quarta-feira, 9 de maio de 2012

A desgraça dos jornalistas


 Se a política de descontos dos supermercados Pingo Doce fosse a votos o patrão da Jerónimo Martins ganhava as eleições por maioria absoluta. Os jornais e as televisões bateram até ao osso mas o povo agradeceu os descontos e comprou fraldas, açúcar, café, manteiga, tulicreme e dezenas de outros produtos de primeira necessidade com 50 por cento de desconto. Claro que a burguesia que escreve nos jornais não vai ao supermercado nem se sujeita a filas de espera. Mas a generalidade do povo não tem mais nada que fazer que aproveitar bem o tempo para poupar uns trocos e encher a dispensa. No meio desta balbúrdia há um apelo ao consumismo e uma luta sem tréguas entre os gigantes da distribuição. Pois que se danem. E quem é que fala da concorrência miserável que sofrem os milhares de pequenos lojistas com a abertura, sem rei nem roque, de lojas de chineses?
Há uma dúzia de anos O MIRANTE tinha uma assinatura a cinco euros. Por imposição governamental fomos obrigados a aumentar para o triplo. Tudo porque os governantes da altura acharam que deviam interferir no preço de assinatura dos jornais apoiados pelo Governo em matéria de Porte Pago. Os apoios entretanto quase que se diluíram, nalguns casos até deixaram de ser favoráveis, mas a medida governamental ainda impera. Quem é que se lembra do nome dos políticos atrasados mentais que tiveram tal ideia? Quem é que liga ao assunto? Que importância é que os críticos do costume dão ao que se passa para além daquilo que se vê do Castelo de S. Jorge, em Lisboa?
Entretanto os jornais definham, a classe dos jornalistas está a desaparecer, e os que ainda resistem escrevem em meia dúzia de diários e semanários que se vêem gregos para sobreviver. Se não fosse o dinheiro dos grupos económicos que negoceiam na distribuição e nas obras públicas, só para dar alguns exemplos, pouco mais tínhamos para ler que “O Avante” e o “Povo Livre”.
Os jornalistas são mais perigosos para a sociedade de hoje que os assassinos e os gatunos. Há uma lei que apressa em tribunal tudo o que for queixa contra os jornalistas e os jornais. Um criminoso confesso ou apanhado com a boca na botija pode demorar dez anos a ser julgado e condenado. Um jornalista salta para os bancos do tribunal em poucas semanas, ou meses, ainda que a queixa seja por um artigo ou uma notícia em defesa do interesse público. Basta que os supostos ofendidos tenham importância e dinheiro para pagar a advogados e tribunais. Por isso é que o jornalista mais famoso do mercado dos jornais e das televisões portuguesas de hoje se chama Ricardo Araújo Pereira. Tem graça e é inteligente mas não passa de um gato fedorento. Que o digam os milhares de jovens jornalistas que não conseguem um emprego nem como estagiários; e todos os jornalistas de meia-idade que são obrigados a mudar de profissão por falta de trabalho; e por haver cada vez menos espaço e liberdade para o jornalismo de proximidade.
Prefiro a política do Pingo Doce à política do PS, PSD ou CDS. Prefiro o jornalismo de investigação ao jornalismo de opinião.

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