quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

A luta pelo financiamento dos Media e a crise no jornalismo

Os novos projectos de comunicação social não precisam de gráficas, nem de negociarem o preço do papel, dos CTT, distribuidoras, e muito menos dos postos de venda. Mas os patrões querem resolver a crise pedindo ao Governo apoio para assinaturas e redução do IVA. Está tudo parado no tempo a ver a banda passar.


O associativismo empresarial ligado aos Media anda pela hora da morte. Numa altura em que os jornais perdem todos os anos 10% de circulação, os CTT têm os preços mais altos da Europa, as gráficas estão falidas e a distribuição já só tem uma empresa no mercado que é a VASP (só no ano passado a distribuição baixou cerca de 13% no conjunto de todas as publicações vendidas em banca).
Contra a crise os patrões propõem ao Governo a compra de pacotes de assinaturas para as escolas, vantagens no IVA, apoio no combate à iliteracia, enfim, uma série de reivindicações que já vêm de tempos antigos. E ainda bem, porque estas medidas não resolvem nada. Sem a publicidade do Turismo e de outras entidades do Estado, e sem o apoio às empresas de comunicação social a exemplo do apoio às empresas de outras áreas da cultura, é mais do que evidente que não vamos a lado nenhum. Se os jornalistas e empresários do sector não sabem que a classe política quer é câmaras de televisão atrás das suas comitivas, mais os jornalistas da LUSA e da RDP/ RTP que, mal ou bem, lhes fazem o serviço mínimo, quem é que vai conseguir compreender este mundo em mudança que vivemos todos os dias?
O jornal “Observador” é um bom exemplo da caducidade das propostas dos patrões dos Media: chegou ao mercado e venceu; com apoios de investidores ricos, é verdade, mas com a vantagem de não precisar das empresas da distribuição, de ensacamento, de plastificação, de endereçamento, das gráficas e dos CTT, que são o grande calcanhar de Aquiles da denominada imprensa tradicional. Como muito bem recordava recentemente um estudioso do sector, Nobre-Correia, o El País lançou em Novembro de 2013 uma edição diária digital em português destinada ao Brasil. É só um exemplo que serve às mil maravilhas para exemplificar o nosso amadorismo até a pedir apoios ao Governo.
A maioria dos jornais e rádios de referência têm as suas redacções em Lisboa e Porto e organizam-se sem equipas comerciais, mesmo depois de as Agências de Meios terem secado a distribuição do bolo publicitário. A solução para todos eles é irem à procura de publicidade por esse país fora. O problema é que a grande maioria dos patrões querem gerir a crise sem mudarem de gestão e de mentalidade. Outro exemplo da crise no sector que não é financeira mas de regime: a grande maioria dos jornalistas passa o dia de trabalho em Lisboa e no Porto a canibalizarem as notícias uns aos outros, regra geral relacionadas com aquilo que se passa nos corredores do poder, mais o que vai soprando das fontes policiais e tribunais onde os grandes processos, como o caso Marquês e tantos outros, vão dando para encher chouriços todos os dias.
 Arlindo Consolado Marques, cidadão de Mação e Torres Novas, faz mais pelo rio Tejo que todos os funcionários dos organismos oficiais. Os seus textos no Facebook geraram a maior onda de indignação sobre a poluição recente no Rio Tejo e seus afluentes. Arlindo trabalha todos os dias na sua profissão e nas horas livres dedica-se a uma missão que põe em sentido qualquer jornalista sentado à secretária a escrever sobre a deputada Joacine, André Ventura e companhia Lda., alguns dos bobos de serviço. Arlindo é o exemplo de que muitos jornais e jornalistas estão a mais no mercado. Por muito que se critiquem as redes sociais há gente a trabalhar mais nas horas livres pela defesa do país e do seu património do que muitos jornalistas encartados. JAE

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