quarta-feira, 12 de setembro de 2012

As touradas e a política


O vinho tinto devia vender-se nas farmácias. Tomei nota desta frase que foi proferida num desses almoços que de vez em quando faço por aí com amigos ou conhecidos. Não bebo vinho ao almoço; só se for por um dedal e uma única vez. Quem trabalha não bebe. Ou então bebe e não trabalha o que devia. Aprendi muito cedo a abrir o jogo. E depressa notei que as pessoas, mesmo as mais velhas e experientes, não gostam de fazer má figura e sugerem o vinho ao almoço por uma questão de educação e simpatia. Quando assumo a água como a minha bebida preferida, ou a cerveja sem álcool, percebo que a maioria gosta da minha atitude sem cerimónia. Neste caso o meu amigo mandou vir um jarro de vinho da casa. Mas bebeu menos de meio jarro. Eu sabia que ele ia trabalhar a seguir ao almoço e tive a prova de que não há homens que possam mais do que o vinho no sangue.

Tenho um dos hábitos considerados mais feios para quem frequenta lugares públicos. Assim que me sento na cadeira de um restaurante, ou de um teatro, ou de um qualquer auditório, a primeira coisa que faço é descalçar-me. Por causa disso já passei por situações caricatas mas não conto aqui para não ficarem a rir-se de mim. Tomo notas para esta crónica no meio de uma cidade de África onde ando descalço todo o dia como quase todo o mundo. Aliás os residentes andam de chinelos. Eu ando descalço de dia e de noite com os sapatos pendurados aos ombros pelos atilhos. Quando era criança pensava no que me está a acontecer agora. Será que um dia vou ter coragem para assumir que o que gosto é de andar descalço, pensava, na altura já com a certeza que nada me faria mudar naquilo que eu já era, no essencial, como pessoa.

Um amigo recebeu-me no seu gabinete de trabalho. Para fazer conversa contou-me que o sofá onde eu estava enterrado tinha como objectivo pôr-me a olhar para ele de baixo para cima. Era uma técnica que ele tinha aprendido para se valorizar na sua cadeira de empresário e gestor. A partir desse dia, e já lá vão muitos anos, acabei com os sofás no meu gabinete e comprei quatro cadeiras de pau que é onde faço todas as minhas reuniões de trabalho e recebo as pessoas que me procuram.

O PSD e o CDS não se entenderam mais uma vez para alterarem a lei autárquica. Mesmo a questão da limitação de mandatos vai ser uma confusão. Passos Coelho e Miguel Relvas têm culpas no cartório; claro que têm. Mas o mal vem de trás; dos governos de Sócrates que andou estes últimos anos a fingir que governava. E os autarcas são cada vez mais figuras de um museu de cera; só mandam nos seus redutos e têm uma associação nacional que parece uma secretaria de Estado do Governo em funções. Volto à vaca fria; o poder local precisa de se regenerar; e era muito importante que não precisasse dos políticos profissionais, ou dos oportunistas, como parece ser cada vez mais o caso de Moita Flores que veio para Santarém a meio tempo organizar touradas.

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