quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Dois encontros especiais

Na última quarta-feira fui a Torres Novas passear a pé pela cidade. Gosto de Torres Novas e guardo daquela cidade as melhores recordações da minha adolescência. Perdi-me por Torres Novas e fui dar um abraço ao senhor Fernando Duque Simões, da Fótica. Conversámos mais de uma hora numa esplanada de um café na rua da sua empresa fundada há mais de meio século. Comovi-me a certa altura quando ele me recordou a “folha de couve” que era O MIRANTE há vinte anos quando eu o escrevia, e editava, e angariava publicidade ao mesmo tempo. O Senhor Simões foi dos primeiros empresários fora do concelho da Chamusca a perceber que valia a pena investir em publicidade nas nossas páginas. E o jornal ainda era, timidamente, um órgão de informação para os principais concelhos do médio Tejo.
Comovi-me com o reencontro. Eu estou diferente como a noite do dia. Ele está igual; Homem inteligente, sereno, discreto, hoje como ontem adiando a entrevista prometida há anos. Comovi-me com as palavras elogiosas sabendo que ele falava do homem que eu fui e não do que sou. Quando lhe dei um abraço de despedida apeteceu-me arrumar o mundo em que vivo. Quero chegar à idade do Senhor Simões com a serenidade e o espírito lúcido que sempre lhe conheci e voltei a testemunhar neste reencontro. Não sei se vou ser capaz. A minha loja já não dá para uma rua antiga de uma cidade pacata onde todos os cidadãos se conhecem pelo nome e, a cada hora que se encontram, falam dos dramas e das alegrias que acabam de viver. Como, aliás, tive oportunidade de confirmar enquanto conversámos na esplanada.
No dia a seguir a este reencontro estive em Vila Franca de Xira, noite dentro, a moderar um debate sobre associativismo. Na mesa onde me sentei também estava Mário Calado, o presidente do Ateneu Vilafranquense. Sempre que falou da sua actividade associativa à frente do Ateneu recordou os anos de infância, adolescência e idade adulta, em que o Ateneu foi parte importante na sua formação como Homem. No meio de alguns depoimentos subiram-lhe as lágrimas aos olhos e disse com todas as palavras que o Ateneu tinha sido a coisa mais importante da sua vida.
Não conhecia o Senhor Mário Calado mas aquelas horas de convívio foram suficientes para perceber que ainda há gente muito boa para vestir a camisola por uma causa colectiva. Ouvi-lhe contar muitas histórias que fazem o dia-a-dia de um dirigente associativo, com problemas graves herdados de outras direcções, mas nunca lhe ouvi um remoque aos autarcas da terra, ou aqueles que deixaram o caminho dinamitado, ou sequer ao Governo do país que como todos sabemos ignora o associativismo quando não é praticado pelos senhores da CAP, da CIP, e de outras tantas organizações poderosas que o Governo controla quando quer com dinheiros para a formação, que se tornou o grande negócio do associativismo dos nossos dias.

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