quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Viver no campo é um descanso e mais ainda se for perto da charneca

No campo já se fez a vindima, apanhou-se o trigo, o milho e o tomate, e a maioria das árvores de fruto já está a perder a folha

A litoralização do país e a desertificação dos territórios do interior só se explica porque vivemos num país governado por políticos impreparados, vaidosos, que facilmente se deixam manobrar pelo sistema capitalista e que, em alguns casos, não resistem à tentação de se deixarem corromper pelo sistema; não só por que alguns são mesmo corruptos, mas por que a maioria é incapaz, e não se rodeia de pessoas que os protejam das artimanhas dos oportunistas.

O melhor de Portugal está no interior e sempre esteve; é injusto o que está a acontecer no Alentejo e no centro do país, e o que já aconteceu e é irremediável numa boa parte do norte de Portugal, embora ainda seja a melhor parte do nosso território.

Fugi da cidade para o campo porque não suporto a vida citadina a tempo inteiro. Para fugir da cidade vale tudo, nem que seja ir à praia mesmo a chover ou caminhar à beira Tejo só para energizar as pernas.

Desta vez fui apanhar os últimos figos que os pardais deixaram para mim; são eles que estreiam os primeiros figos maduros e os que bicam os últimos que, embora de casca mais grossa, ainda são tão doces como os primeiros. No campo já se fez a vindima, apanhou-se o trigo, o milho e o tomate, e a maioria das árvores de fruto já está a perder a folha. Resta a oliveira onde os bagos de azeitona engrossam a olhos vistos, as romãzeiras, os dióspiros que em menos de uma semana vão ficar maduros demais, e os marmelos, principalmente das árvores da beira da estrada e dos valados, que ninguém apanha e acabam por apodrecer. Os marmelos e os figos que ficam nas árvores na nossa região são o melhor exemplo dos tempos que vivemos. Já não falo da azeitona que, em alguns casos, também não dá para a apanha; e muito menos falo do tempo em que os portugueses do Alentejo e do Ribatejo iam ao rabisco das uvas e do milho para matarem a fome e os marmelos e os figos da beira da estrada serviam para as nossas avós fazerem doce que durava para lá do Natal.

Agora que as uvas, o milho e as azeitonas se apanham com máquinas, o rabisco até se mete pelos olhos dentro; mas sou do tempo do rabisco da cortiça, o que quer dizer que já sou tão velho e enrugado que até fico com vergonha de escrever sobre temas que para alguns hão-de parecer ficção científica.  Viver no campo é um descanso e mais ainda se for perto da charneca ou da montanha; é aí que sabemos verdadeiramente que um dia "quando faltamos a nós próprios tudo nos falta". JAE .

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