quinta-feira, 27 de março de 2025

Os aviões da TAP, Pedro Nuno Santos e o PSD na região ribatejana

Não sou do PSD, nunca me filiei num partido, mas não acho que os social-democratas têm sarna, assim como não acho que os comunistas comem criancinhas, embora esteja provado que se comem uns aos outros pela forma como vão desaparecendo do mapa eleitoral a cada eleição.


Os aviões da TAP são o melhor e o pior da minha vida de viajante. Nunca fui tão bem tratado em viagens longas como nos aviões da TAP, mas também nunca me senti tão maltratado como viajante por uma tripulação da TAP que me queria deixar no destino por overbooking, quando o meu check-in tinha sido feito a tempo e horas.

Um dia destes viajei para África num avião meio vazio. Fui dos últimos a entrar e assim que percebi que o corredor era todo meu disse à assistente de bordo, que me vigiava no assento de emergência, muito para lá do meio do avião, que fosse à sua vida que eu ia à minha. “Mas esta é a minha vida”, respondeu-me com um sorriso sem nada que fizesse prever que eu não ia sentar-me numa cadeira da metade do avião que ia quase vazio. E assim foi. Sai do meu lugar de mansinho e fui para onde se viajava com o conforto e o sossego da primeira classe.

Escrevi e li todo o caminho e lembrei-me do tempo em que se fumava nos aviões. E como alguns críticos que ainda hoje respeito escreveram cobras e lagartos sobre tão escandalosa proibição. Hoje a proibição de fumar num avião parece até piada tendo em conta que se alguém acendesse um cigarro era imediatamente excomungado. Mas nem sempre foi assim. Houve quem resistisse à proibição. Estou velho como o caraças. Lembro-me de algumas viagens com editores e escritores, todos reunidos nos últimos bancos do avião a fazermos tertúlia e a fumarmos (eu só fumava o cigarro dos outros e era o mais distante possível porque enjoava). Como é que daqui a meio século os meus netos vão aceitar que o avô gostava de fumar à noite, antes de dormir, embora soubesse que o tabaco prejudicava o sono? Não sei nem quero saber. O vício de fumar, ainda que só à noite e altas horas, alimenta um prazer solitário que só quem pratica saberá explicar.


Os aviões da TAP são uma das razões para não gostar do actual líder do PS, Pedro Nuno Santos, que assinou um cheque de meio milhão de euros para indemnizar uma ex-administradora da TAP que foi posta na rua, e teve o descaramento de dizer que não se lembrava depois de ter sido confrontado com a mentira em que escondia a sua responsabilidade como ministro com a tutela da companhia. É ele que está a iniciar uma campanha eleitoral para mais umas eleições legislativas em que alimenta a fé do seu partido ganhar e nomeá-lo primeiro-ministro.  Esta mentirinha da indemnização de meio milhão de euros só tem 4 anos. Foi ontem. Mas parece obra de um liliputiano dos tempos modernos, que agora não saberei explicar de forma a ser compreendido.

Pedro Nuno Santos ganhou o PS depois de António Costa ter sido traído por um chefe de gabinete que tinha quase 80 mil euros em notas no seu gabinete, que diz ser o valor de trabalho que prestou a terceiros. Alguém acredita verdadeiramente nos políticos enquanto não ficar claro que não podem cuspir para o ar porque é certo que o cuspo lhes cai em cima? Não sou do PSD, nunca me filiei num partido, mas não acho que os social democratas têm sarna, assim como não acho que os comunistas comem criancinhas, embora esteja provado que se comem uns aos outros pela forma como vão desaparecendo do mapa eleitoral a cada eleição. Também não acho que os socialistas que governaram o país sejam tão esquecidos como Pedro Nuno Santos. Mas o tempo dirá o que vale este discípulo de António Costa com quem teve a briga do aeroporto que vai ficar na história de Portugal, não por causa da indemnização, mas pelas razões que o levaram a anunciar o aeroporto no Montijo e, no dia a seguir, a sofrer a desfeita do primeiro-ministro que lhe retirou a autoridade sobre o assunto.


