quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Cada vez há menos jornalistas a escreverem sobre o que se passa no país

“Jornalismo é imprimir o que outra pessoa não quer que seja impresso: todo o resto são relações públicas.”  George Orwell


“Há uma crise na formação da opinião pública”, diz José Luís Cebrian, porque “o populismo levou a melhor”, e os políticos esfregam as mãos de satisfeitos por verem que são cada vez menos escrutinados porque há cada vez menos jornalistas a escreverem sobre o que se passa no país. 

As notícias sobre o futuro da comunicação social não são boas para os jornais. Quem é bom observador sabe que nos últimos anos as tiragens em papel dos principais jornais nacionais desceram para números irrisórios; nos casos dos jornais líderes como o Expresso, o Correio da Manhã e o Jornal de Notícias, a tiragem desceu para menos de metade. É assim também em Espanha que é o país da Europa onde a imprensa escrita tem mais força e onde os diários se multiplicam em várias regiões.

A verdade é que os grandes títulos deixaram de fidelizar leitores como acontecia noutros tempos. E a culpa não é do mercado, mas da forma como os editores continuam a trabalhar, privilegiando as notícias de Lisboa, próximas dos poderes da capital do reino, assim como o acompanhamento das figuras mais mediáticas graças ao papel das televisões que são um caso à parte no meio editorial.

A crise veio pôr a nu outro problema no jornalismo que é  a falta de profissionais com mérito, e também com liberdade editorial, para a formação da opinião pública. É evidente que cada vez mais os jornalistas se dividem nas suas opiniões entre esquerda e direita. Mas o que é mais grave é que falta cada vez mais quem nos conte o que se passa no país, quem leve a carta a Garcia; e no caso dos que só escrevem opinião nota-se, cada vez mais, que os jornalistas estão entrincheirados, ou porque são condicionados pela entidade patronal ou sem capacidade de saírem dos seus casulos. Não é discutindo a ética na profissão que se aprende a respeitá-la, mas é por demais evidente que falta essa discussão; os jornalistas parecem exercer uma profissão em extinção, nem a porra de um congresso conseguem organizar que não seja de dez em dez anos. E há outra coisa extraordinária na profissão: os poucos jornalistas que verdadeiramente se fazem ouvir e são lidos, regra geral também eles são estrelas de televisão.

Os meus 36 anos de actividade profissional, quase desde o início envolvido no movimento associativo a nível nacional, fazem com que já tenha saudades de muita gente que deu o corpo ao manifesto mas que, entretanto, desapareceu de cena vencido e, nalguns casos, verdadeiramente derrotado. Este texto não é exactamente para falar deles mas para lembrar que O MIRANTE continua a ser um projecto de jornalismo de proximidade graças aos ensinamentos que essa gente nos deu. É cada vez mais evidente que os jornais ditos nacionais jamais vão renovar-se; mas não podemos perder a esperança na força do mercado e na reinvenção de negócio. Nos últimos 15 anos fecharam centenas de jornais locais e regionais. O fecho desses jornais era tão previsível como o aumento da influência da Internet nas nossas leituras, incluindo as notícias. E não podia ser maior o aviso à navegação dos denominados almirantes da comunicação social.

“Há uma crise na formação da opinião pública”, diz José Luís Cebrian, porque “o populismo levou a melhor”, e os políticos esfregam as mãos de satisfeitos por verem que são cada vez menos escrutinados porque há cada vez menos jornalistas a escreverem sobre o que se passa no país. 

Uma última nota para dar conta que é minha convicção que um dia todos os jornais em Portugal copiarão o modelo de O MIRANTE, talvez fazendo melhor e com mais meios; se não o fizerem morrem no seu posto mas sem leitores. JAE.

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