quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A teia de aranha

Em Portugal há uma justiça para pobres e uma justiça para os ricos. Não é só ao nível dos tribunais e do acesso aos grandes gabinetes de advogados. É também nas questões culturais. Os portugueses regra geral têm medo das fardas e muito medo das togas. Neste capítulo vivemos quase todos como na idade da pedra.
Nos últimos tempos os governos socialistas aumentaram ainda mais a injustiça no acesso à justiça. Um cidadão que se queira defender até à última instância pode ter que gastar nas custas judiciais o equivalente a seis meses de ordenado. Mais de um terço da população portuguesa, contas por alto, é descriminada devido à sua situação social e económica num serviço público que faz toda a diferença numa sociedade verdadeiramente democrática. Em Portugal, por causa do estado da nossa Justiça, há muita gente a clamar por Salazar. Dói ouvir e dói ainda mais escrever. Mas quem anda por aí e ouve os cidadãos sabe com que nomes eles baptizam os nossos governantes que hoje dizem uma coisa e amanhã fazem outra. E, no entanto, o resultado é sempre o mesmo; os ricos ficam mais ricos e os pobres continuam a empobrecer.
Não há na sociedade portuguesa, nestas últimas dezenas de anos, um caso de provocação ao estado de desgraça em que estamos metidos como a eleição de António Marinho e Pinto para bastonário da Ordem dos Advogados. O livro que recentemente Marinho e Pinto publicou, contando aquilo que foi o seu mandato destes últimos três anos, é um relato que todos deviam conhecer para perceberem como este homem foi capaz, está a ser capaz, de mexer com os interesses mais obscuros e milionários que lixam a democracia em que vivemos. “Um combate desigual”, assim se chama o livro, vai ficar na história e ser matéria de estudo daqui a muitos anos quando as pessoas puderem interrogar-se como foi possível viver nos tempos de hoje num país tão triste e colonizado, tão corrupto e decadente, numa época em que a grande maioria dos países da Europa já resolveu há muitos anos, e em grande parte, as grandes questões, como a da Justiça, que fazem a diferença entre a nossa civilização e os tempos da barbárie.
No livro “Um combate desigual” Marinho e Pinto não só afronta os grandes interesses instalados como torna ridículas as calúnias e as infâmias que foram levantadas contra si depois de ganhar as eleições com um resultado histórico que deixou a concorrência em estado de choque.
O exercício do cargo de Bastonário, ou o exercício da cidadania, que neste livro se pode ler nas mais variadas formas, desde os textos que fazem a história do exercício de Bastonário até aos textos de opinião e discursos oficiais, todos eles são exercícios de luta e de uma grande coragem no combate por uma Justiça que não seja apenas uma teia de aranha que os fortes rompem facilmente e onde os fracos ficam presos e enredados, às vezes para toda a vida.

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