quarta-feira, 13 de junho de 2012

Farinha do mesmo saco


O segredo da comunicação nos dias de hoje é a imagem: a imagem da televisão para sermos mais exactos. É o negócio que dá dinheiro e o único futuro para a imprensa. Os jornais tentam a todo o custo ganhar leitores inflacionando o tamanho  das fotografias e publicando sempre que podem  imagens que fiquem na retina; mas a verdade é que todos os dias os jornais perdem futuro.
Um estudo recente demonstra que mais de metade dos jornais portugueses de referência perde dinheiro todos os dias e de há muitos anos a esta parte. São alimentados por empresários que, por artes mágicas, conseguem financiar empresas que dão sempre prejuízo.
É deprimente ver os jornais de Lisboa a repetirem as mesmas notícias sobre os mesmos assuntos de sempre e à volta dos mesmos personagens. Os articulistas repetem os defeitos da governação até quase ao efeito do mau hálito do ministro nas relações com os deputados e a sociedade civil. É caricato e doentio porque demonstra que não aprendemos nada com as lições do Eça que todos lemos e a maioria estudou.
A guerra pela privatização da RTP é um falso problema. O Estado emprega cerca de 30 por cento dos jornalistas que trabalham no mercado. Se isto não é uma brincadeira de mau gosto então Portugal é uma monarquia.
Recentemente o Governo renovou por mais dez anos as licenças dos alvarás das rádios locais. Na grande maioria as rádios locais estão entregues a cooperativas sem dirigentes associativos, a empresários falidos e a organizações religiosas que não cumprem minimamente o estatuto de órgão de comunicação social. Não praticam jornalismo e, em alguns casos, fazem terrorismo político e cultural. Há situações de verdadeiro analfabetismo em programas de rádios locais. O Governo demitiu-se das suas funções e os órgãos que deveriam denunciar a situação são velhos e caducos, a começar no Sindicato dos Jornalistas que parece uma instituição do tempo da União Soviética. As associações do sector não têm voz na matéria e a sociedade civil é doce e mansa que até enerva. Entretanto os jovens  jornalistas, que saem das universidades, vão trabalhar para as caixas dos supermercados, e os que estão no desemprego já não voltarão tão depressa ao mercado de trabalho. Os “donos” das rádios locais vão esperando que o mundo mude para pior e, na desgraça, ainda lhes saia a sorte grande com a venda do alvará.
A dependência das empresas de comunicação social do poder económico nunca foi tão grande e tão evidente. Não ganha esta guerra quem tiver as melhores estratégias de negócio, ou quem tiver a equipa com melhores jornalistas, mas as empresas que melhor souberem fazer parcerias e arrastar as outras para a falência.
Em termos regionais temos pouco a perder. No contexto do país é como se não existíssemos. E, no entanto, a solução para a crise está na aposta numa imprensa virada para novos públicos com matéria noticiosa que não seja sempre farinha do mesmo saco.
Mas se ouvirem alguém falar em televisão regional, ou no fim do monopólio de certos grupos empresariais, todos vão dizer que Santarém, Tomar e Abrantes, Vila Franca de Xira e Cartaxo, lá terão um dia o seu dez de Junho, e que o país é pequeno demais para pensarmos em regionalizações.
Alberto Arons de Carvalho, pelo PS, e Feliciano Barreiras Duarte, pelo PSD, são dois nomes a ter em conta um dia que alguém queira explicar a inabilidade política e a desresponsabilização dos governos portugueses em matéria de comunicação social nestes últimos 20 anos.

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