do orçamento no crescimento das suas terras. Um negócio de um Governo, ou de um ministro, como é o caso do Freeport ou dos submarinos, é mais grave que noventa e nove por cento dos maus negócios dos maus autarcas.
Como é que é possível os autarcas, que na sua grande maioria fazem parte dos partidos do poder, se tenham deixado entalar por este Governo ao ponto de, no meio de todo o esplendor que são os grandes ministérios, onde há milhares de funcionários a ganhar brutos vencimentos sem porem os pés no emprego, as autarquias passarem a instituições miseráveis?
Voltamos ao país envergonhado, com as unhas sujas e com a barba por fazer; ao país que precisa de fechar-se por dentro e correr as cortinas; voltamos à época de servir não quem se respeita mas quem se vê no Poder, como escreveu o Eça.
O país está cheio de políticos que já foram polícias e parteiros, investigadores e contrabandistas. Chega de miséria franciscana.

Estou a chegar a casa depois de uma tarde de praia no areal do Tejo e não vejo a minha rua tão suja como o Largo do Rossio em Lisboa; nem o cheiro a mijo junto ao Pelourinho da minha aldeia se compara com o cheiro a esgoto na Praça do Comércio que depois sobe a Rua do Ouro e ainda se cheira no Chiado.

Se o presidente da Câmara de Ourém tem tantos turistas no Santuário de Fátima como aqueles que se espalham por toda a cidade de Lisboa durante um ano, faz sentido que os lisboetas e os políticos de Lisboa possam mijar pró Tejo e nós aqui nem possamos mijar fora do penico quanto mais para o ribeiro que nasce no meio do mato?

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Quero ser dinamarquês


Vivo e trabalho numa região das mais ricas do país a poucas dezenas de quilómetros de Lisboa. Nem por isso me sinto mais privilegiado que os habitantes de Chaves ou de Bragança. Por viver tão perto do Terreiro do Paço sinto em dobro a frustração de ser contribuinte de um país de zarolhos, de cabrões que mandam no sistema judicial, económico e social do meu país com a mesma facilidade com que mando à merda a administração da gasolineira que acaba de nos exigir uma garantia bancária se quisermos continuar a usar o cartão de frotista.
O sistema capitalista funciona com todas as regras e ai daqueles que ousarem desafiar o poder instituído. Só os filhos da puta sobreviverão num sistema onde quem manda são os filhos das mesmas mães.
Se não nos soubermos organizar na defesa dos nossos direitos, e no seio da sociedade civil a que pertencemos, morreremos na boca dos cães que governam as instituições públicas que por sua vez são governadas pelos poderosos sem rosto que só sabem que nós existimos (nós, o povo, a arraia miúda, os escravos dos impostos) porque temos um número de identificação.

A defesa da RTP como instituição de serviço público é a maior macacada da nossa democracia e mostra à saciedade que no jogo demagógico o PCP é igual ao CDS. A RTP é um buraco no orçamento do Estado e uma empresa onde cabem, conforme os governos, todos os amiguinhos. É ainda um órgão de informação onde os políticos com Poder metem o bedelho sempre que querem e sem contemplações. Só quem não conhece o sistema é que tem ilusões. Só quem não está por dentro do sistema é que acredita em milagres. Os políticos só não esmagam os que dependem deles porque têm medo de ficar com o engaço nas mãos; mas espremem até onde podem; e todos nós sabemos como eles podem e o que podem.

Os jornais de referência de todo o mundo publicaram e continuam a publicar na primeira página, com fotos em grande destaque, as notícias do julgamento e agora da condenação do norueguês que assassinou a tiro e à bomba 77 pessoas na sua maioria jovens. Num mundo perfeito esta notícia seria sem foto e se tivesse chamada à primeira página seria de forma discreta. Um jornal que eu editasse jamais teria na primeira página a foto colorida e em pose de um fascista que sem qualquer tipo de arrependimento chacinou 77 pessoas que foram aquelas que apanhou pelo caminho até ser preso. Quem perceber esta forma de trabalhar perceberá porque estou contra a existência de uma empresa de comunicação social onde o Governo pode, quer e manda, como é o caso da RTP, que custa os olhos da cara a um Estado sem condições para respeitar os compromissos com os cidadãos reformados ou a precisarem de um serviço público de saúde.

Neste mês de Agosto há uma Unidade de Cuidados Continuados na nossa região, com cerca de vinte doentes, a pagarem mais de mil euros por mês, com apenas duas profissionais de saúde de serviço. Se isto não é ladroagem e canalhice então eu quero ser dinamarquês.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Os turistas trocaram Santarém por Tomar


São três horas da tarde de um dia de Agosto. Não sei se não era melhor estar de barriga vazia à beira do rio Tejo debaixo de um salgueiro se bem almoçado e entre quatro paredes organizando a minha vida e a dos outros.

Conheço certos tipos da minha idade que trabalham na administração pública que passaram estes anos todos sem fazerem a ponta de um corno. Trabalharam a maior parte do tempo para eles com os recursos que tinham à mão e abusando da confiança de quem lhes deu rédea larga. As crises também têm o seu lado bom; ajudam a moralizar a vida em sociedade; obrigam os bem instalados a saírem da toca.

Dantes as pessoas iam para a prisão por ficarem a dever aos seus fornecedores. Hoje, abrem insolvência e continuam ricas e abastadas gozando com os pobres dos credores que, em muitos casos, são pequenos empresários que investiram tudo o que tinham num negócio.

A nossa casa é a melhor do mundo; fresca no Verão e quente no Inverno. É uma obra da arquitectura moderna. Lá dentro respiramos felicidade. Temos um pequeno problema; a casa do vizinho está a cair para cima da nossa e os bombeiros lá da terra dizem que podemos correr perigo de vida. Cada um que tire as suas conclusões na certeza de que este exemplo não é de nenhum livro de ficção.

Se somos pessoas normais o normal é darmos uma terceira oportunidade às pessoas que falham connosco. Embora, regra geral, quem precisa de uma segunda oportunidade precisa de uma terceira e de uma quarta e por aí adiante.

Há 20 anos propus a quem trabalhava comigo que fechássemos o jornal para férias durante quinze dias de Agosto. Riram-se na minha cara e mostraram-me que eu os subestimava. Em 20 anos muita coisa mudou. Mas neste capítulo só mudámos de sorriso: agora rimo-nos da ingenuidade da altura. Ainda hoje dizemos em uníssono: quando fecharmos para férias o mais certo é já não reabrirmos.

Em rapaz quase todos os dias passava fome. Era debiqueiro. A minha avó é que me safava dos talos das couves e do resto dos legumes. Açorda era o meu prato preferido. Acabo de comer um filé mignon e sinto-me um sortudo. E todo eu sou vontade de me tornar vegetariano.

