quinta-feira, 2 de março de 2023

Os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres

O nível da discussão pública em Santarém sobre as questões mais importantes para o futuro da cidade e do concelho tem baixado a um nível inimaginável. Entretanto, os bancos voltam a ser as empresas mais lucrativas do país, o que diz bem do estado da Arte.


Um resfriado que me chateia há algum tempo obrigou-me a ficar mais tempo em casa; por isso li mais nos últimos dias que nos últimos meses. Não sei se devia mas estou decepcionado com uma das minhas escritoras preferidas que abre o seu novo livro em edição portuguesa com agradecimentos a todos os editores e alguns tradutores. Só falta agradecer ao gato e ao cão. Não acredito na sanidade dos grandes autores que, de repente, começam a achar que têm que agradecer a chuva de elogios, a unanimidade da crítica, os milhões de leitores e seguidores nas redes sociais. Há qualquer coisa que não bate certo e nos faz temer o perigo de estar no seu perfeito juízo, que é assim que se chama o novo livro de Rosa Montero.


O custo de vida nos últimos tempos aumentou exponencialmente. Só sabe disso quem ganha pouco, ou não tem trabalho, ou paga renda de casa, tem filhos pequenos ou comprou mercadorias a prestações. Não vejo o Governo preocupado com a fiscalização das operadoras de comunicações, os distribuidores de alimentos, os preços do gás e da luz, as despesas com a nossa saúde fora do SNS, já que nem todos aceitam ficar 12 horas numa urgência de um hospital. Enfim, há um barco a afundar-se e estamos lá dentro sem sabermos se o comandante está solidário com os passageiros ou se tem um plano de fuga secreto para nos deixar no meio da tempestade enquanto ele se põe a salvo.


Apetece escrever que os grandes problemas da Humanidade não preocupam os nossos governantes. Os ricos estão cada vez mais ricos como provam os números divulgados todos os dias. Os bancos são, nesta altura, as empresas mais rentáveis do mercado. O Governo, que abandonou há dezenas de anos a sua responsabilidade na construção de habitação social, anda por aí num falatório a dizer que vai obrigar os proprietários a arrendar as casas vazias nem que seja à força. É evidente que o tema é só para entreter a malta e para desviar as atenções dos problemas reais. Este é o Governo que indemniza os gestores da TAP de forma aparentemente fraudulenta; o Governo que teve um ministro que anunciou um aeroporto e no outro dia foi desautorizado pelo seu chefe; um Governo que tem um primeiro-ministro que teve um secretário de Estado adjunto chamado Miguel Alves, que teve o mérito de dar a conhecer aos portugueses um Joe Berardo dos pobres, um caso tão triste que faz com que a imagem de Portugal no estrangeiro seja aquela que todos sabemos. 


O nível da discussão pública em Santarém sobre as questões mais importantes para o futuro da cidade e do concelho tem baixado a um nível inimaginável. O último debate realizado no campo Emílio Infante da Câmara foi a prova dos nove. Há uma dúzia de papagaios na cidade, sempre os mesmos, que continuam a monopolizar o debate batendo sempre nas velhas questões usando a crítica como quem usa a samarra no Inverno para se proteger do frio. No entanto, quem os ouve palrar até parece que ouve os santos a falarem do cimo de um altar. Curiosamente, os assuntos mais prementes, aqueles que mexem com os interesses instalados de certa gente, nunca são aflorados. É por causa de gente desta que nasceu em tempos imemoriais o ditado popular de que “vozes de burro não chegam ao céu”. JAE.

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