quarta-feira, 7 de abril de 2010

O mercado ao domingo

No domingo fui ao mercado a Almeirim. Eram pouco mais de onze e meia e junto aos principais restaurantes da cidade já havia fila. Saí do carro para tirar uma foto quando percebi que a maior fila estava a desfazer-se. A razão era simples. O dono do restaurante acabava de abrir as portas. Acho espantosa esta dinâmica dos restaurantes da sopa da pedra. E fico cheio de inveja das pessoas que são capazes de fazer fila à porta de um restaurante antes do meio-dia. Eu não tenho paciência para esperar nem quando vou ao médico quanto mais para comer.
Confesso que sinto culpa quando vou ao mercado. Sinto-me no dever de ajudar os comerciantes de porta aberta da minha área de residência. São eles que pagam os impostos, que fazem publicidade nos jornais, que dão trabalho aos meus vizinhos, que dinamizam a economia da minha região. Mas a ida ao mercado é uma festa para os sentidos. Ninguém atrás de um balcão nos atende como no mercado. Em nenhuma loja podemos andar a ver os produtos de mãos atrás das costas e a perguntar preços e a cumprimentar quem passa e a observar pelo canto do olho os negócios dos outros compradores.
Em nenhuma loja de porta aberta me fazem o que um negociante desconhecido me fez no passado domingo. Comprei uma dúzia de queijos por 10 euros e, depois de provar uma pequena porção de queijo da ilha, o homem embrulhou um pedaço que pesava mais de duzentas gramas e mandou-me pôr dentro do saco. Gostou ? Então que lhe faça bom proveito, exclamou. Agradeci dez vezes e, enquanto me afastava do local olhei para trás outras dez vezes perguntando a mim próprio se o queijo não estaria fora da validade.
Andei meia hora a ver os pintos e os patos e os perus e não era para comprar. Mas apeteceu-me perceber os preços que estão a ser praticados e quem compra. E neste negócio, como em tantos outros, há sempre um feirante que é melhor a vender. Aos outros, mais disponíveis, massacrei com as perguntas habituais para saber em que mundo é que vivo.
O homem das árvores de fruto reconheceu-me de um telefonema que lhe fiz há dois meses a pedir preços. Depois de meia hora de conversa comprei 30 pés de árvore por metade do preço que já tinha apalavrado por fax. Ele justificou-se dizendo que uma coisa era a árvore envasada outra era retirá-la da terra e entregá-la no mesmo dia na Chamusca. Mas não me convenceu. Negócio é negócio e aquela meia hora de conversa foi suficiente para lhe fazer entender que ou ele baixava o preço ou perdia o cliente para um dos vizinhos do lado. E comprei metade do que lhe tinha dado a entender com o argumento de que para o ano quero fazer uma encomenda ainda maior. Claro que desta vez não fui ao mercado de fato de treino. A roupa também conta na hora de passarmos a credibilidade da nossa palavra e a certeza das nossas decisões.
A última história que merece ser contada passou-se com uma senhora que vendia bacelos. Eu quero comprar mas ainda não sei bem o que quero. A senhora estava lá para vender mas não estava preparada para falar com ignorantes na matéria. E a certa altura, depois de me ver passar tanta vez, quase que comprei só para compensar o seu olhar de infortúnio. Apesar do bacelo estar ao preço da uva mijona os euros que levava na carteira falaram mais alto que o sentimento.

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