quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Santarém é uma terra com pouca memória

Os 500 anos de Pedro Álvares Cabral são pretexto para recordarmos a fundação da Casa do Brasil em Santarém  e as guerras intestinas que os socialistas travaram na cidade que a fez ficar parada no tempo.   


O melhor presidente da câmara de Santarém a seguir ao 25 de Abril foi José Miguel Noras. Se não foi, o homem fez tudo para ser. Uma das suas iniciativas mais meritórias foi a fundação da Casa do Brasil em Santarém, que teve honras de visita do chefe de Estado brasileiro Fernando Henrique Cardoso. Só quem não percebe nada de política, e anda nisto para tratar dos seus interesses pessoais em primeiro lugar, é que passa ao lado destes assuntos sérios que fazem a diferença entre cidades prósperas e cidades moribundas. O trabalho de José Miguel Noras com a fundação da Casa do Brasil esfumou-se assim que Rui Barreiro assaltou o poder em Santarém. O espaço foi transformado no gabinete da vereadora Idália Moniz e, adeus Casa do Brasil. Estamos a falar de políticos do mesmo partido (PS) mas, nesta altura, a briga foi tão grande que José Miguel Noras só não recebeu ordem de prisão de Rui Barreiro porque o senhor era político e não chefe da polícia. Rui Barreiro só não desviou o curso do rio Tejo ali junto à Ribeira de Santarém, onde José Miguel Noras foi lavar a cara quando era criança, porque a obra era para um século e Barreiro, na altura, já sabia que não vivia tanto tempo para ver. Um dia alguém vai ter que contar estas histórias, algumas delas documentadas em crónicas de jornal, outras ainda na memória de todos os escalabitanos, ou de alguns, porque Santarém é definitivamente uma terra com memória muito, muito curta.

Indo ao que interessa: ainda em 2019 alertei os responsáveis políticos de Santarém para a data dos 500 anos da morte de Pedro Álvares Cabral. Pus-me várias vezes a jeito durante 2020 para dar corpo a uma iniciativa editorial que fizesse jus ao descobridor do Brasil e dos quatro cantos do mundo. Falei com quem de direito mas, como sempre, em Santarém manda quem pode e obedece quem quer.

Enquanto a maioria das cidades do mundo retoma a normalidade, Santarém tem o pessoal na toca, a começar nos homens que mandam nos assuntos da cultura. É uma tristeza franciscana, porque é a continuação da política de terra queimada que vem do tempo do senhor Rui Barreiro. Ele acabou com a Casa do Brasil mais a sua vereadora Idália Moniz, e agora podem passar mais 500 anos que o trabalho de José Miguel Noras nunca mais vai ter visibilidade ou cumprir o seu desígnio. É assim que se trabalha em Santarém quando se trata dos interesses dos cidadãos e das comunidades e do seu património físico e espiritual. Tiveste a ousadia de pôr em prática uma boa ideia que pode dar muitos frutos e queres ficar na História à minha custa se eu der andamento ao teu trabalho? Então já vais ver como elas te mordem; toma lá uma vereadora espertalhona, cega de ambições, a precisar de protagonismo, e vai lá montar a tenda na Casa do Brasil que um dia ainda chegas a banqueira. E não é que chegou mesmo?

É assim a vida. Um dia destes Idália Moniz ainda convida Rui Barreiro para assessor do Banco Montepio e as contas ficam saldadas. Entretanto Pedro Álvares Cabral fará mais um ano de morto, e a Igreja da Graça continuará a ser lugar de culto, mas só para uma minoria, à memória de um dos mais valorosos portugueses de todos os tempos. JAE.


Comentário à notícia: https://omirante.pt/cultura-e-lazer/2020-09-14-Nao-sabia-que-Santarem-tambem-tinha-uma-Casa-do-Brasil

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