quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Um comentário pouco político

Pedro Passos Coelho visitou a redacção de O MIRANTE no dia do fecho da nossa edição de aniversário. O primeiro-ministro vinha de Tomar onde participou numa cerimónia oficial e antes de um jantar em Santarém onde se reuniu com militantes do PSD esteve cerca de meia hora à conversa com os jornalistas de O MIRANTE.
À chegada Pedro Passos Coelho foi recebido pelos colaboradores da área administrativa e financeira do jornal e os primeiros cinco minutos de conversa foi para falar das relações profissionais que o ligavam ao nosso jornal quando ocupava o cargo de administrador da Ribtejo uma das grandes empresas do Parque do Relvão, na Carregueira, concelho da Chamusca.
 Passos Coelho não se fez rogado e depois dos cumprimentos habituais abriu a conversa perguntando se O MIRANTE continuava a manter relações com a empresa recordando as vezes em que foi interlocutor nessa relação que já tem mais de quatro anos.
Aparentemente não há nada de interessante neste comentário. Resolvi contar o episódio por achar que a atitude marca a diferença. Regra geral os políticos no exercício dos seus altos cargos não descem à terra e fingem que não têm passado. Pedro Passos Colho fez exactamente o contrário; Apesar de nos visitar na qualidade de primeiro-ministro fez questão de valorizar a antiga ligação pessoal a colaboradores do jornal e deixou para o fim da visita os assuntos que achamos por bem colocar-lhe e que nos preocupam enquanto profissionais do sector. JAE

Jornalismo de proximidade

Há muitos anos que a luta pela sobrevivência e qualidade do jornalismo deixou de ser uma luta entre jornalistas e fontes de informação. A grande luta do jornalismo, hoje e no futuro, é pelo financiamento das empresas.
Para percebermos a miséria do sistema basta lembrarmos que a classe dos jornalistas já nem se organiza em congresso e que o sindicato é um grupo de profissionais que em algumas manifestações parecem ter chegado à terra vindos de Marte tal é a sua falta de capacidade para se adaptarem aos novos tempos e aos interesses dos profissionais da Comunicação Social de que eles próprios fazem parte.

Com o advento da internet e o crescimento dos canais de televisão a forma de fazer jornalismo nunca mais será a mesma. Portugal, como sempre, vive décadas de atraso em relação a outros países desenvolvidos.
Em Portugal funciona um sistema de protecção dos grandes grupos tanto na comunicação social como noutras atividades económicas. Faz parte de uma certa forma de ser português o culto do miserabilismo por um lado e a fanfarronice por outro dos homens que são donos do dinheiro.
Voltando ao princípio: os jornais que viviam da publicidade fácil das agências, organizados em grupos que tanto facturam publicidade como agenciam a comunicação institucional desses mesmos grupos, tão depressa não vão conseguir respirar. Fechou-se um ciclo na economia mundial e a publicidade, que por obra e graça do espírito santo caía das mãos desses grupos organizados, evaporou-se ou migrou para outras plataformas como os novos canais de televisão. Explica-se assim a morte lenta de muita comunicação social e o medo que se instalou na sociedade portuguesa de que um dia destes já ninguém consegue defender-se com as armas com que é atacado.
Corremos o risco de vivermos numa democracia ainda mais musculada com os jornais e os jornalistas de um lado e a classe política do outro a tentar organizar-se contra os jornalistas?
Corremos. Já estamos a sentir isso. Recorde-se que foi um jornal marginal ao sistema (O Crime) que trouxe a público pela primeira vez o caso da licenciatura de Miguel Relvas que o fez cair em desgraça. Os jornais de referência e os principais canais de televisão fazem manchete todos os dias com assuntos de política contrariando tudo aquilo que é, aparentemente, o interesse do mercado que prefere os
assuntos de sociedade. Há uma luta pelo controlo do poder político em Portugal que envolve os grandes grupos de comunicação social do país. Por isso está na hora de descentralizar a administração pública; de acabar com os interesses instalados nos gabinetes de Lisboa; de acabar com os interesses de uma classe política que, embora a guerra verbal, acaba sempre por se proteger a si própria esteja no governo ou na oposição.

