quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Conheço melhor Paris que Massamá

Uma crónica para partilhar que conheci Jorge O Mourão numa esquina de um bairro famoso, que aprendi a podar figueiras, que tenho a biblioteca mais desarrumada do que as ideias e que cada vez falho mais os meus compromissos de agenda incluindo a ida ao médico.


Na acção de formação de poda de figueiras que se realizou recentemente em Torres Novas (ver edição de O MIRANTE da passada semana) o almoço do engenheiro formador Rui Maia de Sousa foi passado a trabalhar. Como o dia era curto, e a prática no terreno não dava para conversas prolongadas, o almoço serviu às mil maravilhas para os formandos roubarem teoria ao mestre.

O que ninguém esperava era que a meio da tarde, numa demonstração junto de uma figueira, o mestre Rui Maia de Sousa respondesse a uma dúvida de uma formanda nos seguintes termos: “olhe, dez anos a aprender a podar podem ser poucos e ao fim desse tempo a sua conclusão pode ser a de que tem que voltar a aprender tudo de novo durante mais dez anos”. A frase pode não estar como foi dita mas está lá perto certamente.

Em tempo de campanha eleitoral dá para perceber que o engenheiro Rui Maia de Sousa não é candidato a nenhum cargo. Se fosse estava tramado. Quem reconhece que está sempre tudo por fazer, e só sabemos que nada sabemos, não pode ser político. Mas merece certamente a admiração que o pessoal de Torres Novas tem por ele, pelos seus conhecimentos e pela dedicação à causa do figueiral que dantes era uma indústria e hoje é uma das culturas que exige mais investimento e dedicação, assim como dimensão para poder ser rentável.


Esta semana falhei mais uma vez a inauguração da Cartoon Xira, voltei a atrasar a leitura dos jornais, tanto em papel como digitais, ainda não curei as minhas árvores nem acabei a poda, não consegui encontrar nas estantes da minha biblioteca um livrinho autografado do Professor Joaquim Veríssimo Serrão, que preciso para um trabalho urgente, não marquei duas consultas que ando a adiar desde o início do ano quando deixei de ter médico de família e descobri que conheço melhor a cidade de Paris que Massamá, uma localidade da Área Metropolitana de Lisboa, concelho de Sintra, que fica entre Queluz e Cacém. Foi lá que encontrei um café cheio de gente, onde prolonguei a tarde, depois de uma massagem terapêutica, a beber café e a comer um doce regional, com a curiosidade aguçada pelo ambiente que me conquistou. Num outro café, que é ao mesmo tempo cervejaria e casa de petiscos, encontrei a decorar uma parede o cachecol do Real (de Massamá) que o dono do estabelecimento diz que é o único emblema da casa juntamente com o da selecção nacional.

É claro que deixei muito mais agenda por cumprir, já que quanto mais trabalho mais trabalho deixo por fazer. Mas essa é a sina de quem vai descobrindo ao longo dos anos que “o caminho faz-se andando”, que “a verdadeira viagem é a do regresso” e que “o único caminho na vida é aquele que já caminhamos”.

Escrevo directamente no computador que cheira a IA, mas tenho ao meu lado um livrinho antigo a cheirar a mofo, de Rainer Maria Rilke, que escreve sobre Rodin, que trouxe de oferta da biblioteca de um amigo que visitei recentemente. Estou de tal modo vidrado com a sua leitura que bloqueei e perdi a vontade de acabar o artigo que comecei a escrever, para desespero de um novo amigo que conheci na viagem, que se chama Jorge O Mourão, um cineasta que já faz parte da história do cinema brasileiro, que passou uma tarde comigo e com mais dois amigos numa esplanada de rua do Bairro da Glória, no Rio de Janeiro, enquanto centenas de corpos quase nus, outros nem tanto, desfilavam à nossa volta brincando ao Carnaval. JAE.

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