quinta-feira, 28 de julho de 2022

Em defesa da política e dos políticos de Mação

A carta anónima que circula em Mação sujando o nome de Vasco Estrela e António Louro, dois autarcas de peso da região, é uma afronta que merece a solidariedade de quem vive e trabalha no território.

 

Em tempo de guerra não se limpam as espingardas. O ditado não se ajusta aos tempos de hoje porque estamos verdadeiramente em tempo de guerra mas as espingardas já são de outro tempo; agora as armas mais banais de destruição e morte são os mísseis. O que virá a seguir ninguém arrisca dizer, ou escrever, mas o comportamento dos líderes políticos europeus deixa muito a desejar para não temermos o pior. 

A forma como os países mais ricos da Europa estão dependentes da Rússia é uma situação que envergonha os nossos líderes políticos e faz tremer a nossa convicção europeísta, embora não abale os nossos propósitos de luta. A outro nível, mas igualmente um retrato desta Europa a várias velocidades, escrevo esta semana sobre o que se passa em Mação onde os autarcas estão a ser vítimas daquilo a que se deve chamar, com todas as letras, uma filha da putice; alguém enraivecido, chateado, eventualmente ressabiado com alguma questão pessoal com um dos dois autarcas mais conhecidos de Mação, resolveu espalhar um documento anónimo, que inclui as fotos dos políticos, molestando a honra e a dignidade de quem trabalha e desempenha um serviço público, embora remunerado, o que não lhe retira valor. Sabendo que o que está em causa é a o ordenamento do território, e Mação é, porventura, o território do país mais castigado pelos fogos, apetece dizer que vozes de burro não chegam ao céu; e antes mais um terrorista a escrever e a distribuir cartas anónimas do que um incendiário a tentar queimar a floresta que ainda resta no concelho de Mação e territórios vizinhos.

Faço da carta anónima amplamente copiada e divulgada assunto de crónica porque reconheço na grande maioria dos autarcas um trabalho hercúleo para cumprirem a sua missão e ainda terem vida pessoal e familiar. Nunca tive jeito para a política e não me vejo a exercer qualquer cargo simplesmente porque não tenho vocação e seria incapaz de cumprir as exigências que um cargo de dirigente político me obrigaria. Sei reconhecer nos dois autarcas de Mação competência e sentido de missão que enobrece a classe política, mas acima de tudo o trabalho que desenvolvem no concelho mais "negro" do país, onde ardeu nos últimos anos mais de 95% do território de floresta. Se tivermos em conta que o concelho tinha um plano inovador de combate a incêndios, que foi considerado exemplar na altura em que foi implementado, está tudo dito sobre as estratégias adoptadas em Portugal para o combate aos incêndios. Isso mesmo pode ser lido nesta edição, numa entrevista ao vice-presidente da câmara, que foi publicado em 25 de Junho de 2020 em O MIRANTE e que republicamos nesta edição na mesma página onde damos publicidade ao terrorista que resolveu incendiar os ânimos locais com a distribuição da carta anónima.

Se há autarcas que exercem o poder pelo poder, desprovido de qualquer objectivo concreto, sem a intenção de cumprirem um ideal político e prestarem um bom serviço à comunidade, esses não são certamente os dois experientes autarcas de Mação que têm trabalho feito e provas dadas. Não sou amigo de nenhum nem tenho com qualquer um deles uma relação próxima ou de proximidade; no entanto sei e vejo o suficiente para os defender desta amargura que estão a viver por serem líderes de uma comunidade que servem com a melhor da suas energias e competências. 

Acabo voltando à guerra que ainda nos vai deixar descalços; o facto de vermos a China e a India, os dois países mais populosos do mundo, a larga distância de todos os outros, a substituírem os países europeus como clientes do gás russo, era um bom pretexto para que os líderes europeus dessem a mão à palmatória e arrepiassem caminho nesta Europa governada à deriva. Infelizmente o que vemos é exactamente o contrário. Em Paris, como em Mação, podemos viver num território literalmente arrasado pelo fogo e quase sem valor comercial, ou num outro onde uma casa de habitação com 25 metros quadrados pode custar meio milhão de euros. JAE.

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