quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Levar com as fardas em cima ao domingo no regresso a casa

Uma operação da GNR, que envolveu mais de seis centenas de militares, desviou ao final da tarde do último domingo todo o trânsito da A1 que seguia para sul. A operação foi na estação de serviço de Santarém e só as televisões tiveram honras de reportagem, curiosamente antes de tudo começar e haver condutores que esperaram três horas no local.


Quanto mais o tempo é de pandemia, de injustiças e de maiorias políticas mais se justifica uma comunicação social com bons jornalistas que ajudem a defender os valores de uma sociedade democrática.

Dou alguns exemplos: na passada semana O MIRANTE denunciou eventual corrupção no seio da GNR de Santarém. Dois guardas foram transferidos para postos secundários como castigo enquanto aguardam resultados do inquérito (O MIRANTE tem os nomes das localidades dos postos para onde foram transferidos mas por questões editoriais resolvemos não divulgar). Por causa da nossa notícia a GNR retaliou e não convidou O MIRANTE, como é hábito, para uma mega operação (espectáculo) que montou na estação de serviço entre Torres Novas e Santarém. Foram 4 horas de trabalho com condutores a queixarem-se que estiveram três horas retidos até serem fiscalizados. Tudo isto num domingo com milhares de pessoas a regressarem a casa depois do fim-de-semana na terrinha. Como é evidente as imagens passaram nas televisões. Mas não passaram os protestos daqueles que pagaram portagem para chegarem a casa mais cedo e levaram com as fardas em cima. Uma vergonha já que, aparentemente, as autoridades quiseram resolver num domingo, ao fim da tarde, aquilo que devem ir resolvendo durante vários domingos ao longo do ano. 


O triste espectáculo que as televisões nos deram da criança que esteve presa no fundo de um poço, numa cidade marroquina, é o pior exemplo do serviço televisivo dos últimos anos. A vida do Rayan não tem preço, assim como não tem a vida de outras crianças que a essa mesma hora que foi fatal para o menino marroquino, mais de 100 horas depois do sofrimento, morriam de fome, ou de armas na mão, na Síria, na Colômbia ou em Moçambique, só para citar três países de três continentes diferentes. O que as televisões portuguesas fizeram foi aumentar o número de pessoas que, depois de tantas horas de exploração dos seus sentimentos mais mórbidos, vão continuar a parar no trânsito quando vêem um acidente e não aceleram o carro sem apalpar o sangue das vítimas e arranhar o coração nos destroços dos veículos. 


A derrota de alguns partidos políticos nas últimas eleições legislativas fez cair da cadeira alguns deputados com assento parlamentar que parecia herdado do 25 de Abril como se o Dia da Liberdade fosse um dia mais especial para uns do que para outros. É o caso de António Filipe que já era deputado pelo PCP há 33 anos e que agora vai para casa coser meias. Entretanto a CDU perdeu o poder em Alpiarça, em Constância, em Coruche e na Chamusca, onde a pobre da vereadora que representa a foice e o martelo não consegue tempo sequer para ler os documentos que lhe chegam às mãos tarde e más horas e muito menos tem força e preparação política suficiente para fazer o seu trabalho solitário já que a CDU na Chamusca desapareceu do mapa. Quanto aos camaradas, desde que a câmara deixou de ser do partido do poder desaparecerem do mapa e parece que nunca existiram; alguns foi como se lhes tirassem um peso de cima e outros trabalham mais nos sindicatos onde ganham a vida. Se este PCP de hoje tem memória do que era o PCP de Carlos Brito, Álvaro Cunhal e Octávio Pato, macacos me mordam. JAE.

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