Como estamos a escrever sobre gente da política e dos negócios não acabo sem deixar uma nota para o facto do PSD se preparar para apresentar nas próximas eleições legislativas, como cabeça-de-lista no distrito de Santarém, o impagável João Moura, o homem que melhor sabe explicar como é que se pratica o ofício de secar tudo à volta para ele ser o bombeiro de serviço. Muito mal vai a região de Santarém quando o partido do poder, que quer voltar ao poder, tem um político destes como grande referência. Só temos duas hipóteses para conseguirmos sobreviver no meio de tanta mediocridade: continuamos a acreditar que ninguém vive para sempre debaixo de uma moita, ou continuamos a acreditar que o quartão tanta vez vai à fonte que um dia parte-se pelo caminho. Há uma terceira hipótese, mas essa fica para os camaradas do PSD nos contarem quando falarem da importância política do partido na região ribatejana e na defesa do nosso território. JAE .

quinta-feira, 20 de março de 2025

Gastar cera com defuntos, o PS e o PSD, e o exemplo da Chamusca que é um concelho em extinção

O crescimento do CHEGA que recruta políticos para candidatos a deputados como se recrutam trabalhadores para a vindima, não serve de lição aos líderes dos partidos tradicionais que falham todas as promessas.


É gastar cera com defuntos escrever sobre o facto do PSD na região ribatejana ser um partido fantasma quando chega a hora de concorrer às autárquicas? Há bons exemplos, mas na generalidade sobressaem os maus.

Nem por isso as direcções dos partidos a nível nacional pedem contas aos líderes regionais e locais. Com a desmobilização dos cidadãos, que estão cada vez mais descontentes com a vida política, os políticos locais e regionais, salvo as excepções, comportam-se como caciques e estão-se marimbando para os resultados pois sabem que nas altas esferas dos partidos discutem-se prebendas, marcas de carros, nomes de gajas e de gajos, e contam-se algumas piadas brejeiras que cortam a direito e gozam com quem se põe a jeito, independentemente de ser do partido A ou B.

Está por nascer o jornal ou a televisão, de âmbito nacional, que faça o escrutínio dos políticos e da vida em sociedade que não seja à volta das elites da capital. A maior parte dos colunistas são amigos dos governantes ou dos ex-governantes, mas apesar das diferenças de opinião todos têm acesso à mesma garrafeira, à mesma panela, às mesmas irmandades. É por isso que a regionalização é o maior fantasma no seio dos partidos, nas reuniões das associações de empresários, nos meios intelectuais onde se discutem lugares e posições na administração pública, em todos os lugares onde toca o alarme só de se falar numa possível descentralização de poderes que esvazie os poderes dos mangas de alpaca de Lisboa.

O crescimento do CHEGA que recruta políticos para candidatos a deputados como se recrutam trabalhadores para a vindima, não serve de lição aos líderes dos partidos tradicionais que falham todas as promessas da reforma da Justiça, do Serviço Nacional de Saúde, da escola e creches para todos, da habitação social e o mais que todos sabemos.

Pedro Nuno Santos é o líder do PS que há três anos na qualidade de ministro de António Costa, o seu líder no PS e no Governo,  anunciou um novo aeroporto no Montijo que António Costa desfez no dia a seguir. Foi o governante que mais mentiu sobre a realidade da TAP e da CP, duas empresas que consumiram e consomem mais do orçamento público que quase todos os portugueses reformados.