“Quem agarrar na charrua e olhar para trás não é digno do reino de Deus”. “Não vos preocupeis com o dia de amanhã pois o amanhã tomará conta de si mesmo. A cada dia basta a sua pena”. Leio os meus escritores preferidos e vejo como gostam de citar a Bíblia.
Sou dos que agarra na charrua e olha para trás; sou dos que se preocupam com o dia de amanhã e, às vezes, durmo mal só de me lembrar o que tenho para fazer nos dias seguintes. Como eu gostava de ser mentiroso e acreditar nas minhas próprias mentiras; como alguns políticos; como alguns mentirosos que se confessam aos padres e se dizem discípulos de S. Francisco.

Adoro filé mignon mas não deixo de pensar na hipótese de um dia me render à vida vegetariana. Já passei por muito pior e sobrevivi.

Nota: o título da crónica é só para lembrar que a principal promessa de Moita Flores quando veio para Santarém não foi comprar aquecedores para as criancinhas das escolas. Nem ligar os esgotos e distribuir água ao domicílio. Essa conversa é a do Raul Solnado nos seus melhores tempos.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Saramago, os idiotas da política e os livros


A responsabilidade de manter um espaço de crónica faz dos autores cronistas a tempo inteiro ainda que as palavras da crónica se juntem apenas uma vez por semana como é o caso.
Não fujo, regra geral, aos interesses dos leitores que gostam de ler sobre o que lhes está mais próximo. Mas confesso que muitas vezes tenho consciência que, cumprindo a minha missão, faço mais o gosto ao dedo que aos leitores. É o caso desta semana.
No sábado passei a manhã de banca em banca de livros a comprar preciosidades a um, dois e cinco euros, livros que não tenho a certeza que consiga ler ainda a tempo ou, dito de uma forma mais directa, que chegue a ter tempo de vida para os ler. Alimentar essa esperança é uma boa razão para viver mais feliz ainda que a vida, tal como o melhor livro, nunca chegue para nos satisfazer na plenitude.
Da biografia de Pedro Álvares Cabral, que desconhecia e que se tem revelado uma leitura apaixonante, a um livrinho de Alberto Moravia, acabei rendido a um romance de Javier Marias, um escritor espanhol que é autor de um livro chamado “Vidas Escritas”, livro que levaria para uma ilha deserta. “Todas as Almas” é o título do livro que me custou dois euros; uma edição do ano de 2000 com uma pequena apresentação de António Lobo Antunes que aproveita para dizer que Marias é um dos mais importantes escritores espanhóis contemporâneos e “um autor cuja ficção deixa à légua o que aqui portuguesmente se escreve”. Um dia antes de ler, com um atraso de mais de 12 anos, as palavras de Lobo Antunes, li uma crónica de Baptista-Bastos no “Jornal de Negócios” a salientar o nosso complexo na relação com os espanhóis (“a inveja do nosso vizinho é de longa data”), afirmando aquilo que eu também penso mas não sou capaz de escrever tão bem como ele.

Conheço em boa parte as maiores cidades de Espanha e sinto-me personagem de Gulliver quando ando por lá e percebo o quanto estamos a milhas do poder económico, social e cultural dos nossos vizinhos. As suas cidades médias são, regra geral, mais bem organizadas que a melhor das nossas. E aquela gente soube preservar o seu património, sai à rua e habita as praças e os jardins públicos como nós ainda habitamos as casas por rebocar construídas ao fundo dos nossos quintais.
Nunca vi escrito que José Saramago deve em boa parte o prémio Nobel à influência de Espanha e dos espanhóis. A prova é que nos últimos anos da sua vida os ministros da Cultura do país vizinho marcavam presença em iniciativas do escritor onde nem compareciam os nossos patéticos secretários de Estado da Cultura. É evidente a presença amiga e institucional dos maiores da cultura espanhola na vida de Saramago antes e depois do Nobel. Em Portugal, durante muito tempo, o melhor que José Saramago teve foi um Sousa Lara que tinha precisamente a responsabilidade de secretariar o Estado, um lugar por onde passam, regra geral, os mais idiotas dos políticos da nossa praça. JAE

NOTA: Recentemente fui condenado no Tribunal por ter escrito sobre um político que ele era um idiota a governar. Espero bem que os sousas laras deste país não encontrem muitos juízes com a certeza de que chamar idiota a um político no activo é um crime com direito a castigo. Se for assim ainda vamos ter que voltar a escrever na clandestinidade; ou meter a viola no saco como conviria a muita gente.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Toiradas de borla…. e uma história de vida exemplar


O homem que mensalmente limpa os vidros das janelas da sede da redacção de                 O MIRANTE é pau para toda a obra. Um dia destes, já quase no final da jornada de uma tarde de trabalho, alguém o abordou para um trabalho de limpeza de um terreno. Assim que ouviu a pergunta sobre se fazia o trabalho ou conhecia alguém que o fizesse, o Senhor Luís ajeitou o ombro na porta do gabinete de trabalho, e contou a história, com orçamento e tudo, de uma outra solicitação para um trabalho do género.
De limpa vidros passou rapidamente para o papel de orçamentista usando a técnica mais apurada do gestor de negócios que sabe que o trabalho tanto pode valer cem, como mil, dependendo da qualidade e do dinheiro que o cliente tem para gastar.
Poupo os pormenores aos leitores mas deixo esta imagem que fala por si; antes de pedir as dezenas de euros pelo trabalho perguntou o que o seu interlocutor achava do outro orçamento e no balanço da resposta avançou um preço à velocidade da luz.
Depois, e enquanto não obteve uma resposta que o satisfizesse, contou um pouco da história da sua vida que alguns de nós já conheciam embora sem tantos pormenores.
Limpa vidros alguns dias por semana por conta de uma empresa da especialidade; profissional de segurança numa empresa da região que trabalha do Minho ao Algarve; jardineiro com clientes certos e biscateiro para todo o serviço incluindo limpeza de terrenos. É assim a vida profissional do Senhor Luís que ainda tem tempo e espírito para exercer voluntariado na associação de bombeiros da sua terra.
Conto a história porque este homem é o meu herói. Há anos (que sei eu sobre o tempo que vai passando e eu nem dou por ele!) que, ao cruzar-se comigo na empresa, me trata como se eu fosse a pessoa mais importante ao cimo da terra. Sempre pelo nome e da forma mais respeitosa que conheço. Não só para mim como para todos os que circulam nos corredores a quem mostra disposição para subir e descer o escadote as vezes que forem precisas de forma a facilitar a circulação.
Num tempo de desempregados; de greves às horas extras, de manifestações contra as leis do trabalho, de falta de mão-de-obra para tantos sectores importantes das empresas; num tempo em que toda a gente perde para os bancos a casa e o carro, e vende as jóias de família, este homem é um exemplo que eu jamais poderia deixar sem palavras.

