quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Ribatejo tem um único concelho que é laranja e um líder político distrital que é uma boa peça

O concelho de Ourém foi o único do distrito que não se coloriu de rosa; e é em Ourém que está instalado o quartel general do PSD distrital. Durante a campanha, o líder laranja João Moura ameaçou mudar o concelho de Ourém para o distrito de Leiria.

Na noite das eleições, enquanto as televisões repetiam com os seus convidados os mesmos comentários rebuscados de sempre, enchendo chouriços com previsões de bruxos, e uma dinâmica de reportagem igual à que se faz há meio século, revi um filme estreado em Toronto em 2018 que conta a vida da jornalista de guerra Marie Colvin, que morreu em 2012 a trabalhar debaixo de fogo numa reportagem na Síria. Maria Colvin foi a primeira jornalista ocidental a entrar em Homs e a denunciar o presidente sírio, Bashar al-Assad, que estava a bombardear o seu próprio povo. O filme acaba com a repórter a morrer entre destroços minutos antes de ter emitido a sua última reportagem para o The Sunday Times, contando os horrores da guerra e o sofrimento do povo.

O filme terminou a tempo de ouvir as declarações dos principais líderes dos partidos que conseguiram representação parlamentar nas eleições legislativas do último domingo. António Costa esmagou o PSD de Rui Rio e até no discurso de vitória foi igual a si próprio: não disse baboseiras; pelo contrário, mostrou-se receptivo para trabalhar com todos os partidos o que, sabemos todos, é discurso político puro e duro já que, na realidade, vai governar com a sua gente e vai mandar crescer a oposição enquanto é tempo.

Rui Rio mostrou no seu discurso porque perdeu as eleições e não esteve à altura de um PSD que teve em Sá Carneiro e em Passos Coelho dois líderes sem igual: a sua declaração resume-se às palavras: “sinceramente, se se confirmar a maioria absoluta do PS, não sei o que é que vou fazer no partido durante os próximos 4 anos”. E ficou por aqui, de tal modo que lhe permitiu o espectáculo que incluiu falar em alemão para um jornalista da RTP que lhe perguntou se se demitia do partido. Este Rio sempre trabalhou com as terceiras linhas do PSD, convencido que o poder em Portugal faz-se por ciclos, que Portugal é uma espécie de cidade do Porto um pouco maior,  e agora teve aquilo que merecia; vai tomar conta do gato que tem em casa e trabalhar para uma grande empresa que certamente vai facturar muito com ele.

Uma última nota para o líder da Iniciativa Liberal que, frente às camaras de televisão, teve uma emoção parecida com a de uma menina que recebe uma boneca Frosen: “vou ter um grupo parlamentar: nem quero acreditar”. André Ventura e os seus malucos espreitam estes políticos tolos, a começar na líder do PAN e a acabar no líder do CDS, que foi educado numa escola militar, mas nunca precisou de torcer o pescoço a uma galinha para depois a depenar, cozer e finalmente matar a fome.


O concelho de Ourém foi o único do distrito que não se coloriu de rosa. É em Ourém que está instalado o quartel general do PSD distrital que também preparou esta derrota estrondosa do partido e de Rui Rio. Durante a campanha, o líder laranja João Moura andou com os seus camaradas a ameaçar que se o PSD ganhasse e os socialistas não respeitassem o que o PSD anda a reivindicar para a CIM da Lezíria do Tejo mudava o concelho de Ourém para o distrito de Leiria. Esta ameaça foi feita numa reunião pedida pelos deputados do PSD a um líder socialista e não na CIM do Médio Tejo, a que pertence o concelho de Ourém, que por acaso também é presidido por uma socialista. Vá lá saber-se porquê, João Moura poupou a socialista Anabela Freitas, de Tomar, e veio desancar as suas frustrações em Pedro Ribeiro, de Almeirim. Mas a ameaça de João Moura tem uma volta na ponta que vale a pena deixar aqui bem à vista; se Ourém mudasse para o distrito de Leiria, João Moura chegava tanto a um lugar elegível nas listas do PSD nas eleições para a Assembleia da República, como eu um dia vou chegar a presidente do partido dele. O homem é esperto tanto quanto o seu compadre Rui Rufino; são verdadeiramente uma dupla para dar trabalho a quem um dia há-de escrever a história da futura Região Autónoma do Ribatejo. JAE.

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