quinta-feira, 15 de outubro de 2015

O Victor Hugo do teatro

No Palácio Marquês da Fronteira, em São Domingos de Benfica, Lisboa, voltei ao teatro que não o da Politécnica, o Maria Matos, o São Luís ou o Recreios da Amadora, só para citar algumas salas que costumo frequentar. O teatro interessa-me mais pelos actores do que pelas peças. Vou ao teatro para ver representar os meus actores preferidos e observar o trabalho dos meus encenadores de eleição.
A recente visita ao Palácio Marquês da Fronteira (ler página 23 desta edição) tinha como objectivo ver em cena Victor Hugo, Alexandra Carvalho e Humberto Machado, que já conheço de outras representações, para além do trabalho de Carlos Carvalheiro de quem vou ouvindo elogios e que conseguiu por de pé um projecto fora de Lisboa com actores amadores de fora de Lisboa de que haverá muitos poucos exemplos em Portugal.
Cheguei quase uma hora mais cedo ao Palácio para me encontrar com o Victor Hugo que deixou crescer a barba, farta e branca para melhor representar o Rei Lear. E valeu a pena, tanto a hora de conversa como as duas horas de teatro e passeio pelo palácio. De verdade cheguei ao Palácio/residência de José de Mascarenhas eram cerca de 16h00 e só retornei ao Largo da Estefânia, onde tenho um esconderijo, já passava das 21h00.
Ouvi, no meio de tanta conversa, a pergunta habitual sobre se estava a ver o teatro como jornalista ou como simples espectador; mas ouvi acima de tudo o Victor Hugo falar de si e da sua santa terrinha, que também é a minha, com o desencanto que comungo mas ao qual não dou qualquer importância. Foi uma conversa para matar o tempo, beber vinho branco, comer um rissol e fumar dois cigarros; mas deu para perceber o que vai na alma de um homem a caminho dos oitenta anos que ainda faz teatro com uma atitude e uma energia que nos espanta.
Na nossa conversa sobre sentimentos, bairrismos, colectividades e cidadania deu para perceber que vivemos em mundos diferentes e que a minha opinião não coincide com a dele nem o meu espírito está possuído do mesmo Deus que nos alimenta a alma. Mesmo assim, no reencontro depois da representação, quando lhe dei os parabéns pelo papel que tinha acabado de desempenhar, a sua reacção surgiu em forma de pergunta: “não deixei mal a Chamusca pois não; achas que representei bem a nossa terra?” JAE

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