quarta-feira, 7 de julho de 2010

O ridículo pode matar

Há situações ridículas que nos chocam e nos obrigam a dar a mão à palmatória. A Câmara de Santarém pagou recentemente duas facturas de vinte euros a um fornecedor do concelho a quem deve cinco mil há muito tempo. O recibo foi emoldurado no dia em que chegou à empresa para que todos os seus clientes o vissem e dessem conta do ridículo.
Não é a primeira vez que sou abordado por munícipes para me darem conta da dimensão do monstro que é a Câmara de Santarém. Conheço e tenho boas relações com uma pessoa próxima de Moita Flores que já me confidenciou que a solução para acabar com os podres na câmara era denunciar os incompetentes e trazer os casos para a praça pública. Mas para isso era preciso muita coragem política e muita gente a trabalhar para depois haver quem substituísse os incompetentes. Foram muitos anos de regabofe e há muito engenheiro e doutor que ganhou poder por falta de autoridade dos autarcas anteriores. E não é agora pelos lindos olhos de Moita Flores que vão mudar. Não basta ter poder político e autoridade moral e intelectual para gerir, nos dias de hoje, a Câmara de Santarém. É preciso ter uma equipa. E neste capítulo Moita Flores está muito mal. Não só não tem equipa que lhe valha como não tem gente na câmara disposta a aceitar as mudanças de regras. Rui Barreiro e a sua cambada de actores políticos, que o acompanharam e dele viveram e se sustentaram ao mesmo tempo, deixaram a autarquia dinamitada e em risco de falência. Não foi a falência financeira que Rui Barreiro tanto gritou e berrou quando roubou o poder dentro do PS ao seu camarada Noras e depois conquistou a câmara. O que ele deixou como herança a Moita Flores, para além da quase falência financeira, foi a falência moral. A falta de valores e de ética por parte de grande parte daqueles que têm o poder nas mãos ao desempenharem cargos na administração pública sem a vigilância informada e sabedora daqueles que detêm o poder de mandar e fiscalizar.
O gabinete de Comunicação Social da câmara tem mais funcionários que os dois jornais locais que se editam na cidade. Nem por isso a câmara tem uma mailing-list actualizada para enviar aos agentes do concelho. Falo no gabinete de comunicação social e na falta de vergonha que é sustentar um gabinete daqueles, não por falta de coragem para escrever sobre os outros mas porque nada sei sobre os outros e tudo é tão secreto nesta autarquia que até para nos enviarem uma cópia de uma conta-corrente precisamos de meter um requerimento ao Presidente da República.
Uma literacia actual inclui nos seus “elementos básicos” as matemáticas, a música, a arquitectura e a biogenética. Lembro-me sempre deste conceito de Steiner, que considero actual, quando sou obrigado a dar a mão à palmatória no exercício da minha cidadania.

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