Dizem as primeiras sondagens que na Carregueira, concelho da Chamusca, onde a CDU perdeu a câmara da Chamusca para o PS ao fim de mais de quase 40 anos de poder, dizem os números que os partidos tradicionais têm os dias contados. Não admira. O estranho é que seja só na Carregueira porque a abertura dos políticos do concelho para fazerem ali aquilo que mais ninguém quis noutra parte do território teve como paga o esquecimento eterno. Os investimentos prometidos estão por cumprir e mesmo que os políticos locais não saibam valer as suas reivindicações, o povo sabe fazer justiça pelas suas próprias mãos, neste caso usando o voto. Não resultou o castigo à CDU dando a vitória ao PS e a Paulo Queimado e Cláudia Moreira. Foi pior a emenda que o soneto. Falta saber se ainda vamos a tempo de ver o governo a cumprir as promessas que estão por cumprir, incluindo o raio de uma ponte que depois de fechada nos dois sentidos tem um tabuleiro onde qualquer dia se podem semear batatas. JAE.

quinta-feira, 6 de março de 2025

A luta de galos entre os mesmos de sempre na casa da democracia

Uma crónica a propósito da reedição de O PROCESSO e a recordação de três frases, roubadas à memória, que espelham os tempos que vivemos.


O empresário José Manuel Roque, que faleceu recentemente, era um homem de poucas confianças, mas tinha uma atitude perante a vida que não era de vacilar. Éramos amigos, mas não tanto. A nossa diferença de idades, o nosso trabalho e o percurso de vida não permitiam grandes tertúlias. Curiosamente, a última vez que veio em meu socorro para me defender num julgamento em que estava a ser apertado por gente que queria fugir com o rabo à seringa, o seu depoimento sobre mim não foi validado pelo juiz que acabou a condenar-me. Mas o mesmo se passou com o presidente da câmara de Santarém da altura, Ricardo Gonçalves, que embora fosse testemunha importante dos motivos que levaram ao julgamento, foi igualmente desconsiderado pelo juiz e também as suas declarações foram dispensadas na hora do juiz decidir.

Cito José Manuel Roque porque desde que o conheci, até morrer recentemente, sempre lhe ouvi esta frase forte, mas que ele não perdoava cada vez que analisava a situação política do país: “Portugal é um bordel em autogestão”.

Outro episódio que ficou na memória foi o que resultou de uma entrevista que realizei em parceria com o Alberto Bastos, em Março de 1992, com Rui Sommer de Andrade,  que confessou que Portugal lhe ficava apertadinho nas cavas. A mais recente, que também não vou esquecer, é a frase de Mira Amaral que, numa entrevista ao jornal SOL, disse que qualquer dia um tipo só pode ir para o governo se tiver acabado de nascer.

Todas estas frases se ajustam ao momento político que vivemos, que não é mais que uma luta de galos entre os mesmos de sempre, que enchem a casa da democracia como dantes se enchiam os circos em Roma. E é de lá que alimentam toda a informação que chega a todas as televisões e jornais do regime que monopolizam a informação que chega à generalidade do povo português.

 

O caso MIRANTEGATE

Acaba de sair para as bancas a segunda edição de O PROCESSO, um livro que conta a tentativa de silenciamento da actividade de O MIRANTE.  Orlando Raimundo, o autor, junta-lhe um prefácio a que dá o título de “O caso Mirantegate paradigma da liberdade” onde reconhece que este caso “foi, por ventura, o mais grave atentado à Liberdade de Imprensa do pós 25 de Abril, adiantando ainda que “nunca antes na atribulada História da sonolenta e amadorística Imprensa Regional Portuguesa nada de semelhante tinha acontecido”. António Valdemar, o decano dos jornalistas portugueses, assina na quarta capa do livro um elogio a Orlando Raimundo, que considera um jornalista “consagrado ainda antes do 25 de Abril” e “um dos grandes repórteres da sua geração que derivou para a investigação histórica de figuras e acontecimento polémicos do nosso tempo”.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

As universidades seniores, os meios de comunicação regionais e o desenvolvimento local

Os meios de comunicação deviam viver mais da participação dos cidadãos. E os alunos das universidades seniores podem ter um papel diferenciador nessa participação.


“Os meios de comunicação regionais e o desenvolvimento local” foi o título que a RUTIS deu a uma das intervenções de abertura do seu Congresso que reuniu em Óbidos no passado dia 20 de Fevereiro. Fica aqui o essencial da palestra que proferi para cerca de centena e meia de pessoas que estavam na sessão de abertura.