O fecho da Escola de Hotelaria e Turismo de Santarém é mais um exemplo da incompetência política de Carlos Abreu e dos seus correligionários que durante anos governaram os interesses da cidade e da região sem prestarem contas julgando que governavam numa república das bananas. Quem veio a seguir não fez melhor porque os interesses estavam instalados e assim ficaram com a complacência de Francisco Moita Flores que acabou por fazer fumo onde tinha prometido fazer fogo.
A Casa do Campino, fica agora, só ao serviço do Festival de Gastronomia. É assim que se vê a importância da cidade de Santarém e dos políticos que a governam. E o povo que se contente com os bilhetes de borla para as toiradas.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Um dia especial


A crise continua a ser matéria para muita preguiça. Não resisto a escrever sobre a minha vida em tempo de crise. Na segunda-feira passei a manhã de empresa em empresa à procura de material para montar meio hectare de terra com um sistema gota a gota. Só numa empresa fui atendido por quem efectivamente queria vender o produto. Em quatro balcões fui tratado sempre com alguma simpatia mas sem notar qualquer esforço em segurarem-me como cliente. Acabei a comprar onde efectivamente foram solícitos, deram os melhores preços e prometeram ser mais rápidos a entregar a mercadoria.
Em todos os balcões recambiaram-me para outros. Achei curiosa a forma das pessoas que estão ao balcão serem úteis na informação ao cliente; mas fiquei a perguntar-me: quando o Correio da Manhã ou o Diário de Notícias vêm ao mercado de O MIRANTE roubar os nossos anunciantes, prometendo o que não conseguem dar como nós damos, será que o sector comercial de O MIRANTE também baixa os braços e deixa correr o marfim?

Em tempo de crise não percebo como quase toda a gente vai de férias em Agosto; como se mantém a mesma postura na gestão de um negócio sabendo que as vendas estão a cair e o dinheiro não entra em caixa de forma a chegar para cumprir os pagamentos graúdos à Segurança Social e ao Fisco, incluindo o pagamento do IVA facturado que as empresas só recuperam dos clientes muitos meses ou anos depois.
Depois desta viagem em nome da rega gota a gota encontrei-me à entrada da redacção do jornal com um homem que acaba de fechar uma das lojas mais antigas da cidade de Santarém.
Ia a caminho do parque de estacionamento não pago junto à Igreja de Santa Clara. Meia hora de conversa e nas suas palavras o Centro Histórico de Santarém ficou ainda mais deserto e em ruínas.

Na passada semana fui almoçar a um daqueles restaurantes antigos da zona histórica onde não entrava há uma eternidade. Nada de novo: uma sopa, um prego e uma cerveja ao balcão. Passaram duas pessoas pelo restaurante naquela meia hora. Ficou a memória dos símbolos do Benfica por todo o lado e o agradecimento do patrão na hora de pagar. E um especial “obrigado também pela visita” que registou a minha ausência de muitos anos.
Na terça-feira almocei em Alhandra no restaurante Voltar ao Cais. É o lugar e o restaurante que todos gostávamos de ter ao lado da porta de casa. “Ninguém sabe agradecer como uma senhora”; foi um dos pensamentos da altura que durou até à hora de escrever esta crónica. Nas cerca de duas horas de refeição o leito do Tejo subiu mais de meio metro num contraste gritante com o que conheço mais habitualmente do convívio com o rio.
Voltarei ao cais para voltar a ter um dia especial.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Os cancros não se escolhem


Tinha 18 anos quando aconteceu o 25 de Abril. Era politizado quanto bastava para saber que terreno pisava. Trabalhava na taberna e cervejaria mais movimentada da minha terra e misturava-me nas conversas sobre política, muitos anos antes do 25 de Abril, que aconteciam muitas vezes à volta de uma mesa com os cuidados que eram necessários nessa altura. Mas nem por isso em voz baixa e temerosa. Depois da revolução dos cravos, e embora tenha saído à rua como toda a gente, sempre me faltou vocação e coragem para a vida política. Andei por lá, à esquerda, sem filiação partidária e com o espírito mais rebelde que se pode imaginar num jovem sem liceu e sem universidade, apenas com a tarimba do ofício de vender, e beber, copos de vinho e cervejas.
Até aos 23 anos não fiz mais do que aguçar o meu espírito crítico e anárquico. Depois de me emancipar, mais ou menos por essa idade, encontrei o caminho por onde ainda gosto de gastar as solas. Nunca quis, nem quero, uma casa ou um emprego para toda a vida; Não quero, não gosto, nem tolero que a minha vida seja sempre a procura habitual do prazer da comida, do sexo , da riqueza ou do poder.
Vejo o mundo desde os meus 13 anos com os olhos de um descrente. “Para a grande maioria da humanidade, desde sempre, no tempo histórico ou geográfico, o poder e a lei e o princípio de igualdade nos assuntos legais e políticos são simplesmente irrelevantes; a história das nações, sociedades e culturas tem sido, com raras excepções, a de várias ordens de relações de poder teocráticas, ditatoriais, paramilitares ou ditadas pelo espírito de clãs” (George Steiner).
Claro que em termos aristotélicos, como escreve ainda Steiner, essa abstenção é uma imbecilidade, uma vez que dá aos bandidos, corruptos e medíocres, todos os incentivos e oportunidades para tomarem o poder.
A verdade, no meu caso, é que contento-me cada vez mais com a ideia de que sou um cidadão não lucrativo ao dedicar-me, mais do que é normal, à leitura de poesia ou a ouvir música de Bach e Maller, a compor problemas de damas e a querer saber tudo sobre o Bosão de Higgs.
Apesar de ter consciência que o nosso entendimento do mundo aumentou mais de cem vezes nos últimos dois milénios, e de que uma criança de escola pode aprender hoje aquilo que na antiguidade era inacessível a Arquimedes ou a Galileu, apesar de tudo isso, sinto-me melhor na especulação filosófica ou a escrever poesia que a trabalhar para alimentar o progresso ou aquilo a que nos habituamos a chamar “sociedade capitalista”.
Para o bem e para o mal os cancros não se escolhem. E, nesta coluna, também não me nego a combater aquilo que eu acho que é a mediocridade reinante. Levo a sério a frase de James Joyce criticado por ter uma actividade exasperante para os poderes instituídos: “Espremam-nos que somos
azeitonas”.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Impostores e abéculas importantes


Uma crónica de Verão incluiria no meu caso a história de sucessivas idas ao teatro e ao cinema. Longos períodos nas livrarias a adorar livros como jamais adorei santas; alguns mergulhos do paredão da praia do Estoril ou umas visitas mais raras à praia do Meco e às várias praias da Caparica; um, dois, três mergulhos no rio Tejo, e uma sesta na maracha ali para os lados da Chamusca e da Golegã; umas massagens de reflexologia e de shiatsu; viagens de curta duração a Nápoles, Florença, Madrid, Paris e Amesterdão. Enfim, tenho mil projectos para realizar ainda a tempo de aproveitar a energia do corpo, e a força do espírito, que prometem desaparecer com o avançar da idade. Para quem não sabe tenho quase sessenta anos e sei que a falência dos meus órgãos está para breve. Se não aproveitar enquanto duram, bem posso ser o melhor da minha rua; o mais feliz dos jornalistas da minha terra; o mais terrível dos escribas do meu bairro, que o meu fim será igual ao do gato da minha vizinha que confiou demasiado no meu cão julgando que ele era a cara do dono.

