quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Uma História de Natal que remete para o dia 25 de Abril

Quem é que não conhece a diferença entre cinema, documentário e jornalismo de reportagem? Falta pôr ao serviço da democracia portuguesa, para que o povo português não continue a ser apenas o único mau da fita, séries sobre os responsáveis pelo facto de Oliveira Salazar estar cada vez mais na moda, ou seja, haver cada vez mais gente com saudades do Pai Natal.


Tenho visto nos canais alternativos de televisão várias séries sobre corrupção na Europa dos últimos vinte anos. A que acabei de ver conta uma história de subfacturamento para que grandes falsários, feitos com os donos dos bancos, roubassem ao Estado dinamarquês milhões de euros. Há pouco tempo vi uma série francesa que contava a mesma história, mas de outra maneira. Na maioria dos casos são sempre jogadas de mestres que descobrem como roubar o Estado, usando os impostos e a devolução do IVA como artimanha para a gatunice. O mesmo se passa com algumas personalidades públicas que foram apanhadas nestes últimos anos em escândalos financeiros de vulto. As Netflixes desta vida fazem séries que nos ajudam a perceber o mundo em que vivemos e descobrem e desmascaram, entre ficção e realidade, quem nos governa e quem nos trama minando os regimes democráticos com os mesmos objectivos dos ditadores africanos, russos ou latinos. 

A indústria do cinema e da televisão em Portugal tem dinheiro para nos contar muitas histórias idênticas, que desde o 25 de Abril de 1974 minaram a democracia e atrasaram e atrasam o crescimento do país, mas, aparentemente, as produtoras de cinema e televisão ainda não têm liberdade para trabalhar. Não vejo outra razão para que não tenhamos já em televisão as vidas romanceadas dos trafulhas do regime, dos psicopatas que ganharam eleições graças a máquinas que outros psicopatas montaram e que funcionam na perfeição como funcionaram na altura.

Só nas últimas décadas tivemos um primeiro-ministro que se financiava com envelopes de dinheiro entregues pelo motorista, um administrador de um banco que foi preso, ou está preso por causa de um processo que envolve robalos e ferro velho, vários banqueiros que caíram do cavalo abaixo, um deles morto em fuga numa prisão num país distante, e o outro ainda vivo mas gravemente doente para mal dos seus pecados. Na retaguarda destes poderosos estão políticos e empresários considerados impolutos, intocáveis, ainda hoje sem sombra de pecado.

O povo, que somos nós todos, que fomos vítimas directa e indirectamente destes políticos e gestores, que com as suas artimanhas atrasaram tudo o que são políticas públicas de saúde, maternidade, combate a doenças crónicas, habitação, protecção na velhice, formação, etc, etc, não temos o prazer de os ver ficcionados nas séries de televisão, porque alguém ainda tem receio da Máfia que se instalou e ainda funciona. Não quero ser injusto com algumas reportagens escritas e televisivas que já levantaram muitos véus, mas quem é que não conhece a diferença entre cinema, documentário e jornalismo de reportagem? Falta pôr ao serviço da democracia portuguesa, para que o povo português não continue a ser apenas o único mau da fita, séries sobre os responsáveis pelo facto de Oliveira Salazar estar cada vez mais na moda, ou seja, haver cada vez mais gente com saudades do Pai Natal. Não é que o Pai Natal não tenha o direito à vida, mas por favor escrevam e filmem a vida dos sacanas que roubam o Estado com políticas mafiosas a pretexto de projectos para comboios de alta velocidade, aeroportos, companhias aéreas, centrais solares, venda de barragens e entrega do controle da energia eléctrica,  entre tantas e tantas malfeitorias de que o país tem sido vítima, e vai continuar a ser pelo andar da carruagem. JAE.

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