Os meios de comunicação regionais e locais são a única voz de uma região que leva para fora de portas aquilo que só a nós nos interessa. Por isso é tão importante a sua existência. Se dependermos em termos de desenvolvimento regional do escrutínio que o poder de Lisboa tem sobre o nosso território, nunca mais passamos da cepa torta, e a RTP e os organismos do Estado, que têm tutelas mais fortes que ministérios, arrasam orçamentos e todos juntos são um perigoso poder paralelo que nos governa quase há 50 anos. 

Se há coisas de Abril que faltam cumprir é a distribuição dos incentivos do Estado em igualdade de circunstâncias para os que gravitam na grande nave do Terreiro do Paço e os outros que vivem no bairro, na charneca, na lezíria ou na grande paisagem que é todo o interior do país.

É evidente que sem imprensa de proximidade não há escrutínio. Se não houver imprensa de proximidade não há descentralização, se há coisas que matam todos os dias um pouquinho a nossa democracia é a falta de escrutínio, ou então a tentação de escrutinar para além do razoável, que é o que está a acontecer nesta altura com a mudança de cadeiras que se deu na Assembleia da República. Caiu o Carmo e a Trindade em S. Bento porque um determinado partido elegeu como deputados pessoas que não estão a respeitar o que era regra no parlamento.   

Os meios de comunicação deviam viver mais da participação dos cidadãos. E os alunos das universidades seniores podem ter um papel diferenciador nessa participação. Os meios só têm a ganhar se aceitarem textos de opinião dos cidadãos que vivem e pensam o território e no território. Se os professores e os alunos se empenharem nessa missão de escreverem textos e gravarem depoimentos para enviarem aos meios, tenho a certeza que serão bem recebidos.

Os textos mais lidos de O MIRANTE são as entrevistas e as reportagens que retratam os dirigentes associativos e as suas colectividades, os textos que põem a nu as injustiças sociais, os textos das rubricas onde damos voz aos cidadãos que têm uma história para contar.

Os alunos das universidades seniores podem mudar em parte a linha editorial de um meio de comunicação social se organizarem e souberem como intervir no meio onde vivem e trabalham. O que cada um de nós tem para ensinar ou influenciar uma redacção de jornalistas é tão ou mais importante que colaborar apenas como leitor ou ouvinte. Não vou deixar aqui o anúncio de uma ferramenta ou apontamentos sobre como a universidade sénior e os seus alunos podem ser diferenciadores no debate sobre o desenvolvimento regional. Deixo a minha disponibilidade para ser parceiro de quem quiser arriscar aceitar esse desafio e desconstruir essa ideia de que estamos condenados a ver e ouvir televisão, sempre com o coração apertado, porque está tudo em guerra, e as desgraças e os mortos entram pela nossa casa como se o nosso reduto fosse um mesmo cenário de guerra, que dá continuidade às reportagens que chegam do fim do mundo, e que, na maioria dos casos, nem precisam da intervenção de jornalistas para serem contadas. JAE.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

O livro de cada dia nos dai hoje

O título desta crónica foi roubado de um texto que Onésimo Teotónio Almeida escreveu como prefácio a um texto de George Steiner, publicado pela Gradiva, que acaba de chegar às livrarias.

O meu dia de trabalho hoje acabou com uma reunião onde soube que um colega da gestão comercial caminhou durante semanas, de surpresa, para uma empresa onde recebeu cerca de cem euros de dívida em cinco prestações. Embora a empresa ficasse em caminho, no regresso a casa, obrigava a um desvio de vários quilómetros por estradas secundárias. E em metade das deslocações não teve resultados.

