quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

A campanha eleitoral e os novos actores do circo

É triste ver e perceber como os políticos são os novos actores do circo, os palhaços de serviço, os animais amestrados que em vez de actuarem num palco dão espectáculo sentados à volta de uma mesa usando a arte de falarem todos ao mesmo tempo de assuntos que só interessam aos empresários do circo.


Em plena campanha eleitoral devo confessar que tenho evitado ao máximo ligar a televisão para acompanhar os debates. Como é sabido vivemos uma democracia amputada. Quanto mais a democracia portuguesa, nascida no dia 25 de Abril de 1974, vai ficando velha, mais problemas vai criando aos novos democratas. Recordo palavras e sentimentos do presidente da Câmara de Mação, que andou dois anos a caminho do tribunal por causa de uma publicação na sua página pessoal; e de uma condenação recente do ex-presidente da Câmara do Cartaxo, Pedro Miguel Ribeiro, por ter permitido uma publicação em tempo de campanha eleitoral no site da câmara municipal de uma iniciativa que deveria ser entendida como trabalho de divulgação. Os partidos políticos podem endividar-se a divulgarem o que quiserem em cartazes espalhados por tudo o que é avenida, rotunda, praça, beco, árvores e postes de electricidade; não há limites para a distribuição de publicidade no espaço público, assim como não há limites para o tamanho dos cartazes. Chega a ser pornográfico ver cartazes em cima de cartazes, em lugares onde o diabo não chegaria, e o olhar humano só vê e consegue ler uma pequena parte. Apesar de toda esta prática política, que na maioria dos casos é abusiva e contrária a tudo aquilo que são as boas práticas ambientais, continua a ser proibido aos partidos políticos usarem a comunicação social para publicitarem as suas ideias e propostas eleitorais. Há uma excepção para o anúncio de comícios ou iniciativas partidárias, mas não podem exceder determinados tamanhos e menos ainda fazerem apelo ao voto.

Escrito e contado ninguém acredita. Os políticos criam condições para que a publicidade tenha regras na comunicação social, regras bem definidas que não permitem qualquer tentativa de esclarecimento sobre situações que interessam às populações, nomeadamente nas áreas sociais, culturais e económicas; mas permitem o livre arbítrio a toda e qualquer publicidade de rua, mesmo que seja numa situação de crime ambiental, ponha em perigo o trânsito e seja um atentado aos bons costumes. 

Este ano comemoram-se os 50 anos do 25 de Abril. Meio século não foi suficiente para amadurecermos como povo e como país. Estamos a subir na classificação dos países da Europa onde não se investe no combate à corrupção. Na rua, em protesto, estão os funcionários dos tribunais, os médicos e enfermeiros, professores, polícias, inspectores de organismos do Estado como a ASAE, agricultores e etc; há um descontentamento generalizado sobre a actuação dos políticos e, em alguns casos, parece de propósito para gerar descontentamento. 

Como é fácil de constatar os partidos que tradicionalmente ocupam os cargos de poder começam a ficar pelo caminho por falta de renovação dos seus quadros porque se deixam minar por gente menos apta e alguns homens de negócios que são os Donos Disto Tudo.

Os debates nas televisões são a cara da nossa democracia: todos contra todos e ninguém mete o dedo na ferida porque a campanha eleitoral é para exercitar argumentos falasiosos e vender sorrisos e frases feitas em tempo recorde. Os políticos que aceitam participar neste tipo de debates estão reféns de um sistema que eles próprios criaram e alimentam. É triste ver e perceber como os políticos são os novos actores do circo, os palhaços de serviço, os animais amestrados que em vez de actuarem num palco dão espectáculo sentados à volta de uma mesa usando a arte de falarem todos ao mesmo tempo de assuntos que só interessam aos empresários do circo. JAE.

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