quinta-feira, 13 de julho de 2023

Lisboa está a 11 horas de comboio de Madrid e os políticos continuam a assobiar

É mais fácil Salazar ressuscitar do que fecharem o aeroporto Humberto Delgado. Todas as soluções para o novo aeroporto que defendem, a médio ou a longo prazo, o fecho da Portela, são formas encapotadas de defender grandes investimentos em soluções aeroportuárias megalómanas.


No dia em que escrevo esta crónica, pela noite dentro, também ajudarei a fechar mais uma edição de O MIRANTE. Em tempo de férias todos somos poucos para pormos a escrita em dia. Esta terça-feira também fica marcada por mais uma reunião da Comissão Técnica Independente (CTI), que estuda a localização do novo aeroporto de Lisboa, em cujos estudos o Governo se apoia para tomar uma decisão final (não está fora de causa António Costa sair do Governo, e passar a batata quente para outro primeiro-ministro que, a confiar nas sondagens, continuará a ser socialista e adiar a decisão por mais umas dezenas de anos).

O que me trouxe aqui foi a ferrovia; quando se fala de aeroportos em Portugal, alguns países da Europa estão a proibir voos domésticos entre cidades que ficam a menos de duas horas e meia de distância uma da outra. É um grande aviso à navegação… o que países bem mais evoluídos que o nosso estão a transmitir. Lisboa é um funil, um esgoto em muitas partes da cidade baixa, os turistas aumentam para números estratosféricos, que tornam impossível o aluguer de uma casa, com as condições mínimas, por menos de 1.500 euros, mesmo nas cidades da área metropolitana.  Lisboa já não tem casas para outras famílias que não sejam aquelas em que todos trabalham como motoristas de táxi ou de TVDE, distribuidores de comida e lojistas, que se sujeitam a viver em quartos sobrelotados, ao nível daquilo que se passa nos países mais pobres do mundo.

Mesmo assim, com toda esta balbúrdia, com as casas a preços proibitivos, o trânsito num verdadeiro caos, os preços de estacionamento caríssimos e a EMEL a facturar multas com o triplo dos funcionários, ninguém sai da cidade, ou quem sai ainda não faz engrossar as estatísticas.

Volto à ferrovia. Portugal é um atraso de vida naquela que é a solução para o futuro da mobilidade em todo o mundo. Madrid, a 500 quilómetros de Lisboa, está a mais de 11 horas de comboio. Entre Lisboa e Porto as coisas ainda resultam, mas são sempre mais de quatro horas de viagem. No resto do nosso território o comboio é uma miragem. Só para darmos um bom exemplo, dos muitos que há por essa Europa fora, a viagem entre Paris e Lyon, cidades separadas por 466 quilómetros, demora duas horas e seis minutos de comboio. A ferrovia em França, Espanha e Itália, comparada com a de Portugal, é como comparar o vinho tinto do Ribatejo com a cerveja preta da Sagres. O mais estranho é vivermos em paz com os políticos que adiam o aeroporto há meio século, não investem um chavelho na ferrovia, deixam-nos a um dia de viagem da principal cidade da vizinha Espanha e ainda se dão ao luxo de serem vedetas de televisão nos casos e casinhos que fazem a delícia da manada de elefantes que somos todos nós.

Não fui à última apresentação da CTI e já jurei que não dou mais para este peditório. Para mim o aeroporto de Lisboa só acaba quando Nossa Senhora de Fátima voltar a fazer milagres.

É mais fácil Salazar ressuscitar do que fecharem o aeroporto Humberto Delgado. Todas as soluções para o novo aeroporto que defendem, a médio ou a longo prazo, o fecho da Portela, são formas encapotadas de defender grandes investimentos em soluções aeroportuárias megalómanas para ficarem às moscas. No final, se a decisão for dos políticos já conhecidos do PS e do PSD, o que nos espera é mais do mesmo: quem manda no país são aqueles que viajam e querem o aeroporto no melhor lugar do mundo, que é mesmo ali onde está e vai ficar com toda a certeza. JAE.

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