O meu sonho como jornalista era, e é, fundar uma televisão regional. Já não me levanto de manhã a pensar que vou trabalhar no maior jornal da região que, ainda por cima, tem um sítio online que é ferramenta de trabalho de muita boa gente, assim como um canal de vídeos. Agora, que sei como é que o “Correio da Manhã” e “A Bola” vão criar os seus próprios canais de televisão, não sonho com outra coisa; e todos os dias de manhã me levanto da cama com um salto sabendo, no entanto, a cada dia que passa que o soalho vai ceder mais tarde ou mais cedo.
Acho extraordinário, em tempo de crise, as lojas das nossas cidades e vilas fecharem às 19 horas. Noutros tempos, quando o dinheiro se multiplicava facilmente, trabalhava-se de dia e de noite. Agora, que é preciso mostrar trabalho, e entrar na competição com as grandes superfícies, os lojistas e os comerciantes falidos fecham a meio da tarde e deixam as cidades às moscas e as suas montras entaipadas como se vivêssemos no melhor dos mundos.

A maior parte das universidades portuguesas são escolas de carteira e lápis. Um negócio chorudo e entregue a gente pouco escrupulosa. Este caso da licenciatura de Miguel Relvas é próprio de um país de doutores e engenheiros. Há por aí muita gente com licenciatura comprada ao mesmo preço da de Miguel Relvas. A única diferença é que pagaram mais caro e devem ter esperado mais tempo.
Por mim Miguel Relvas pode começar já a mostrar trabalho em Mestrado. E logo a seguir em Doutoramento. Este é o país em que os presidentes da República indultam criminosos refinados; e condecoram todos os anos alguns dos mais importantes impostores do regime, quando não é o caso de serem apenas simples abéculas. Vivemos num país de equívocos e de monopólio das televisões e de meia dúzia de grupos económicos. Miguel Relvas é o mais inocente dos ribatejanos no Governo desde o 25 de Abril. A prova é que fizeram dele um malfeitor por causa de uma licenciatura que, como tantas outras, e de tão boa gente, foi conseguida exactamente com os mesmos expedientes. É um espanto a abertura de noticiários televisivos com este tema. Vigiar o sistema e exercer a cidadania é uma coisa; caça às bruxas é outra bem diferente.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O folclore na nossa vida


O Barquinha Parque é uma boa Obra de engenharia e uma boa ideia dos políticos locais. Tal como Constância, a Barquinha soube aproveitar a proximidade do rio. Mas o dinheiro gasto para usar nomes de artistas famosos no mercado é uma vaidade de puro provincianismo. O presidente Miguel Pombeiro achou que gastando um milhão de euros com artistas famosos ia ficar na História. A verdade é que as peças de arte passam facilmente despercebidas; e o que salta à vista em toda a parte velha da vila são os prédios em ruínas e as casas desabitadas. O espaço ambiental vale por si e pelo que oferece. A arte ao ar livre é outra coisa bem diferente daquela que fez o senhor Pombeiro gastar um milhão. No fundo o que ele comprou foi a publicidade ao seu nome na televisão e a visita do Presidente da República. As obras de arte naquele espaço não aquecem nem arrefecem. O Parque já é uma obra de arte e continuará a ser se não faltar dinheiro para o conservar. O casco velho da Vila precisa de um político mais preocupado com o futuro da sua terra do que com a sua associação aos grandes nomes da arte portuguesa actual, alguns deles produtos de marketing que ninguém lembrará daqui a uns anos.

Passei a tarde de sábado sentado numa esplanada de Vila Franca de Xira a ouvir contar episódios de hoje e de ontem a três velhos da minha idade (ou quase). O concelho de Vila Franca de Xira teve, e ainda tem, gente de antes quebrar que torcer; gente boa e franca que sabe discutir os temas da trilogia do Álvaro Guerra (Café Central, Café República e Café 25 de Abril) como sabe criticar no bom sentido o centralismo do PCP que é o único partido onde Carlos Carvalhas podia ser secretário-geral.
Também só no PS de Vila Franca de Xira é que podia militar um senhor chamado Afonso Costa que ganhou a freguesia de Alverca graças à força do PS no concelho. Como político é uma pequena aberração da natureza. Quem o conhece sabe do que falo. Pela frente é só sorrisos. Se for preciso até estende a mão ao diabo. Quando volta costas parece uma “cana rachada” e diz mal de tudo. Só ainda não diz mal de si próprio; mas lá chegará o tempo.

O Festival de Folclore da Chamusca, organizado pelo grupo de Danças e Cantares da Chamusca e do Ribatejo, foi um êxito de organização. O palco é que, aparentemente, era pequeno e um dos músicos do Rancho Folclórico de S. Cosme de Gemunde, o senhor Armando, de 74 anos, estatelou-se no chão depois de lhe ter faltado palco debaixo dos pés. A esposa, também já idosa, que representava no palco, desmaiou ao perceber o que tinha acontecido ao marido; e até o 112 chegar foi uma verdadeira aflição.
A maioria dos elementos do Rancho de S. Cosme de Gemunde nunca saiu de cima do palco durante a meia hora que durou a confusão. Quando a situação se recompôs uma Mulher puxou do microfone e mobilizou, em poucos segundos, todos os elementos que não pertenciam à família do senhor Armando. E acabaram a actuação em palco com mais meia dúzia de modas.
Não houve uma lamechice, um grito de revolta, um estado de alma lamurioso daquela boa gente de S. Cosme de Gemunde que tivesse dado a perceber que a culpa era da organização, ou dos técnicos, ou operários que conceberam e montaram o palco. Uma lição de gente humilde e solidária que, já ao final da noite, sentiram a alegria de regressarem a casa todos juntos.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O azul do quotidiano


Fui ao teatro, ao “Recreios da Amadora”, ver a peça “Laurel e Hardy vão para o Céu”, de Paul Auster, com encenação de Jorge Silva, um actor nascido e criado na Chamusca que tem feito um percurso interessante como actor no teatro português e, nos últimos anos, também como encenador. A certa altura um dos personagens (são apenas dois e fazem muito bem os seus papéis) deixou cair um dos adereços para a plateia. Percebi que o actor não podia continuar a representar sem ele e fui, curvado, apanhá-lo do chão e atirá-lo para cima do palco. Na altura o personagem choramingava; e mais choramingou, entretanto, exagerando um pouco para fazer render a cena, enquanto aproveitava para alterar o guião e agradecer-me com um obrigado igualmente choramingão para não destoar. Depois de ver a forma como ele se safou, e no regresso ao meu lugar na plateia, fiquei a pensar que razão me levou a atirar o objecto para cima do palco, uma vez que tinha a hipótese de o entregar em mão. Estava a menos de meio metro dele e, mesmo assim, resolvi atirá-lo em vez de o entregar em mão. Que coisa estranha… penso agora. Fui involuntariamente o terceiro personagem de uma peça só para dois actores e não soube estar à altura. Para quem está proibido de representar na azáfama do seu dia-a-dia de trabalho, anos e anos e décadas seguidas, nada acontece por acaso. E tudo se pode explicar com estes pequenos incidentes que ajudam a conhecer melhor o chão que pisamos.

