quarta-feira, 26 de outubro de 2011

As portas que Abril abriu


“Se vem escrito no “almirante” é porque é verdade”. A frase é do antigo padre da minha terra e respondia, no final da missa dominical, à preocupação de uma paroquiana a propósito de uma notícia publicada em O MIRANTE que a senhora tratou pelo nome dado ao mais alto cargo da hierarquia da marinha.
Este episódio tem tantos anos quanto a primeira grande campanha de assinaturas por toda a região que começou a fazer deste jornal um projecto de referência. Enquanto os governos financiavam a cem por cento o envio pelo correio dos jornais de paróquia e associações de classe, entre outros de propriedade duvidosa, resolvemos dar valor ao dinheiro e, já que havia financiamento, que se fizesse bom uso dele. E assim, de campanha em campanha, vendemos e divulgamos este projecto editorial que se tornou um caso único no país pela área de abrangência e pela qualidade e diversidade da sua informação de proximidade.
Os que mordiam as nossas canelas e passavam o tempo a ladrar e a fazer queixinhas ao Arons de Carvalho ( secretário de estado da tutela durante muitos anos), e continuaram a trabalhar sempre dentro dos mesmos fatos de cerimónia, apertados nas cavas, esses , estão hoje mortos e enterrados. E os que não estão mortos andam por aí moribundos, de joelhos, tentando incentivar investidores para os seus projectos empresariais distribuindo as edições por cafés e supermercados de forma a manterem uma tiragem que não os envergonhe de vez. Enfim; antes de morrerem estrebucham que é a sorte de todos os moribundos.
Vivemos um tempo em que as grandes empresas começam a pagar para lermos as suas publicações. Acabo de pagar 15 euros pela assinatura de uma publicação de distribuição nacional cuja assinatura custa realmente 150 euros. É uma campanha de assinaturas dizem eles para me fidelizarem como leitor e mais tarde cobrarem o investimento. Nas bombas de gasolina oferecem-me um diário, no supermercado um semanário, nos hotéis as new magazines de prestigio. Com a crise dos mercados e a falta do investimento publicitário está tudo a fazer pela vidinha de forma a conquistarem leitores para disputarem junto das agências o reduzido bolo de publicidade. Nesta como noutras situações tivemos razão antes do tempo. O preço que pagamos está agora a ser-nos descontado.
O que mais me espanta neste mundo da comunicação não é a falta de visão dos empresários e dos jornalistas do mercado regional. Não é numa década, nem em duas ou três, que se acaba com o caciquismo e o analfabetismo de muitas classes profissionais. O que me incomoda é o Partido Socialista, um dos partidos mais importantes da nossa democracia, continuar a ter em Arons de Carvalho o rosto para a comunicação social do país. Lá vai ele para a ERC como se o PS não tivesse mais ninguém à altura de desempenhar um lugar bem renumerado. Esta gente não se enxerga. E já não se lembra das críticas que faziam aos velhos do Restelo do antigo regime de Salazar. Hão-de ser cadáveres e ainda hão-de ter fome das pétalas dos cravos de Abril.

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