Conto este episódio para deixar aqui um exemplo do que é gerir uma empresa de comunicação social, e não me alongo mais porque esta matéria é mais assunto de caserna do que de discussão pública. Conto o episódio para justificar a crónica sobre dois livros em que o autor é um açoriano chamado Onésimo Teotónio Almeida (OTA), professor universitário há meio século nos EUA e um ensaísta e cronista como não há outro em Portugal. Durante muitos anos enviámos-lhe o jornal e alguns livros que fomos publicando. Depois, nem sei porquê, o jornal deixou de atravessar o Atlântico e o mesmo aconteceu com os livros. Mas mantive-me sempre fiel à leitura dos seus livros e às crónicas que vai publicando regularmente, e que não é difícil encontrar por aí tendo em conta que os meios para o fazer são, a cada ano, mais raros e com menos páginas. Dedicar-lhe esta coluna é uma honra mais para mim do que para ele e para os seus livros. O espaço desta coluna que estava guardado para contar a história do Diogo e da sua persistência como elemento da equipa de gestão comercial fica para outra altura. Provavelmente, se tivesse que dar contas a alguém não me estava a explicar. Quem acha que conhece o ser humano nunca soube que “acossado pelo terror estalinista, Bakhtin arrancou as folhas do livro de estética que escrevera para remediar a terrível falta de papel de enrolar cigarros”.

O título desta crónica foi roubado de um texto que OTA escreveu como prefácio a um texto de George Steiner, publicado pela Gradiva, que acaba de chegar às livrarias. O livro tem 80 páginas e o ensaio de Steiner, intitulado “O Silêncio dos Livros”, ocupa menos de metade do livro. Steiner é um dos meus autores preferidos, mas só comprei o livrinho depois de ler duas vezes o prefácio de OTA e de dizer para com os meus botões: vou levar o livro, o texto do prefácio merece os 11 euros.

Na terceira leitura, já em casa, com uma caneta em mãos assinalei as partes do texto que mais gostei. E de seguida li Steiner, num texto igualmente soberbo sobre livros, em que a certa altura conta que “na agonia, Balzac chamava pelos médicos que tinha inventado na Comédia Humana”, e que, “segundo Shelley, um homem verdadeiramente apaixonado pela Antígona de Sófocles jamais poderia viver uma experiência semelhante com uma mulher real”, e ainda que “Flaubert sentia-se rebentar como um cão enquanto “a puta da Bovary” se preparava para viver eternamente”.

George Steiner morreu a 3 de Fevereiro de 2020 e parece que foi no mês passado. A morte dos que admiramos, mas vivem distantes do nosso afecto, não conhece limites temporais. Para mim ele morreu ontem; se estiver distraído a lê-lo é bem possível que acredite que ainda é vivo e até o confunda com outro ensaísta que me fala igualmente das palavras de Joyce: “Esmaguem-nos, que nós somos como as azeitonas”, ou ainda do facto de “Varsóvia a Buenos Aires haver tanta publicidade a elogiar panfletos em que se nega a existência dos campos de morte nazis, panfletos a que é fácil deitar a mão”, que o leva a perguntar se “não será esta uma boa razão para haver censura”.

Não é de George Steiner que quero escrever, mas de Onésimo Teotónio Almeida que editou também recentemente um livro imperdível para quem gosta de literatura portuguesa e se interessa por textos “cuja unidade consiste no entabulamento de conversas em linguagem clara e distinta com autores tutelares da cultura portuguesa do século XX, que falam de Natália Correia, Fernando Pessoa, José Saramago, José Rodrigues Miguéis e Jorge de Sena, só para citar alguns que o escriba também mais aprecia.

“Diálogos Lusitanos”, assim se intitula mais um volume de ensaios de OTA, tem um texto reproduzido em parte na contracapa que fala de outros títulos mais antigos, em que o autor afirma ter “tentado contribuir para o que até aqui me parece ser um diálogo de surdos em que cada um fala e ninguém responde, nem sequer simplesmente fazendo um eco”, numa clara alusão ao pobre meio literário e cultural português. JAE.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Morrem mais crianças e mais idosos devido aos problemas da falta de médicos

Não são só os políticos que merecem figurar numa lista onde sejam responsabilizados pela morte dos nossos doentes mais frágeis. Os médicos que ocupam lugares de decisão são tão criminosos como eles.


