quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Um crime no Tejo


No passado domingo, ao final da manhã, percorri de moto durante cerca de duas horas, o campo e a charneca da minha terra. Como viajo numa moto de todo-o-terreno, apesar dos 6oocc, ligo mais ao perigo que encontro na areia, nas curvas apertadas, nas pedras soltas dos caminhos, do que aos números do conta-quilómetros. O prazer é ultrapassar os obstáculos e não o limite de velocidade.
Na hora em que morria um pescador num areeiro do Porto do Carvão, na Chamusca, andava ali por perto a gozar o prazer de poder usufruir de um rio que corre quase à porta da minha casa. Perto do local onde morreu o pescador também eu ando muito a pé procurando pedras do rio matando o tempo e puxando pelo físico.
Não sei verdadeiramente o que esteve na origem da morte do infeliz pescador que veio de Ourém morrer à porta da minha casa. Mas sei que aquela exploração de areia devia estar vedada de forma a não causar acidentes. Aquele lago artificial criado pela exploração de areia é um atentado, uma armadilha para o cidadão, um crime no meio do leito de um rio que corre lento e encostado à outra margem quase a meio quilómetro de distância.
O grande lago do Porto do Carvão, onde morreu o pescador, devia estar protegido com uma vedação e com sinalização adequada a proibir a pesca e a aproximação de pessoas. As empresas de extracção de areia não podem usar o leito do rio como se fosse propriedade particular. Os cidadãos precisam que as autarquias cumpram o seu dever de fiscalização e obriguem os areeiros a implementarem regras de segurança em todo o perímetro das explorações. Quem procura o rio para os seus momentos de lazer não pode ser vítima de acidentes deste género.
Daqui por alguns dias já ninguém se lembra da morte deste homem. Os areeiros instalados no leito do rio vão continuar o seu negócio milionário fugindo ao investimento a que deveriam estar obrigados para protegerem os cidadãos e a própria natureza do espaço.
Este caso podia ser evitado. Há muito tempo que olho para aquele lago artificial e pergunto como é possível fechar os olhos àquela realidade.
Guardo tristes recordações de amigos de escola que morreram afogados nas águas do Tejo. Hoje, quando dou um mergulho, sei que o leito do Tejo mudou muito nos últimos anos e é muito mais seguro do que no meu tempo de criança. Sei exactamente onde a água corria de forma perigosa e os meus amigos perderam a vida. Como o Tejo ficou menos perigoso vieram os empresários de extracção de areia armadilhar o melhor lugar do mundo para passar uma tarde à pesca ou a apanhar gambozinos. Provavelmente os donos desta empresa passam os dias de verão à beira de piscinas privadas, em iates no meio do mar ou nas suas quintas com muros mais altos que muralhas. É o país que temos e estes são os empresários que merecemos.

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