Conduzia de vidro aberto numa fila de carros entre vários semáforos e numa avenida apinhada de automóveis. A certa altura alguém parou do meu lado e perguntou: “o senhor condutor precisa de ajuda para ler o jornal”? Estava parado na altura e nem precisei de pensar. Disse que não, obrigado, e pedi desculpa. Enquanto levantei os olhos para verificar quem era, embora em consciência tivesse adivinhado assim que ouvi a voz, repeti o pedido de desculpas e atirei o jornal para cima do banco do lado. “O que os senhores condutores inventam para fazer enquanto conduzem”, disse o polícia com um olhar sério mas já com a mota engatada para prosseguir viagem deixando-me seguir caminho. Assim que o vi de costas perguntei-me. Mas eu podia dizer que estava parado. Podia dizer que não estava a ler; estava só a folhear. Podia ter inventado uma desculpa já que o jornal tinha sido atirado para dentro do carro alguns metros antes. Mas não fiz nada disto. Pedi desculpa como se fosse uma criança apanhada com a boca na botija. E acho que foi isso que me safou. Mesmo parado num semáforo não deixo de estar a conduzir um carro, conclui, sem tempo para pensar, enquanto o polícia ainda teve tempo para me avisar que a multa de ler a conduzir é a mesma que falar ao telemóvel.

No próximo fim-de-semana vou usar o lenço vermelho que comprei há dez anos em Vila Franca de Xira e vou viver, nas ruas, a Festa do Colete Encarnado. Gosto daquela festa e o ambiente nas ruas de Vila Franca de Xira faz toda a diferença.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Companheiros ilustres na desgraça


Tive um dia de domingo a arrumar livros. Detesto arrumar livros. É tão castrador como ficar uma tarde inteira na praia e não poder ir ao banho. E os livros arrumados parece que deixam de nos pertencer; são os primeiros a ficarem por ler até à eternidade; perdem o cheiro e as marcas virgens das nossas mãos.  E todos os livros que estão por arrumar são mais importantes, ou tão mais importantes, do que aqueles que estão a chegar à secretária e ganham o seu espaço só por serem investimento mais recente.
Revisitar livros que não estejam devidamente assinalados com as marcas de leitura é quase como voltar a uma casa que tinha chão de cimento e entretanto foi alcatifado.
Arrumar livros tem a vantagem de trabalharmos naquilo que gostamos sem darmos conta; Este domingo reencontrei-me com um livro, com dedicatória, sobre toiros de lide oferecido pelo meu amigo Eugénio Eiroa Franco. E logo de seguida abri, ainda fresco da leitura e releitura, o “À Mão Esquerda”, autobiografia de Fausto Wolff, e encontrei bem assinalado este naco de prosa que me permito adaptar para que a ideia caiba em menos palavras. O objectivo desta vida, controlada pelos sistemas capitalistas, “é que nos movimentemos sempre pelos mesmos lugares, como qualquer vaca, embora a vaca seja sempre mais perfeita que o ser humano pois não se questiona nem em sonhos. Mas mais perfeito ainda é o toiro que cinco minutos após ter sido castrado, e transformado definitivamente em boi, já está comendo capim misturado com um pouco de sangue dos seus colhões”.
No romance “A Vida Sexual de Fernando Pessoa”, prémio literário da cidade de Valência, Salomó Dori, o autor, põe Alberto Caeiro a ver o Cartaxo pela janela da sua casa. E à noite, enquanto escreve, imagina os caminhos vazios que levam ao Cartaxo, e as suas gentes, depois de deixarem vazia a praça principal, procurando-se às apalpadelas entre lençóis.
Revisitar livros pode ser tão surpreendente como encontrar um amigo de longa data, no lugar mais improvável do mundo, enquanto viajamos em segredo.
A meio do dia encontrei na capa de um antigo catálogo de livros a inspiração para a capa da edição dos 25 anos de O MIRANTE que, se tudo correr como previsto, sairá a 16 de Novembro com uma edição de 60 mil exemplares com distribuição em Lisboa, Porto, Coimbra, Aveiro, Évora e Faro. Curiosamente, ao ver a capa, reconheci uma outra mais recente da editora Quetzal para um livro de Primo Levi que só pode ter sido inspirada nesta. O mundo é pequeno e não é todos os dias que nascem Picassos.
Tenho lugares privilegiados nas minhas estantes para Jorge de Sena, Baptista-Bastos, Clarice Lispector, Henri Miller, António Ramos Rosa, Ernesto Hemingway, Marguerite Yourcenar, José Saramago, Picasso, e tudo o que é literatura biográfica. Sei o preço e a história de cada livro de poesia que comprei nestes últimos trinta anos.

A croniqueta desta semana escrita à última hora substituiu um texto desgraçado sobre a crise e os efeitos da crise. É engraçado como os grandes nomes que fazem opinião em Portugal andam a dar ao rabo com as injustiças que começam a pegar fogo nos fundilhos das suas calças. Finalmente temos ilustres companhias na desgraça; o que não deixa de ser uma tristeza ainda maior.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Dois exemplos e um desabafo


A mulher veio à cidade comprar um par de sapatos para o filho que dança no rancho folclórico lá da terra. Na hora de pagar o dono da loja perguntou-lhe se queria factura. A mulher encolheu os ombros, levou as mãos ao rosto, fez duas pregas na testa, baixou os olhos na direcção da registadora e finalmente respondeu; não, não quero, a factura não me vai servir para nada.
Sim, é verdade, retorquiu o dono da loja; só para o Estado já lá vão umas dezenas de euros na compra.
A criança de sete anos, que ouviu a conversa em silêncio, puxou as saias da mãe e, tão baixo quanto a sua voz o permitiu, disse que a factura era precisa sim senhora, porque a professora ensinou na escola que devemos sempre pedir factura.
O dono da loja sorriu para a mulher, a mulher sorriu para o dono da loja e, cada um à sua maneira, lá concluíram que a primeira decisão é que estava certa e que os professores nem sempre sabem o que dizem e aconselham às crianças.
Moral da história: cada um que tire a sua e que lhe faça bom proveito.
O país conhece situações dramáticas de pessoas que caminham dezenas de vezes para os postos da GNR e da PSP porque são vítimas de ameaças de morte. Em muitos casos o desfecho é o assassinato, a sangue frio, dessas pessoas.
As autoridades não realizam uma busca: não apreendem uma arma, não se valem dos meios que têm para pressionarem os malfeitores, não criam condições mínimas para protegerem as vítimas; em certos casos as autoridades sentem-se tão atemorizadas como as pessoas que são alvo das ameaças.
Mas há casos caricatos que demonstram que as autoridades não só têm falta de meios para acudirem a quem se sente em perigo como também são incompetentes.