Ontem ouvi dizer que a CUF em Santarém parecia um hospital público. No dia anterior fui à CUF Descobertas, em Lisboa, ao piso cinco, e a acumulação de gente era incomum, o que não impediu que a minha consulta não se realizasse à hora marcada. Anteontem a espera nas urgências dos doentes urgentes no Hospital de Vila Franca de Xira era de quatro horas.

Esta questão da saúde e da falta de médicos para salvar os infelizes que ficam quatro horas numa urgência e acabam por morrer na maca, e quando não morrem ficam às portas da morte, indigna e é indigno dos tempos que vivemos.

 Os políticos que mandam nisto tudo não sabem que os nossos velhos não aguentam 4 horas numa urgência se lá chegarem numa situação periclitante? E não resolvem os problemas da falta de médicos porque querem acabar com os idosos pobres para livrarem o Estado do custo de os sustentarem e ainda terem que ajudar no pagamento do Lar?

Um tipo que é ministro da saúde, ou foi ministro nos últimos anos, não sabe que um dia vai para uma lista dos criminosos que deixaram morrer muitos portugueses valorosos com bactérias hospitalares ou de bruços nas marquesas dos bombeiros que se acumularam e acumulam nas urgências?

Eu ajudo a pagar do meu bolso a um investigador universitário que se meta num trabalho destes. Dou de boa vontade uma parte do custo de uma investigação que aponte o dedo aos governantes que contribuíram e continuam a contribuir para a morte dos nossos velhos que ainda viveram o tempo da fome do antes do 25 de Abril.

Não são só os políticos que merecem figurar numa lista onde sejam responsabilizados pela morte dos nossos doentes mais frágeis. Os médicos que ocupam lugares de decisão são tão criminosos como eles, neste caso vale o velho ditado que tão ladrão é o que vai à vinha como o que fica à espreita. 

No dia em que escrevo este texto ouvi da boca de um dirigente hospitalar a história de um médico que não apareceu para dar consultas e nem se justificou. E deixou cerca de duas dezenas de doentes literalmente pendurados.

Se houvesse justiça e a maioria de nós exercesse a cidadania, outro galo cantaria.

Dou outro exemplo que roubei da vasta informação sobre o regime democrático da nossa República: mortes de fetos e recém-nascidos quase duplicaram em 2023 na região de Lisboa e Vale do Tejo. Trata-se de um aumento significativo de óbitos, que não se verifica no resto do país. As explicações para este fenómeno podem encontrar-se na idade das grávidas e também na falta de acompanhamento médico durante a gravidez. Diz ainda um responsável, administrador hospitalar, que as dificuldades na rede de urgências de obstetrícia podem ter contribuído para este aumento, mas há outros factores a ter em conta.

Enfim, estamos entregues aos bichos. Entretanto António Costa saiu do Governo depois do seu  ex-chefe de gabinete lhe ter feito a folha e foi eleito presidente do Conselho Europeu, ou seja, recebeu o prémio Nobel da política por nos ter desgovernado e ter deixado a Saúde e o Sistema da Justiça e o mais que sabemos pior do que encontrou.

Nota: Nesta edição contamos na página 15 uma história que é um bom exemplo do desprezo a que hoje são votados as grávidas que precisam dos serviços de urgência, neste caso do Hospital VFX. JAE .

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Quem aceita cargos no Governo ou é tolo ou é muito rico

Portugal tem uma lei vergonhosa que impede que os melhores sejam escolhidos para nos governarem. Não há político honesto que não saiba que a nossa democracia não resiste à mediocridade instalada, mas todos assobiam para o lado e fingem que não se lembram que o 25 de Abril já foi há meio século.