Esta edição de O MIRANTE desmente aqueles que dizem e defendem desde há anos que as empresas de comunicação social já não se conseguem financiar com a publicidade. Hoje, tal como ontem, as empresas não podem organizar-se apenas em função de uma equipa de jornalistas. Têm que pensar numa equipa comercial e administrativa/financeira e acima de tudo numa equipa que faça do jornalismo modo de vida. É isso que fazemos neste jornal. Fazemos mais ainda: procuramos que o nosso produto chegue a um número grande de consumidores e que não só seja lido como comentado e/ou criticado.
O problema é que Portugal é um país de tradições e há muita gente habituada a dobrar o joelho nas horas das aflições e a ver os seus milagres realizados ainda que a seguir a ter dobrado os joelhos tenha que dobrar a língua. Esta edição de O MIRANTE prova que Portugal tem regiões muito fortes que podem e devem ser motores de desenvolvimento do país. Prova acima de tudo que sabemos organizar-nos e que se for preciso saberemos defender contra tudo e contra todos os nossos interesses culturais e territoriais. É um luta de David contra Golias? É sim senhor! Em Almeirim há um tribunal que contraria tudo aquilo que é o exercício de uma democracia num país desenvolvido. São os próprios agentes da Justiça que o dizem à boca cheia.
Nada disto seria tolerável se o Tribunal de Almeirim tivesse processos que envolvessem grupos de interesse que se movimentam noutras regiões do país. A interioridade já não é só o Alentejo profundo ou a região de Trás-os-Montes. Em Almeirim, a 70 km de Lisboa, a justiça faz-se por um canudo.

Para premiarmos a aposta dos anunciantes nas páginas de O MIRANTE vamos continuar a investir no jornalismo de proximidade contratando profissionais que estejam o mais possível junto das populações. Vamos continuar a inventar formas de mantermos o baixo preço do jornal em papel e na internet. Vamos continuar a parceria com outros jornais e vamos aumentar o número de postos de venda; a colaboração com organizações populares; vamos continuar a fazer de O MIRANTE um jornal representativo de cada uma das cidades e aldeias do Vale do Tejo onde cada um de nós tem as suas raízes. JAE

Editorial da Edição do 26º Aniversário de O MIRANTE

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Os dias invisíveis

Vou cada vez menos ao café. Corro cada vez mais atrás do trabalho e parece que quanto mais faço mais tenho para fazer. Há dias que parecem invisíveis; chego à noite e sinto que dei um salto e nem me lembro do que comi ao almoço. Tenho tempo para fazer uma piscina regularmente, para ir ao campo fingir que percebo de agricultura; de resto estou sempre ligado ao vício como se a minha vida estivesse agora a começar. Saio de casa de manhã e chego pela noite dentro. Convivo pouco e já quase que nem conheço a maioria das pessoas com quem me cruzo. O exemplo serve não só para a terra onde nasci mas para outras que visito regulamente e das quais me sinto filho adoptivo. Foi, por isso, com surpresa que um dia destes entrei num café da Chamusca e ao dar os bons dias pediram-me um beijo. Como eram duas mulheres dei quatro beijos. Tanto no primeiro caso como no segundo foram pedidos de viva voz. Por isso não me esqueci. E por ser tão pouco beijoqueiro parece que vivi um acontecimento. E, no entanto, beijei apenas duas mulheres que me conhecem da infância e que me viram crescer como eu vi nascer os meus filhos.
Não sou do partido do ministro Rui Machete, nem nunca serei, segundo as minhas convicções. Mas não me custa admitir que tenho mais amigos no PSD do que no PS ou no PCP onde tenho as minhas raízes ideológicas tão velhas como os anos setenta. Vem a conversa a propósito do branqueamento político que se anda a fazer dos governos de José Sócrates. Porra! O homem entalou o país e foi o único responsável pela nacionalização do BPN que é o maior escândalo de corrupção depois do 25 de Abril de 1974. Diz ele com toda a calma que a sua decisão foi ingénua e baseada naquilo que sabia. Pudera! Se a minha avó não morresse ainda era viva. Em vez de um livro sobre tortura José Sócrates devia era escrever um livro sobre boas práticas de governação. E explicar como foi possível endividar o país para chegarmos ao ponto em que estamos.
Sócrates é o espelho da nossa classe política. Por muito mal que governem e contribuam para a nossa desgraça como país haverá sempre quem a seguir faça pior ou venha em defesa do que deveria ser indefensável. Mário Soares, na apresentação do livro de Sócrates, fez questão de salientar as altas notas da sua licenciatura. Já não há vergonha. JAE