quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Domingos Chambel quis acabar com a NERSANT mas não acabou

A educação não vem (só) do berço; crónica para Domingos Chambel, o dirigente caceteiro que não se recandidatou à liderança da Nersant.

A minha educação não veio só do berço por muito que respeite a memória dos meus avós e dos meus pais. Para mim a educação veio da escola e do trabalho, ao mesmo tempo, já que comecei a trabalhar nas férias da primeira classe em fábricas de cortiça e de tomate. Na escola aprendi o que era a diferença de classes; no trabalho, um pouco mais tarde, aprendi como se enxofra, ou seja, como temos que dar o corpo às balas se queremos ser alguém na vida.

Já depois de ter tomado decisões arriscadas, numa vida empresarial que não me correu mal, procurei um Senhor com loja na Rua do Ouro, e escritório na Rua dos Sapateiros, em Lisboa, que só num dia me ensinou mais do que eu sabia de toda uma ainda curta vida. A aprendizagem foi simples e pode ser contada em duas linhas; queres mercadoria à consignação? toma lá e amanhã vens fazer contas e entregar o que não vendeste. O Homem só tinha falado uma vez comigo ao telefone; e de repente meteu-me na mão uma pequena fortuna que me dispenso de quantificar.

Uma vez entrei no seu gabinete com ele ao telefone; num repente bate com o auscultador e enquanto desliga a chamada diz num grito que ainda hoje me soa: “f*da-se, o dinheiro ensina-me a falar”. Pois foi com este Senhor que aprendi a ser destemido, embora o considerasse um fascista, uma pessoa que só vivia para ganhar dinheiro e ajoelhar-se uma vez por mês no Santuário de Fátima. Não foi isso que me impediu de ser seu amigo durante quase meio século e de ter tido o privilégio de o ver morrer de velho, fechar o seu negócio e as sobrinhas, nos últimos quatro anos, entregarem a sua fortuna aos abutres do negócio do metal precioso.

Tudo o que conto parece que foi ontem e muitos episódios que vivi têm quase meio século. Mas de ontem mesmo, tenho para contar a história do dirigente associativo Domingos Chambel que, enquanto presidente da Nersant, resolveu apontar-me o dedo e citar o meu nome em vários textos a propósito de um protocolo que assinei e renovei com a associação nos últimos 20 anos. O mafarrico, com o seu espírito de diabo endinheirado, foi para presidente da Nersant para ajustar contas comigo e com outros que, embora tenham mais razões que eu, não escrevem em jornais nem têm a obrigação de falar alto das patifarias dos homens que exercem cargos de interesse público. Conheço Domingos Chambel há 20 anos, mas só convivi com ele ao lado dos amigos comuns, que foram sempre os principais dirigentes da Nersant. Domingos Chambel viu chegar a sua vez de presidir à direcção da  Nersant e, em vez de continuar o bom trabalho dos seus amigos e antecessores, resolveu partir para uma guerra que durou quase  três anos e levou toda a gente à frente. Resultado; em três anos só fez asneiras, andou em batalha campal com todo o mundo, em tribunais a fazer queixas e a responder por queixas das pessoas que perseguiu. Só não acabou com a associação porque a Nersant tem uma fortuna em património e nem três chambéis conseguiriam levar a associação à falência. Agora, quando toda a gente já tinha comprado bilhete para ver como é que o ressabiado presidente ia sair do buraco onde se meteu, o mafarrico resolveu ficar em casa e entregar os problemas a outros.

Domingos Chambel é o melhor exemplo do empresário com sorte na vida, que por ter muito dinheiro acha que consegue comprar e dobrar a cerviz de toda a gente. Para ele só há duas classes; a dos que mandam e a dos que obedecem. E tudo pela força do dinheiro e não da inteligência, da coerência e da honestidade intelectual. Num regime totalitário Domingos Chambel mandava chicotear aqueles que considerasse inimigos ou que não o compreendessem na sua imensa ignorância.

Esta crónica não acaba aqui: Chambel vai ter que responder em tribunal por ter censurado a participação de dois jornalistas de O MIRANTE numa conferência de imprensa onde éramos o alvo da ordem de trabalhos. Contado ninguém acredita, mas foi verdade: Domingos Chambel deve ter vivido muito tempo nas catacumbas, onde guarda o seu dinheiro, mas também a ignorância que o impede de saber que vive num tempo em que é proibido proibir. JAE.

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