Quando a imprensa regional e local tinha importância, na generalidade, temos que recuar pelo menos três dezenas de anos. Dez anos depois já se notava a diferença ainda para pior. Depois da Troika a vida das empresas editoras de jornais nunca mais foi a mesma. Os políticos, desde que José Sócrates tomou conta do Partido Socialista em 2004, começaram a fazer saldos dos seus estados de alma e venderam tudo o que havia para vender porque a máquina de produção de mentiras e actividades criminosas passou a trabalhar 25 horas por dia e com alta tecnologia. Destruir o edifício da comunicação social foi um dos objectivos mais escandalosos; sem jornalistas não há jornalismo e sem jornalismo ninguém é escrutinado, seja a receber dinheiro em envelopes em plena avenida da Liberdade, em Lisboa, seja nas empresas dos países onde o dinheiro não tem rosto nem deixa rasto.

É mais que sabido nos meios políticos, incluindo entre todos os políticos do regime com cargos importantes, seja a nível nacional ou local, que ainda há muita gente ligada a escritórios de advogados a receberem do Sistema para darem como concluída a extinção do Banco Português de Negócios (BPN), fundado em 1993, depois nacionalizado em 2008, onde terá começado a longa jornada de crimes que ainda hoje dura e que envolveu quase toda a elite dos políticos e dos banqueiros portugueses (evidentemente só uma pequena minoria foi descoberta e alguns pagaram com a vida essas aventuras criminosas). Muito antes do escândalo do BES visitei um gabinete de um banqueiro do tamanho de um campo de andebol, e nas paredes havia apenas um quadro com um grande cifrão a servir de decoração. E não direi que era obra de artista, mas sim uma boa reprodução numa moldura quase vulgar.

Não percebo como é que os líderes dos governos empossados têm que escolher a pior escória da política para formarem governos, sabendo que isso se deve ao facto de os ministros e os secretários de estado não poderem ter empresas em nomes deles. Esta falha na lei obriga os líderes a optarem pelos mais astutos, por aqueles que têm as sogras e os sogros, o cão e o gato, a gerirem o património e assim ficam livres não só para ocuparem imerecidamente lugares no governo do país, como depois para se servirem da política e enriquecem à boa maneira dos países do terceiro mundo. Os Homens sérios, que se recusam a fazerem figura de ótarios e esconderem o seu património para poderem ser membros de um Governo do país, rezam pela alma dos seus avós e aconselham os filhos a irem trabalhar para países onde, pelos menos, há vergonha.

Oliveira Salazar morria outra vez se voltasse à terra e percebesse como os políticos portugueses governam Portugal desde o dia 25 de Abril de 1974, como quase todos se dividem e andam desavindos, ao jeito das famílias sempre à briga para governarem a casa onde se aplica o velho ditado: onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão.

Os funcionários superiores do Estado que chegaram ao poder depois de saírem da política, que não fazem ponta de corno e ganham milhares de euros por mês, mais os gestores incompetentes da administração da coisa pública que obedecem apenas a quem tem dinheiro e manda nisto tudo, fazem de Portugal um país bom para envelhecer, comprar umas viagens às ilhas, aproveitar as tardes de Primavera/Verão para jogar as cartas, e as de chuva no Outono/Inverno para ir ao ginásio, e quando chegar a hora da partida apanhar um avião e ir até à Suíça para uma clínica onde pratiquem a Eutanásia.  Deus me livre perder este sentimento de revolta e envelhecer num lar em Portugal a ver e a ouvir a televisão, nomeadamente aqueles canais que entrevistam os adeptos do Benfica, do Sporting e do Porto nas vésperas dos jogos, e logo a seguir passam 15 minutos de imagens de guerra ou de apreensão de drogas, quando não é de crimes passionais.

Comecei a escrever esta crónica falando do sector da imprensa em Portugal que é hoje mais pobre que Job, embora já tenhamos um patrãozinho chamado Cristiano Ronaldo que pode baralhar as contas a muita gente. Mas alguém acredita que o maior jogador de futebol de sempre tenha unhas para gerir jornalistas e gerar dinheiro sem depois vender uma parte aos Árabes, e outra aos chineses, que já são donos da nossa energia e do mais que nem sabemos? JAE.