O MIRANTE noticiou recentemente dois casos de duas pessoas da região a quem foram apreendidas armas de colecção. Nos rodapés das televisões as notícias da apreensão passaram em grandes parangonas e várias vezes durante alguns dias. Agora que os processos foram, ou vão ser, arquivados pelo tribunal ninguém escreveu ou escreverá uma linha. É injusto. Ainda por cima a apreensão das armas não teve nada a ver, aparentemente, com os casos que levaram à intervenção das autoridades. E apreender armas que os tribunais depois consideram de colecção não deveria ser razão para as autoridades serem mais recatadas nas informações que deixam passar para a comunicação social? Aparentemente vivemos num Estado de direito mas, de verdade, as polícias e os tribunais ainda funcionam, em alguns casos, como nos tempos da Maria Castanha. E os cidadãos não têm outro remédio que gramar as injustiças e socorrerem-se do médico de família, ou do psiquiatra, para se encharcarem em calmantes de forma a não ficarem malucos para o resto da vida.

Este ano não vou de férias. Preparo-me para o dia em que as minhas férias serão eternas e quentinhas se o meu corpo arder devidamente. Preciso de trabalhar, não por causa da crise, ou das imposições da Troika, mas por que já não consigo descansar com tanta gente que vou encontrando por aí sem fazer nada e sem nada para fazer.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Farinha do mesmo saco


O segredo da comunicação nos dias de hoje é a imagem: a imagem da televisão para sermos mais exactos. É o negócio que dá dinheiro e o único futuro para a imprensa. Os jornais tentam a todo o custo ganhar leitores inflacionando o tamanho  das fotografias e publicando sempre que podem  imagens que fiquem na retina; mas a verdade é que todos os dias os jornais perdem futuro.
Um estudo recente demonstra que mais de metade dos jornais portugueses de referência perde dinheiro todos os dias e de há muitos anos a esta parte. São alimentados por empresários que, por artes mágicas, conseguem financiar empresas que dão sempre prejuízo.
É deprimente ver os jornais de Lisboa a repetirem as mesmas notícias sobre os mesmos assuntos de sempre e à volta dos mesmos personagens. Os articulistas repetem os defeitos da governação até quase ao efeito do mau hálito do ministro nas relações com os deputados e a sociedade civil. É caricato e doentio porque demonstra que não aprendemos nada com as lições do Eça que todos lemos e a maioria estudou.
A guerra pela privatização da RTP é um falso problema. O Estado emprega cerca de 30 por cento dos jornalistas que trabalham no mercado. Se isto não é uma brincadeira de mau gosto então Portugal é uma monarquia.
Recentemente o Governo renovou por mais dez anos as licenças dos alvarás das rádios locais. Na grande maioria as rádios locais estão entregues a cooperativas sem dirigentes associativos, a empresários falidos e a organizações religiosas que não cumprem minimamente o estatuto de órgão de comunicação social. Não praticam jornalismo e, em alguns casos, fazem terrorismo político e cultural. Há situações de verdadeiro analfabetismo em programas de rádios locais. O Governo demitiu-se das suas funções e os órgãos que deveriam denunciar a situação são velhos e caducos, a começar no Sindicato dos Jornalistas que parece uma instituição do tempo da União Soviética. As associações do sector não têm voz na matéria e a sociedade civil é doce e mansa que até enerva. Entretanto os jovens  jornalistas, que saem das universidades, vão trabalhar para as caixas dos supermercados, e os que estão no desemprego já não voltarão tão depressa ao mercado de trabalho. Os “donos” das rádios locais vão esperando que o mundo mude para pior e, na desgraça, ainda lhes saia a sorte grande com a venda do alvará.
A dependência das empresas de comunicação social do poder económico nunca foi tão grande e tão evidente. Não ganha esta guerra quem tiver as melhores estratégias de negócio, ou quem tiver a equipa com melhores jornalistas, mas as empresas que melhor souberem fazer parcerias e arrastar as outras para a falência.
Em termos regionais temos pouco a perder. No contexto do país é como se não existíssemos. E, no entanto, a solução para a crise está na aposta numa imprensa virada para novos públicos com matéria noticiosa que não seja sempre farinha do mesmo saco.
Mas se ouvirem alguém falar em televisão regional, ou no fim do monopólio de certos grupos empresariais, todos vão dizer que Santarém, Tomar e Abrantes, Vila Franca de Xira e Cartaxo, lá terão um dia o seu dez de Junho, e que o país é pequeno demais para pensarmos em regionalizações.
Alberto Arons de Carvalho, pelo PS, e Feliciano Barreiras Duarte, pelo PSD, são dois nomes a ter em conta um dia que alguém queira explicar a inabilidade política e a desresponsabilização dos governos portugueses em matéria de comunicação social nestes últimos 20 anos.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Tipos venenosos


São 14h25 de segunda-feira e acabei de regressar de uma segunda visita ao centro histórico da cidade de Santarém. Nesta segunda viagem fui apanhado a atravessar o Largo do Seminário com a cabeça baixa a pensar na morte da bezerra. Um amigo gritou-me uma frase conhecida e perguntou-me a sorrir se eu ia a ler o meu futuro nas pedras da calçada que, neste caso, não são pedras mas mosaicos de terceira. Contei a verdade; resolvemos fechar a edição ainda hoje e deixei a minha crónica em casa e tenho mais dois textos para escrever. Perguntava-me como é que iria fazer e o que é que aconteceria se eu desta vez fizesse gazeta. Apontei para a porta do banco que fica logo ali em frente e disse que se falhasse com o gerente, aí sim, a coisa ficaria preta. Quanto aos textos amanhã já ninguém se lembraria deles. No regresso ao jornal, acrescentei, decerto que encontraria a solução mais adequada. Fiquei depois a saber que a direcção que este meu amigo levava era a do edifício da câmara municipal onde tem para receber há uma eternidade mais de milhão e meio de euros; que não sabia o que fazer à vida; que ia lá agora para uma nova reunião e esperava ser bem claro mas que não podia nem devia falar mais do assunto. Contei-lhe duas histórias de pessoas que usaram recentemente artimanhas para envergonhar os políticos e acabaram a receber o dinheiro; mas ele disse que não podia fazer dessas fitas e que esperava encontrar bom senso antes de abrir falência e mandar umas centenas para o desemprego.
Quando nos despedimos disse para comigo: já não preciso de ir a casa a correr à procura do caderno onde tenho o esboço da crónica para esta semana; vou contar que num lugar onde se podem assar sardinhas a meio da tarde, graças aos políticos de Santarém e aos excelentes engenheiros e arquitetos que a câmara sempre teve, neste lugar onde se podem estrelar ovos em cima de mosaicos de terceira, encontrei uma pessoa amiga que em vez de ter o problema de um texto para escrever tem uma dívida aos bancos superior ao meu orçamento para os próximos dez anos e está na mão dos políticos caloteiros de Santarém que o mesmo é dizer está nas mãos do diabo.

