Num texto de apresentação de um livro chamado “O Bordel das Musas”, João Cutileiro conta que “há pouco mais de 150 anos, na Praça do Giraldo, havia autos de fé e execuções com palco e tudo. Ainda hoje se pode ver que do palco dos Condes de Murça sai uma plataforma de ferro adossada à igreja de Santo Antão (onde meus pais casaram) para que os então nobres e os seus amigos tivessem regalias de primeiro balcão: )”. Só em 1957 um editor francês conseguiu publicar, sem correr o risco de ser preso, os primeiros livros do Marquês de Sade, esse sublime energúmeno que recentemente fez furor em Paris numa exposição no Museu d´Orsay 200 anos depois da sua morte. A instituição da Inquisição persistiu até ao início do século XIX. O filósofo alemão Theodor Adorno perguntou, em 1949, se era possível escrever poesia depois de Auschwitz.
Tomei algumas notas que ficaram esquecidas no computador e recupero-as agora para dizer como Ortega y Gasset nas suas Meditações do Quixote: Cada dia menos me interessa sentenciar; a ser juiz das coisas vou preferindo ser seu amante”.
Falar é fácil. Escrever é um pouco mais difícil mas facilita-se falando para o gravador e depois mandando transcrever. Quem anda na faina como nós sabe que ainda há muita gente por aí com comportamentos e mentalidades dos tempos de antanho. Os banqueiros aproveitam-se dos políticos, e os políticos aproveitam-se dos banqueiros, e o mundo continua a ser sustentado por uma grande maioria que trabalha todos os dias de sol a sol. A minoria, esses excelsos energúmenos que regra geral são banqueiros ou donos de grandes empresas, são o próprio sol e só descansam quando a noite cai e engolem a lua. JAE
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