quinta-feira, 21 de maio de 2015

Os dias em Coruche e as noites na Chamusca

A vila de Coruche tem um slogan que se ajusta bem à qualidade de vida que proporciona a quem lá vive. Coruche inspira. É uma escolha feliz. Um fim-de-semana por lá ao ritmo de uma empresa de organização de eventos confere um sentido à nossa vida que ultrapassa todas as contrariedades que nos deprimem neste tempo de vacas magras, violência gratuita e festejos clubisticos que fazem de nós gente do paleolítico.
Em Coruche percebemos como se investe o dinheiro em obras públicas que servem a população do concelho mas também o turismo e o desenvolvimento da região. Coruche tinha um rio sem água e de repente é o local ideal para andar de canoa e para realizar concursos mundiais de pesca. Coruche é a povoação do Ribatejo mais distanciada da auto-estrada mas é aquela onde nos sentimos mais perto das nossas origens. É incrível como os restaurantes servem bem; como as casas-de-banho públicas estão asseadas; como os espaços verdes estão cuidados, como tudo está organizado para proporcionar qualidade de vida e bem-estar a quem lá vive ou a quem visita a vila.
Vivi por lá o fim-de-semana em que na Chamusca, a minha terra de origem, a organização da Semana da Ascensão me deu música de sirenes e tambores até às seis da manhã durante uma semana. Apeteceu-me chorar de raiva por saber que numa semana em que duas dúzias de gajos se divertem até às seis da manhã, bêbados e provavelmente drogados, há centenas de pessoas a sofrerem nas suas casas por não conseguirem dormir, para não falarmos daquelas que morrem de sofrimento numa Unidade de Cuidados Continuados Integrados que fica quase ao lado do palco onde as “bestas” levam a música mais alto que Deus já elevou as mãos em defesa dos homens.
Em nome da festa e das tradições há pessoas que perdem o juízo e cagam nas autoridades? E as autoridades deixam que caguem em cima delas sabendo que alguém está a ofender os nossos mais reais e sagrados direitos que é descansar de noite porque os dias são cada vez mais um castigo?
Na semana em que Coruche mais me inspirou (conheço Coruche como conheço a Chamusca) levei com as tradições alcoólicas da Terra Branca ao ponto de me apetecer mudar de casa. Falo do assunto porque sei que sou também a voz de quem esteve perto da loucura e achou que não ia aguentar tanta noite de sofrimento. JAE

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