quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Um aeroporto em Santarém seria um acto de coragem política

Portugal continua a ser um país de muitas realidades e injustiças. Um aeroporto em Santarém seria uma sapatada na crise e no despovoamento da região centro que é aquela que mais perde população.

O Norte de Portugal sempre foi o parente pobre do país. E continua a ser. O 25 de Abril não chegou a muitas aldeias e nunca chegará porque as aldeias ficaram em ruínas, os velhos morreram e os jovens fugiram para outras paragens. Foi do Norte que emigraram grande parte dos portugueses que povoaram o Brasil e emigraram para os quatro cantos do mundo.

Era do Norte que dantes chegavam ao Ribatejo e ao Alentejo os trabalhadores sazonais que agora vêm do Paquistão e do Bangladesh.

Esta semana em passeio por Peso da Régua, onde o Douro e a paisagem são o retrato de um país rico, um patrício desabafou com alguma ironia para um jovem casal em férias de Inverno: Ah são do Ribatejo! Vocês têm dinheiro para visitar a nossa região mas nós, infelizmente, ainda não ganhamos o suficiente para visitar a vossa, e muito menos para irmos de visita a Lisboa.

Esta é a verdade nua e crua. O despovoamento do Norte deu lugar ao do Alentejo, agora acentua-se no Ribatejo, e por aí vamos sem rei nem roque entregando as quintas, as terras de cultivo, as barragens, os montes e as serras aos estrangeiros que começam a explorar o negócio do turismo.


Quando recentemente o primeiro-ministro António Costa veio à Azinhaga percorrer 500 metros de estrada para ver as 100 oliveiras para José Saramago, e associar-se ao dia do seu centenário, colei-me às costas do ministro da Cultura e do editor de José Saramago, que andaram quase sempre em amena cavaqueira. Quem achar que o editor aproveitou para vender o seu peixe ao ministro desengane-se. A conversa foi sempre a bater no ceguinho, no gajo que escreve na revista Sábado que é um escroque, no outro que vai lá a casa mas é um vendido; tudo conversa de má língua que até deu pena.

António Costa nunca foi abordado para um convite, um favorzinho, um venha lá à minha freguesia ou mande lá um dos seus ministros. Só um velho autarca reformado se posicionou a meio do percurso para ser visto, e resultou, tendo bichanado por duas vezes ao ouvido do primeiro-ministro um convite para um lançamento de um livro mas bem longe da Azinhaga.


Vim escrevendo as pequenas memórias destes últimos dias até chegar aqui, a um espaço em Lisboa onde decorreu um grande debate sobre o destino do futuro aeroporto de Lisboa. Pode ser que me engane, mas isto está tudo na mesma como a lesma. Mudanças em Portugal , que não sejam as do tempo conforme vão mudando as estações do ano, é coisa rara nos homens políticos e de ideias. Já era assim no tempo de debandada dos portugueses para as américas, e depois para os países da Europa rica, e assim vai continuar, a confiar nos políticos que, como o autarca de Caminha, acham que vivem numa redoma e ninguém os apanha nas suas habilidades e santa ignorância.  


Com um aeroporto em Santarém, que de comboio fica a 30 minutos da capital, Santarém e toda a região Centro de Portugal, ganhava a lotaria; por mais incrível que pareça, as aldeias que mais perdem população nos dias de hoje estão precisamente na região Centro, e as que mais crescem desde há muitos anos estão na Área Metropolitana de Lisboa. Se não tivermos um Governo que dê uma sapatada na crise, ou seja, na descentralização dos grandes projectos estruturantes para o país, vamos a toda a brisa para a cauda da Europa e de lá nunca mais nos levantaremos. JAE.

Sem comentários:

Enviar um comentário