Não sei se sabem mas o secretário pessoal do Papa foi apanhado a conspirar preparando à sua maneira a substituição do actual chefe do Vaticano. É uma conspiração (zinha) comparado com o que anda a viver o super ministro Miguel Relvas que foi apanhado a jeito e ainda vai ser crucificado se não abdicar da privatização da RTP. Li a reportagem em Valência, no jornal lá da terra, enquanto esperava o avião. E soube ainda, por um telefonema, que a inauguração da Feira da Agricultura contou com a presença de Cavaco Silva que não teve a honra de apertar a mão ao Moita Flores por este estar de férias, ou doente, ou na semanada em que só trabalha da parte da manhã.
Como já repararam a minha crónica desta semana não era nada de especial. Nem o secretário pessoal do Papa, nem o Moita Flores e muito menos o Miguel Relvas precisam de mim para dizer mal deles; o que não falta por aí são tipos muito mais venenosos do que eu.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Ainda vivemos bons tempos


Os tempos mudaram para pior. Mas nem sempre nem em tudo. Fui à inauguração da FICOR, em Coruche, e saí de lá ao fim de duas horas reconfortado e satisfeito com o que vi. A Feira marca a diferença e mobiliza muita gente que tem um papel importante no desenvolvimento e na afirmação da nossa região.
É raro encontrar sempre os mesmos em Coruche. O isolamento paga-se caro. Eu próprio falto muito mais vezes do que devia. Outras vezes estou por lá menos tempo do que gostava.
A verdade é que Coruche faz a diferença e o presidente da câmara municipal ajuda com o seu empenho e com a dedicação ao cargo.
“Obrigado por ter vindo”; “Acompanhe-nos e junte-se a nós”. Dionísio Mendes saiu várias vezes do seu lugar e andou a cumprimentar os convidados com a hospitalidade que não é normal nos santuários da política. Sei bem do que falo. Ando por aí muitas vezes a pretexto de feiras, colóquios, conferências e visitas e os grandes chefes e seus correligionários parecem hipopótamos nos seus hábitos de esperarem e abanarem o rabo.
Em Coruche é sempre diferente. Andei por lá mais de duas horas e nem sequer provei o vinho e o queijo. Nem aceitei o convite para o almoço por ter um compromisso em Benavente. Mas registei a consideração, a forma de receber, a vontade de mostrar gratidão por um simples acto de comparência.
Os municípios mais pequenos e mais isolados estão em melhores condições para mostrarem serviço e para serem exemplos a seguir.

Este ano recebi o prémio de participante menos jovem no challenger da NERSANT. Fiz todas as provas durante os dois dias e voltei a fazer o gosto ao dedo mergulhando, mesmo constipado, nas águas barrentas do Tejo.
Constância tem uma ligação com o rio que faz inveja a qualquer borda d’ água. Na sexta-feira e no sábado passado a zona ribeirinha estava cheia de gente jovem a gozar o espaço. Eram três ou quatro centenas a desfrutarem dos lugares mágicos da beira-rio e dos equipamentos instalados ao longo das margens com alguns monitores a dirigi-los.
A forma como a vila de Constância fez a ligação ao Tejo e ao Zêzere é exemplar. A gestão daqueles espaços e a conservação do que é fundamental para nos sentirmos em comunhão com a natureza é obra que deveria ser premiada por quem de direito. Ali não há cimento e obras de fachada e manias de grandeza. Constância é por direito próprio a Vila Poema como Coruche é uma terra que Inspira.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Fazer a vontade ao diabo


Confesso que sou bom p’rá brincadeira mas não pratico. A vida com o George Steiner debaixo do braço é muito mais interessante do que andar por aí com o nariz vermelho do palhaço. Eu sei que também há o meio-termo; mas sempre fui de extremos; ou tudo ou nada. Pago caro mas pago com satisfação porque faço a vontade ao diabo.
Nos últimos tempos a minha vida tem sido um inferno por causa da Clotilde; deixei crescer as unhas; cheiro mal dos pés; perdi tudo o que tinha investido em acções na bolsa de Frankfurt; enganei-me a licitar num leilão online e comprei gato por lebre; preparei-me para uma grande viagem pela Europa e quase que dei cabo do sofá lá de casa; enfim, não saía daqui se contasse uma a uma as desgraças que devo ao facto de uma Clotilde se ter metido na minha vida.
icloud é o nome de guerra da Clotilde; uma nuvem onde estão alojados todos os textos que escrevemos no computador desde que estejamos ligados à internet. Estamos à beira Tejo na Chamusca, em Vila Franca de Xira ou em Abrantes, na praia de Copacabana ou na Ilha de Páscoa, e é como se estivéssemos à secretária de trabalho; o programa garante o acesso a todos os textos e permite todas as alterações que desejarmos. Com o icloud um tipo pode ser escritor, investigador, jornalista no meio de um olival, no intervalo de um jogo de futebol, na cadeira do dentista ou onde muito bem quiser. Com o icloud podemos trazer atrás de nós o prédio virtual de dez andares que andamos a construir escrevendo pequenos poemas ou todos os textos da nossa vida que explicam a paixão pelas entradas de toiros na Chamusca ou as largadas em Pamplona.
No momento em que escrevo esta crónica o Steiner acaba de me revelar as coisas mais espantosas do mundo; que o homem acamarada com os ventos e que nasceu para a vagabundagem mas vive a vida a contrariar-se; que lá onde Jeremias pregou irado existem hoje imensos bares de mulheres em topless; que até as raças mais puras precisam das suas pulgas; que a loucura sangrenta dos Khmer Rouge, no Camboja, pode ser elevada ao nível da raiva de Marx contra o capitalismo; e até de Schopenhaur, George Steiner, dá novidades anunciando que isto está tão mau, tão mau, que um dia destes pode acabar, mas nunca acabará como imaginamos porque a música persistirá muito para além de nós.
Grandes revelações de uma noite de leitura que, no entanto, não apagam o drama que ando a viver depois de ter encontrado uma Clotilde pelo caminho, um programa chamado icloud, que por estar alojado numa nuvem inteligente, me dá cabo da paciência.
É quando mais preciso de navegar que o ipad não liga, ou está sem rede, ou não faz a ligação com o iphone, ou não aceitou as últimas alterações ao texto, ou não transfere para a impressora o texto que eu preciso de imprimir com urgência.
Ah! não conto todos os meus problemas com a Clotilde, quero dizer, o icloud,  porque a maioria deles são obscenos: e eu não sou um Moita Flores a escrever; não tenho jeito para o romance nem para as novelas; sou verdadeiramente um tipo ordinário quando está na nuvem, quero dizer, no icloud, com a Clotilde, e nem queiram saber quantas vezes é que eu já prometi a mim mesmo que troco toda a parafernália de equipamentos que me foram oferecidos por um Asus de 240 euros que aceite uma simples pen de um giga. JAE

