quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O mundo a preto e branco e a cores


Há quinze anos atrás, quando ainda participava regularmente em congressos sobre jornais e jornalismo, aprendi algumas lições que ainda hoje me servem de inspiração para o trabalho. Há década e meia atrás o mundo era a preto e branco nas empresas e nas redacções dos jornais portugueses. O maior exemplo da mudanças foi a saída de cena de Francisco Pinto Balsemão que era, e ainda é, o maior patrão da comunicação social portuguesa, o único que se interessava verdadeiramente pelo associativismo no seio das empresas de comunicação social. No mundo a cores em que vivemos já não há patrões preocupados com as associações do sector. O Poder começou a exercer-se de outras formas e as associações perderam o Poder quando perderam os dirigentes que ainda acreditavam no associativismo.
Num congresso em Macau ouvi um administrador da TSF dizer que só um jornalista tem condições para dirigir, com êxito, uma empresa de comunicação social. Quando a imprensa regional se revia ainda, e apenas, no Jornal do Fundão, ouvi António Paulouro fazer elogios ao percurso de O MIRANTE que nunca mais esquecerei. Tão importante como os elogios foram as suas palavras experientes explicando-me como eu nunca deveria gerir a minha empresa para não cometer os mesmos erros que lhe saíram tão caros e roubaram anos de vida.
Num congresso onde participavam cerca de duas centenas de jornalistas e empresários fui assistir a um debate em que os elementos da mesa eram tantos como os assistentes. Discutia-se o futuro das gráficas na vida dos jornais e, para além da minha presença na plateia, só lá estavam mais quatro assistentes, entre eles Pinto Balsemão. Ainda hoje me interrogo em que restaurantes ou casas de meninas andavam os meus colegas da IR.
Fui atrás destas recordações para falar de uma outra experiência: um dia aceitei a proposta de uma figura pública que queria manter uma coluna de opinião neste jornal. Onde é que está a novidade? O artista ditava-me o texto ao telefone e eu depois é que compunha a prosa e assinava com o seu nome. Foram alguns meses de angústia e de trabalho que me custaram alguns pesadelos. Eu queria que O MIRANTE se tornasse um jornal de referência na região. E para isso não me importava de ser o negro de um cronista preguiçoso que ficava meia hora a ditar-me milhares de palavras que eu depois tinha que reduzir a algumas centenas sem perder o fio à meada.
Na noite da entrega dos prémios personalidade do ano, que O MIRANTE entregou pela terceira vez na passada quinta-feira, senti em cima do palco, na saudação aos eleitos e aos convidados, o peso da responsabilidade de ter ajudado a fazer de O MIRANTE o jornal de referência de uma região. Sabendo que não há nada tão precário na vida como o fruto do trabalho de um jornalista, só o mérito, o prestígio e a generosidade dos eleitos podiam juntar tanta gente em Almeirim para aplaudirem e valorizarem os homens e as mulheres que os jornalistas de O MIRANTE elegeram como personalidades do ano de 2007. 

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