quinta-feira, 3 de março de 2011

Uma vida perfeita

Sou obrigado a comer em restaurantes durante quase toda a semana de trabalho. Confesso que me sinto muito melhor em casa, à minha mesa, a comer um petisco que num restaurante a devorar o melhor manjar. Mas quem é que tem uma vida perfeita?
Na passada semana sentei-me à mesa pela primeira vez num restaurante a poucos metros do meu local de trabalho e fiquei surpreendido com a qualidade da comida. O restaurante tem uma clientela reduzida pelo que posso observar. Espreito quase todos os dias lá para dentro e pergunto-me certas coisas que agora não interessam para esta crónica. O assunto vem à baila porque eu já teria experimentado uma visita muito mais cedo se os donos do restaurante fizessem aquilo que eu chamo o marketing de vizinhança. Não tenho dúvidas que, logo a seguir à publicidade nos jornais, é a melhor forma de vender.

Um dos melhores restaurantes do Ribatejo mudou recentemente do Carregado para Arruda dos Vinhos e chama-se Kottada. Já lá fui algumas vezes em almoços de trabalho e posso confirmar a excelência do serviço e da comida. O seu proprietário, Fernando Arguelles, faz exactamente aquilo que eu mais aprecio num empresário destes tempos; sabendo que não é fácil telefonar a todos os amigos e conhecidos, aproveita a comunicação social para chegar aos seus clientes. O anúncio que tem sido publicado no nosso jornal não é nada comum e mostra o empenho e o prazer de alguém que sabe que não basta ter bons cozinheiros e excelentes chefes de mesa para manter um bom restaurante.

A meio da passada semana fui almoçar a um restaurante de Lisboa com um amigo dos jornais e da televisão.
É um daqueles restaurantes onde os ministros e ex-ministros ocupam noventa por cento das mesas. Quase no fim do almoço, já com a nossa conversa em dia, o meu amigo perguntou-me baixinho se eu estava a seguir a conversa de três marmanjos que estavam atrás dele. Eu disse que não e ele contou-me que os tipos tinham passado o almoço a formar o próximo governo do país. Ficou completo agora, disse-me ele com um sorriso, íamos já na sobremesa.
Escusado será dizer que a estrela da companhia era um ex-ministro que eu há 20 anos já ouvia ressonar no meio daquelas sessões muito chatas nos congressos da imprensa.
Ah! Falta escrever que comi uma posta de peixe grelhada. À mesa sou o mais perfeito dos cobardes; com uma ementa picassiana pela frente acabei por me render ao prato mais clássico.

Esta crónica é dedicada aos senhores Rui, Cândido e Aníbal, que nos últimos tempos me servem o almoço num restaurante do centro da cidade de Santarém, e conseguem, umas vezes com a comida e outras vezes com o atendimento, fazer passar a sensação de que almoço na minha casa. 

Sem comentários:

Enviar um comentário