quarta-feira, 16 de maio de 2012

A Ribeira de Santarém, Fátima e O MIRANTE


A crónica de Última Página é uma homenagem a um assinante do jornal desde a primeira hora. Já passou o seu tempo porque, entretanto, morreu e já não posso contar com as suas opiniões que eram sempre muito críticas.
Esta semana assisti ao pagamento da assinatura de um senhor de 80 anos, da Golegã, que faz questão de mandar pagar a assinatura na redacção. “Não vivo sem o jornal” diz pela sua boca o portador anual dos 15,50 euros. É por estas e por outras que estamos obrigados a não deixarmos cair o entusiasmo e a capacidade de nos mantermos na mó de cima. A verdade, no entanto, é que o sector atravessa a maior crise de sempre.
A gráfica onde O MIRANTE era impresso há quase 20 anos fechou portas. Tinha o destino traçado desde que saiu das instalações de Alcântara, em Lisboa, para a área empresarial de Loures.
Não há uma gráfica em Portugal para imprimir jornais que não pertença aos grandes grupos económicos detentores de jornais. A Mirandela era a única e pagou caro o investimento numa área onde o futuro é sinónimo de letra de fado.
Há meia dúzia de anos andei por Madrid e Salamanca a tentar parcerias com gráficas espanholas. Encontrei preços muito melhores que em Portugal. Não tivemos a coragem que era preciso para darmos o salto. Apesar da nossa dimensão ainda éramos, e somos, pequenos demais para voos tão altos.
Quem teve a ousadia de crescer como nós crescemos vai ter que saber adaptar-se aos novos tempos. É nas alturas de crise que se deve investir. É exactamente para isso que cá estamos. Mas se não há gráficas no mercado para imprimirmos os nossos jornais a preços competitivos vamos investir como quem está à beira do abismo e, antes de cair, decide atirar-se?
Por causa da crise esta semana deixamos de publicar a capa da edição do Médio Tejo. E a edição Vale do Tejo aparece reforçada com notícias das outras edições mantendo, no entanto, as capas diferenciadas.
Não serão as mudanças definitivas. Vamos remando conforme a força da maré.
Os habitantes da  Ribeira de Santarém têm as casas a cair para os quintais uns dos outros, quando não é para as estradas da aldeia, e ainda não perderam a esperança; têm o Tejo mesmo ali ao pé do degrau da porta e ninguém se lembra do rio como um investimento para combater a pobreza franciscana que por lá se instalou. Fátima é o altar do mundo, fica mesmo aqui ao lado, recebe cerca de seis milhões de visitantes por ano, uma grande parte estrangeiros, e ninguém tira proveito disso. Mas a fé move montanhas. O Castelo de Almourol é o edifício número 8 do património das Forças Armadas embora seja um dos monumentos mais visitados em Portugal por estrangeiros. A gente vê e testemunha e nem quer acreditar que as instituições portuguesas são tão retrógradas e miseráveis.
Os jornais que dão trabalho a homens e mulheres que fazem do jornalismo profissão são tão precisos para uma região como o adubo para as terras da lezíria onde se cultiva o trigo e o milho.
Enquanto o Tejo levar um fio de água não baixaremos os remos. Mas precisamos de avisar a malta para não pensarem que somos tolos.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

A desgraça dos jornalistas


 Se a política de descontos dos supermercados Pingo Doce fosse a votos o patrão da Jerónimo Martins ganhava as eleições por maioria absoluta. Os jornais e as televisões bateram até ao osso mas o povo agradeceu os descontos e comprou fraldas, açúcar, café, manteiga, tulicreme e dezenas de outros produtos de primeira necessidade com 50 por cento de desconto. Claro que a burguesia que escreve nos jornais não vai ao supermercado nem se sujeita a filas de espera. Mas a generalidade do povo não tem mais nada que fazer que aproveitar bem o tempo para poupar uns trocos e encher a dispensa. No meio desta balbúrdia há um apelo ao consumismo e uma luta sem tréguas entre os gigantes da distribuição. Pois que se danem. E quem é que fala da concorrência miserável que sofrem os milhares de pequenos lojistas com a abertura, sem rei nem roque, de lojas de chineses?
Há uma dúzia de anos O MIRANTE tinha uma assinatura a cinco euros. Por imposição governamental fomos obrigados a aumentar para o triplo. Tudo porque os governantes da altura acharam que deviam interferir no preço de assinatura dos jornais apoiados pelo Governo em matéria de Porte Pago. Os apoios entretanto quase que se diluíram, nalguns casos até deixaram de ser favoráveis, mas a medida governamental ainda impera. Quem é que se lembra do nome dos políticos atrasados mentais que tiveram tal ideia? Quem é que liga ao assunto? Que importância é que os críticos do costume dão ao que se passa para além daquilo que se vê do Castelo de S. Jorge, em Lisboa?
Entretanto os jornais definham, a classe dos jornalistas está a desaparecer, e os que ainda resistem escrevem em meia dúzia de diários e semanários que se vêem gregos para sobreviver. Se não fosse o dinheiro dos grupos económicos que negoceiam na distribuição e nas obras públicas, só para dar alguns exemplos, pouco mais tínhamos para ler que “O Avante” e o “Povo Livre”.
Os jornalistas são mais perigosos para a sociedade de hoje que os assassinos e os gatunos. Há uma lei que apressa em tribunal tudo o que for queixa contra os jornalistas e os jornais. Um criminoso confesso ou apanhado com a boca na botija pode demorar dez anos a ser julgado e condenado. Um jornalista salta para os bancos do tribunal em poucas semanas, ou meses, ainda que a queixa seja por um artigo ou uma notícia em defesa do interesse público. Basta que os supostos ofendidos tenham importância e dinheiro para pagar a advogados e tribunais. Por isso é que o jornalista mais famoso do mercado dos jornais e das televisões portuguesas de hoje se chama Ricardo Araújo Pereira. Tem graça e é inteligente mas não passa de um gato fedorento. Que o digam os milhares de jovens jornalistas que não conseguem um emprego nem como estagiários; e todos os jornalistas de meia-idade que são obrigados a mudar de profissão por falta de trabalho; e por haver cada vez menos espaço e liberdade para o jornalismo de proximidade.
Prefiro a política do Pingo Doce à política do PS, PSD ou CDS. Prefiro o jornalismo de investigação ao jornalismo de opinião.