quarta-feira, 20 de junho de 2012

Dois exemplos e um desabafo


A mulher veio à cidade comprar um par de sapatos para o filho que dança no rancho folclórico lá da terra. Na hora de pagar o dono da loja perguntou-lhe se queria factura. A mulher encolheu os ombros, levou as mãos ao rosto, fez duas pregas na testa, baixou os olhos na direcção da registadora e finalmente respondeu; não, não quero, a factura não me vai servir para nada.
Sim, é verdade, retorquiu o dono da loja; só para o Estado já lá vão umas dezenas de euros na compra.
A criança de sete anos, que ouviu a conversa em silêncio, puxou as saias da mãe e, tão baixo quanto a sua voz o permitiu, disse que a factura era precisa sim senhora, porque a professora ensinou na escola que devemos sempre pedir factura.
O dono da loja sorriu para a mulher, a mulher sorriu para o dono da loja e, cada um à sua maneira, lá concluíram que a primeira decisão é que estava certa e que os professores nem sempre sabem o que dizem e aconselham às crianças.
Moral da história: cada um que tire a sua e que lhe faça bom proveito.
O país conhece situações dramáticas de pessoas que caminham dezenas de vezes para os postos da GNR e da PSP porque são vítimas de ameaças de morte. Em muitos casos o desfecho é o assassinato, a sangue frio, dessas pessoas.
As autoridades não realizam uma busca: não apreendem uma arma, não se valem dos meios que têm para pressionarem os malfeitores, não criam condições mínimas para protegerem as vítimas; em certos casos as autoridades sentem-se tão atemorizadas como as pessoas que são alvo das ameaças.
Mas há casos caricatos que demonstram que as autoridades não só têm falta de meios para acudirem a quem se sente em perigo como também são incompetentes.

O MIRANTE noticiou recentemente dois casos de duas pessoas da região a quem foram apreendidas armas de colecção. Nos rodapés das televisões as notícias da apreensão passaram em grandes parangonas e várias vezes durante alguns dias. Agora que os processos foram, ou vão ser, arquivados pelo tribunal ninguém escreveu ou escreverá uma linha. É injusto. Ainda por cima a apreensão das armas não teve nada a ver, aparentemente, com os casos que levaram à intervenção das autoridades. E apreender armas que os tribunais depois consideram de colecção não deveria ser razão para as autoridades serem mais recatadas nas informações que deixam passar para a comunicação social? Aparentemente vivemos num Estado de direito mas, de verdade, as polícias e os tribunais ainda funcionam, em alguns casos, como nos tempos da Maria Castanha. E os cidadãos não têm outro remédio que gramar as injustiças e socorrerem-se do médico de família, ou do psiquiatra, para se encharcarem em calmantes de forma a não ficarem malucos para o resto da vida.

Este ano não vou de férias. Preparo-me para o dia em que as minhas férias serão eternas e quentinhas se o meu corpo arder devidamente. Preciso de trabalhar, não por causa da crise, ou das imposições da Troika, mas por que já não consigo descansar com tanta gente que vou encontrando por aí sem fazer nada e sem nada para fazer.

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