quarta-feira, 11 de julho de 2007

Uma viagem inesperada


Deixo aqui uma transcrição da Bíblia, do Livro da Sapiência, que Bunuel recorda na sua biografia ( edição Fenda) , numa homenagem a todos os ímpios como eu gostava de ser.Começo a leitura de um novo livro quase todos os dias. Quero um livro por dia como quero um sonho feliz todas as noites. Nem sempre consigo o livro e o sonho. Mas faço tudo para isso.
Um dia destes, enquanto lia entusiasmado uma biografia de Luís Bunuel, abri a internet e marquei para 24 horas depois uma viagem para Barcelona. Fui revisitar o mundo de Dali em Barcelona e Figueres. Aquilo interessa-me para manter a qualidade de vida. É verdade que ali para aqueles lados acabo por perder sempre mais tempo à procura da alma do Picasso do que do Dali ou de Miró. Mas a vida daquela gente interessa-me tanto como a minha própria vida. E, depois de descobrir Bunuel na sua biografia, com uma vida cheia e, tão ou mais interessante do que a dos pintores do seu tempo, não resisti e fui encher os caboucos para mais uma temporada.
(Porque os ímpios disseram para si próprios no descaminho do seu discurso: ) O tempo da nossa vida é curto e cheio de tédio; não há remédio contra a morte do homem e nunca se falou de alguém que tivesse regressado do sepulcro.
Porque nascemos da aventura, e seremos como se não tivéssemos sido, porque o sopro das nossas narinas é mero fumo e a nossa palavra é como uma faísca efémera que parte do nosso coração.
Quando se apagar, o nosso corpo será cinza e o espírito será dissipado como ar subtil.
E o nosso nome será esquecido com o tempo, e ninguém se recordará das nossas acções, e a nossa vida passará como o rasto de uma nuvem negra, dissolver-se-á como neblina afugentada pelos raios do sol e abatida pelo seu calor.
Porque o nosso tempo é como uma sombra que passa, e não é possível retirar o pé do nosso fim porque ele está selado, e ninguém regressa.
Venham e gozemos à grande dos bens que temos. Apressemo-nos a servir-nos das criaturas e da juventude.
Enchamo-nos do melhor vinho e de perfumes e não deixemos passar a flor da estação.
Sejamos coroados de botões de rosa antes que murchem.
Que nenhum de nós seja excluído dos nossos desvarios; deixemos em todo o lado marcas de prazer porque aí reside a nossa porção e o quinhão da nossa herança. JAE

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