quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Um país pouco seguro

Há 28 meses um carro de reportagem de O MIRANTE foi abalroado num cruzamento em Almeirim por um condutor que não parou a um sinal de Stop. Mais de dois anos depois, apesar da culpa logo assumida no local na presença da GNR, a companhia de seguros do condutor que originou o acidente não assumiu de imediato as suas responsabilidades. Como acontece na generalidade das vezes neste país de brandos costumes, tivemos que ir atrás do prejuízo. E fomos mesmo. E até tivemos direito  a um pedido de desculpas do Provedor do Cliente da companhia. Mas estava escrito que íamos continuar a ser tratados como a generalidade das companhias de seguros tratam os cidadãos inocentes. A conversa começou e acabou sem um intermediário pelo meio a dar a cara e a negociar olhos nos olhos. Tudo começou e acabou, por enquanto, no papel. E para não variar há-de acabar no tribunal que é o grande justiceiro para as grandes empresas, como é o caso das companhias de seguros, que falham na sua missão de servirem os cidadãos como manda a Constituição Portuguesa, uma das mais modernas do mundo.
Mais de três décadas depois da revolução dos cravos, da revolta dos capitães como Salgueiro Maia, que honra Santarém, um tribunal da cidade decidiu amordaçar a redacção de O MIRANTE aceitando uma providência cautelar que roça o ridículo e seria gozada em qualquer tribunal do primeiro mundo. Em Portugal amordaçaram-nos e fizeram-nos sentir medo de continuarmos o serviço público a que nos propusemos na convicção de que ainda vale a pena ter ideais, lutar por eles, viver do que se ganha honradamente à margem do sistema, e lutar por uma sociedade que não seja apenas aquela que os capitalistas da banca, das sociedades de advogados e dos seguros, entre outras, dominam descaradamente com a ajuda da classe política que exerce a profissão de lobista.
Apesar de termos sido amordaçados , e de este ser um caso único em Portugal, segundo julgamos saber, apesar das várias tentativas junto de pessoas importantes e influentes nas redacções de vários jornais, não conseguimos até hoje passar uma informação sobre o caso num outro órgão de comunicação social.
É fácil comprovar que este caso envergonha as companhias de seguros: que estamos na presença de um braço de ferro com recurso a um grande gabinete de advogados e com um pedido de um indemnização milionária que assusta qualquer cidadão indefeso e sem dinheiro para se defender em igualdade de circunstâncias. Mas quem trabalha num órgão de comunicação social como O MIRANTE não pode tremer perante as adversidades. Devemos ser os últimos  a virar as costas às dificuldades que sabemos serem comuns à generalidade dos cidadãos. Se somos vistos pelos leitores como um exemplo de coragem e de cidadania no exercício da nossa profissão, como é que íamos admitir que uma companhia de seguros fizesse gato-sapato de nós como faz todos os dias do cidadão indefeso?
Portugal tem uma das mais modernas constituições dos regimes republicanos, onde os direitos dos cidadãos estão consagrados num texto que não deixa margem para dúvidas sobre os nossos direitos. Mas a verdade é que ainda há muitos políticos, jornalistas, advogados e juízes que, com facilidade, fazem do texto da Constituição Portuguesa uma folha de couve que, diariamente, se dá aos coelhos criados em cativeiro.

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