quarta-feira, 13 de maio de 2009

Os jornalistas, os políticos e a crise


     Na passada semana participei numa conferência em Madrid organizada pela IFRA, uma organização mundial de investigação e de serviços ligada aos jornais e à indústria gráfica, que reuniu editores de todo o mundo.
     Bernard Spitz, membro do Conselho de Estado Francês e braço direito do presidente Nicolas Sarkozy, foi convidado da organização para explicar os contornos das medidas do Governo francês que pretendem ajudar a imprensa a sair da crise.
     Depois de explicar como é que as medidas de apoio estão a ser implementadas, Bernard Spitz foi confrontado com várias perguntas, nomeadamente dos editores espanhóis, como é o caso da VOCENTO, proprietária do ABC, que imprime junto à fronteira entre os dois países mais de dois milhões de jornais por dia.
     A resposta para a aflição por que também passam as empresas espanholas, que começam a sentir o efeito das ajudas do outro lado da fronteira, surgiu de forma clara e frontal. O Governo francês entendeu ajudar as empresas de comunicação social, nomeadamente a imprensa escrita, porque assim estamos a salvar um dos valores mais caros da nossa democracia que é a liberdade de imprensa e a força do bom jornalismo.
     A resposta de Bernard Spitz não deu azo a qualquer comentário. E foi ele próprio que adiantou que a França é, nos dias de hoje, o vigésimo país da Europa na leitura de jornais diários e o quinquagésimo a nível mundial, números que surpreenderam tendo em conta o quanto a imprensa francesa já foi uma referência a nível mundial.
     Espanha é um dos países do mundo onde a imprensa tem mais qualidade. Não admira por isso que esteja também a passar por uma crise acentuada com a redução dos investimentos publicitários.
     O que me empurrou para falar do assunto nesta crónica é a sensação de que ainda somos do terceiro mundo quando nos juntamos a discutir estes assuntos com os nossos vizinhos. Um Governo que respeita assim a comunicação social do seu país não é, de certo, um Governo que anda atrás dos jornalistas a pressioná-los com processos judiciais. Num país onde os jornalistas são cultos e responsáveis, e exercem a profissão sem despirem a pele de cidadãos, não se escreve e publica de forma quase irresponsável como aconteceu e ainda acontece nos processos Casa Pia e Freeport.
     Definitivamente a nossa classe política também merece os jornalistas que temos. Quem anda nesta vida há muitos anos sabe o que diziam os socialistas sobre os casos da honra quando governavam os social-democratas. E sabe o que dizem, de há muitos anos a esta parte, os social-democratas desde que os socialistas estão no Governo.
     Reformas na máquina do Estado, nomeadamente na Justiça, de forma a que se acabe com esta pouca vergonha, isso ninguém vê fazer. Nem Sócrates, aquele em que muitos portugueses ainda confiam, consegue mudar o sistema judicial, mesmo vivendo um caso em que, para além do seu nome, também o dos seus parentes “caíram na lama”.

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